A Grande Sacada

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#10

A Grande Sacada

A crise é o último momento de nossas vidas em que queremos estar. Mas são esses momentos difíceis que expomos o nosso melhor, ou o nosso pior. É quando escolhemos se nos conformamos e aceitamos o destino ou arregaçamos as mangas para fazer diferente. E é na crise que vemos que está ao nosso lado.

A Utopia House é um sucesso inquestionável. Tantos anos lotando sempre com um público diferente dos outros strip clubs. Afinal, esse era um dos fatores que a tornavam única. Para muitos, a casa era um paraíso de desejo que apenas poucos poderiam presenciar de verdade.

Mas nem sempre foi assim. Teve alguns momentos em que a casa não fazia tanto sucesso. Era a famosa época das baixas. Às vezes duravam pouco, outras duravam até meses. Podia ser por motivos externos, ou por culpa da própria casa. Isso acontecia de vez em quando e ninguém podia controlar. Mas no final, a casa sempre voltava a lotar.

Há mais ou menos dois anos atrás, presenciei e vivenciei desses um momento de crise. Tive azar de fazer parte do time em um verão que não era um dos melhores que a casa já teve.

Mas... azar mesmo? Será? Melhor contar do começo.

Era mais um momento de baixa, fazia um mês que o movimento estava bem pouco. O público parecia se dispersar a cada semana. O que era estranho naquela época do ano, que sempre tem mais público. Principalmente os mais jovens. Todos esperavam uma melhora e ela não aparecia. Ninguém entendia o real motivo.

E para piorar tudo, Rocco viajou para Los Angeles e não voltou mais, pegou uma pneumonia brava e ficou um bom tempo de cama. Paul ficou preocupado e não parava mais na boate, vira e mexe ele fazia a ponte aérea para ver ele. Cabia a Brad, o faz-tudo da casa, segurar a barra de cuidar da casa pelo menos em algumas coisas básicas. Mas ele não tinha o conhecimento necessário pra substituir a altura, só quebrava um galho.

Era um homem enorme e parrudo. No começo de seus 40 anos. Seus cabelos pretos se completavam com a barba por fazer. Sempre com terno e gravara preta. Era simpático e fazia todo o serviço pesado na casa, inclusive ser segurança e hoster. Gente boa, se dava bem com todos. Mesmo que alguns strippers nem se importassem com ele. Mas sempre foi um bom homem.

Era uma noite qualquer quando todos estavam se preparando com a jornada de trabalho. Brad chegou ao camarim com uma sacola, com as roupas que tinha pegado da tinturaria e que nós usaríamos. Era um figurino simples, uma sunga preta com um colete de couro também preto.

— Nossa, demorou hein? — Disse Stuart — Aconteceu alguma coisa?

— O trânsito estava péssimo. — Brad respondeu — Mas também, a tinturaria fica lá do outro lado da cidade.

— É mesmo. Mas tá bom, ainda temos tempo.

Stu pegou as roupas assim que viu os outros pegando.

— Sério mesmo que você acha que tá bom? — Reid reclamou — Vamos ter que usar isso mesmo?

— E tem problema? — Eu perguntei.

— A gente já usou esse figurino umas mil vezes só esse mês.

— Você fala como se nunca repetíssemos figurino.

— Não é isso. É que já tá ficando chato. Toda noite a mesma coisa. As mesmas roupas, as mesmas coisas pra fazer. Nenhuma novidade. Por isso que a casa tá assim.

— Mas a culpa não é minha. — Brad retrucou — Garoto, eu só sigo ordens. O Paul disse o que a gente tem que fazer e a gente vai fazer.

— Cara, você sabe que a casa não tá em um bom momento. — Disse James — Rocco não tá aqui, Paul não tá aqui. — A gente tem que segurar as pontas com o que dá.

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