Sabor de Pizza

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#03

Sabor de Pizza

Não é novidade para ninguém que a maioria de nós, que trabalhamos com o corpo, tem uma espécie de vida dupla. Trabalhar como stripper tem como ponto positivo o fato de não ser um emprego muito puxado. Dá para descansar e aproveitar o resto do dia como bem quisesse. Mas alguns rapazes não veem problemas em terem um segundo emprego.

Os motivos são variados. Pode ser para ganhar um dinheiro extra, seja para suprir suas necessidades ou querer mais dinheiro. Ou pode ser simplesmente para manter a discrição.

Por isso que fora da UH, sumimos na multidão. Quem nos vê no strip club, acha que nós vivemos unicamente de erotismo e não é bem assim. Passamos por rapazes comuns, sem nada de especiais. Aquele entregador de pizza que passou na sua casa, por exemplo, pode ter uma outra função bem mais interessante.

E era exatamente o que Jacob Robert, ou Jake, era. Ele já era entregador antes de se tornar stripper, e preferiu manter os dois empregos. Nenhum de nós sabia o porquê dele fazer isso. E também ninguém da pizzaria onde ele trabalhava sabia dos serviços extras que ele fazia. Uma especialidade nossa: saber bem esconder as coisas.

De qualquer forma, ninguém desconfiaria dele. Ele era um rapaz jovem de estatura baixa, rosto de garoto, loiro de cabelo curto, pele corada. Na rua, ele passava por um garoto comum, com uma vida comum. Mas por baixo das roupas, ele escondia um corpo bem definido. Sem uma gota de gordura.

Em outras palavras, ele poderia aparentar no máximo ser um "lolito". Um ator de filme teen, talvez. Mas um stripper? Jamais.

E mesmo sendo stripper, Jake gostava de ser motoboy. Não era uma vida das mais intensas, mas para ele não era chata. Apenas nos domingos era que o trabalho costumava ser mais intenso. Justamente no dia da semana em que a boate não abria, era que ele percorria NY inteira com a sua moto toda semana. E geralmente nos mesmos lugares porque a clientela não mudava muito.

Um desses clientes tradicionais era Jefferson, ele pedia pizza toda semana. Isso há cerca de um ano depois que eu iniciei na casa noturna. Era um solteirão com mais de trinta e cinco anos de idade, e cerca de um metro e oitenta de altura. Era parrudo, de cabelos pretos levemente espetados. Tinha um leve bigode e barba com alguns tímidos fios brancos.

A arte era a sua paixão. Ele passava horas no seu bagunçado e pequeno ateliê — que aliás não era mais bagunçado que o resto do apartamento — ficava pintando aquilo que lhe vinha a cabeça. As tintas e as telas eram suas melhoras amigas.

Em um certo domingo, já tinha anoitecido e lá estava ele com a cara nas telas. Sem camisa, com um avental cobrindo o seu torso, e vestindo uma bermuda velha bege por baixo. Naquele momento, ele não estava tão satisfeito. Ele pegava nos pincéis, pintava as telas, mas não se sentia feliz. Fazia cara feia, forçava sua mente a ter alguma ideia, mas ela não vinha.

Ele se sentou numa cadeira, pegou um pano, secou as mãos. Levantou a cabeça pra cima e respirou bem fundo. Se tinha uma coisa que o deixava bem aborrecido, era não ter ideia do que pintar. A irmã Louise, que dividia com ele o apartamento, entro na salinha. Fazia uma carinha de pena ao ver o irmão chateado.

— Dá um tempo nisso Jeff. Já faz um tempão que você tá aí e não consegue fazer nada.

— Eu tenho que conseguir. Eu tenho que pintar alguma coisa.

— Se você ficar muito tempo nervoso desse jeito sua cabeça explode. — Riu fraco — Não vai ter ideia nervoso desse jeito. — Disse se aproximando dele — Vem. Vamos pra sala. A gente come alguma coisa.

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