Sasuke e Sakura - A História Nunca Contada

Capítulo Dez

Pendências

*SASUKE

Não sei como vou para Konoha se não consigo nem me vestir sozinho. Depois de muita luta consigo tirar minha capa do rosto, mas mesmo depois de muita luta, a única coisa que consegui fazer foi deixar minhas roupas caírem. Tento acalmar minha respiração e com dificuldade limpo o suor da testa.

- Tem certeza que não quer ajuda?

Naruto pergunta com a cara mais lavada do mundo. Parece estar se divertindo bastante vendo minha luta com a capa. Naruto joga a cabeça para trás e dá uma gargalhada.

- Capa vs Sasuke. Capa, um. Sasuke, zero. O que acha, Sasuke? Bem legal, né?

Solto meu décimo sétimo rosnado e tento de novo. Naruto caminha até mim com um sorrisinho na cara que eu não gosto nem um pouco.

- Espera, deixa eu te ajudar, Sasukezinho.

Tento me desvencilhar de suas mãos, mas o que faço é cair de cara do colchão.

- Ahrg! Não toque em mim! Eu consi...

Naruto ignora meu aviso e me veste como se eu fosse um boneco de pano. Satisfeito com o resultado, ele dá um sorrisinho debochado e pega minha mão.

- Mas Sasuke, porque está se batendo?

Arregalo os olhos.

- Se você fizer isso, eu juro que te mato, e te jo... Ai!

Ele pega meu braço e com um movimento rápido, me bate com meu próprio braço. Sinto o gosto de sangue na boca, e vejo que acidentalmente mordi minha bochecha.

- Naruto! Vem aqui fora, agora!

Sakura grita do lado de fora, Naruto olha para mim, e depois para porta, e novamente para mim, calculando quanto tempo teria antes de Sakura entrar ali e o levar arrastado.
Ele dá um de seus sorrisos largos e olha para mim, malicioso.

- Vamos nos divertir bastante juntos, Sasuke. - Ele dá uma piscadela e sai da casa.

Faço uma nota mental para esfregar a cara de Naruto em estrume de vaca quando estiver 100% bem.
E por mais que ele tenha feito essa brincadeira estúpida comigo, não consigo sentir raiva dele. Naruto é assim, ninguém consegue ficar muito tempo chateado com ele.
Fico com raiva de mim mesmo por não conseguir ficar com raiva dele.
Tento sentar mais uma vez e chego até metade do caminho dessa vez. É como se a gravidade aumentasse para me levar ao chão mais uma vez. Entre minhas tentativas de buscar ar para meus pulmões, não escuto ou vejo Sakura entrando na cabana. Ela olha para mim, e eu vejo pena em seus olhos. Não sei porque, mas isso me incomoda. Não quero a pena dela, e nem a pena de ninguém.

- Veio assistir ao show também? - pergunto um pouco mais rude que o esperado.

Me arrependo quase instantaneamente. Seu olhar de pena é substituído por uma frieza enorme, e por mais que tente esconder, vejo a mágoa em seus olhos. Ela endireita sua postura e cruza os braços, uma postura clássica de "Não estou nem aí pra você!". Ela ergue o queixo e fala olhando intensamente para um jarro de plantas perto de mim.

- Pedi uma carruagem para levar você para vila. Não adianta reclamar, você vai. Em alguns minutos alguém vem pegar você. Faça uma boa viagem.

Ela fica mais alguns segundos, como se esperasse que eu falasse alguma coisa. Decepciona com meu silêncio, ela sai batendo a porta.

Não é que eu não queira falar com ela, é que eu não sei o que dizer. Nunca fui bom com palavras. E pelo jeito ela não quer mais saber de mim, tão tal que nem me olha mais nos olhos. Surpreso, percebo que realmente fiquei incomodado por ela não olhar para mim. Eu queria que ela me visse. Que ela olhasse para mim.
Queria ser visto por ela. Nunca senti esse sentimento antes, e isso me incomodou. Não gosto de não saber o que estou sentindo. O imprevisível me assusta.
Com um suspiro, olho pro teto tentando entender meus sentimentos.

* * *

Eu odeio me sentir impotente.
Depois de ter sido carregado até uma "carruagem" nada cheirosa, eu achava que não tinha humilhação pior.
Errado.
No momento em que eu o ouvi, meu sangue gelou, e eu tentei ao máximo me encolher. Não adiantou. Primeiro eu ouvi seus grito e logo em seguida um "Ele está aqui? Deixa comigo! Ele está no auge de sua juventude!"
Primeiro eu vejo uma cabeça com o penteado de cuia, e logo em seguida grossas sombrancelhas negras, que mais parecem duas largatas.
Guy sensei da um sorriso de orelha a orelha e em seguida uma piscadela nada sexy.
Eu solto um gemido já vendo o que vem pela frente.

- Sasuke!? Que beleza! Você voltou? Que bom! Estando no auge da sua juventude você deveria estar treinando! O que está fazendo dentro dessa carroça?! Venha, vamos plantar algumas bananeiras pra ver se está em forma!

Antes que ele pudesse encostar a mão em mim, Sakura aparece e da um sorriso de desculpas.

- Guy-sensei, Sasuke está em recuperação agora. Não vai poder se mover normalmente até um mês!

Depois de mais algumas desculpas, Sakura deixa um Guy sensei muito traumatizado para trás, e me leva para o lugar onde eu menos esperava.
O distrito dos Uchiha.
A carroça entra, com Sakura caminhando ao lado e tudo que posso ver é que está tudo mudado. O distrito está limpo e completamente vazio, o que me faz ter lembranças nada agradáveis.
A carroça para e o rosto de Sakura aparece.

- Bom, chegamos. - ela anuncia olhando ao redor. - Você vai ficar aqui com acompanhamento médico 24/7*. Primeiro vou ajudar você a se recuperar, depois vamos escolher em que casa vamos morar.

E assim que ela disse isso, várias perguntas inundaram minha cabeça. Acompanhamento 24/7? O que é isso, uma prisão domiciliar? Casa onde vamos morar?

Umedeço os lábios e faço uma pergunta que temo já saber a resposta.

- Acompanhamento médico por 24/7 significa que alguém vai estar morando comigo no período de um mês, certo?

Ela olha para o além da vila, provavelmente pensando o que dizer, então, finalmente ela balança positivamente a cabeça.

Fecho os olhos e conto até dez. Quando os abro vejo que ela está olhando para mim pela primeira vez. Meu rosto não deve ter uma expressão muito boa, pois ela desvia o olhar, parecendo muito interessada em uma pedra no chão.

Arrisco outra pergunta.

- E essa pessoa que vai morar comigo não seria...?

Não termino a pergunta com medo da resposta, inevitavelmente Sakura, aperta os lábios em uma linha rígida e responde minha pergunta não verbalizada.

- Sim, eu. Agora vamos, temos um longo caminho pela frente.

*24/7 significa 24 horas por 7 dias da semana.