Sasuke e Sakura - A História Nunca Contada

Capítulo Oito

Reencontro

*SASUKE

Minha consciência vai e volta. Não sei diferenciar o que é real e o que é sonho. Está tudo muito confuso na minha cabeça.
A única coisa que me faz ter a certeza que estou sonhando é a minha companhia.
Estou novamente no distrito dos Uchiha, Itachi está sentado ao meu lado com os pés no lago, comendo dangos e apreciando a luz do sol. Ele aponta em direção a margem oposta do lago e sorri para mim. Olho naquela direção e o que vejo faz meu sangue congelar.
O meu sonho não tem som, e tudo parece um pouco borrado, mas reconheço o que estou vendo com uma clareza surpreendente. Consigo sentir novamente o gosto de sangue na minha boca e a sensação do suor e do calor em minha pele.
O que vejo é uma das lembranças mais nítidas que tenho.
De Itachi morrendo.
Lá estou eu novamente, parado, sem ter pra onde correr enquanto Itachi se aproxima de mim com a mão levantada para arrancar meus olhos. Lembro da sensação congelante de medo que senti. O tipo de medo que te deixa paralisado da cabeça aos pés e te dá uma sensação de frio na espinha.
Itachi se aproxima de mim e fala palavras que já estão gravadas em minha mente a bastante tempo. Depois disso da um "peteleco" em minha testa, sorri e morre ainda com o sorriso do rosto.
O Itachi que está sentado ao meu lado, olha para mim sorrindo e fala, como não consigo ouvir, leio seus lábios.

- Está vendo, Sasuke? Você me matou.

Meu sonho muda e eu sou novamente um garotinho, mas ainda com todas as minhas memórias do presente. Mamãe está fazendo um curativo em minha bochecha e eu tento não chorar por causa da dor. Um flash de imagens passa diante de meus olhos.
Eu matando Itachi. Eu brigando com Naruto. Eu quebrando os braços de alguém. Eu ferindo Sakura.
Tudo isso vem e vai em uma fração de segundos.
Arregalo os olhos e respiro fundo.

- Itachi. Você precisa salvar Itachi, mamãe.

Mamãe olha pra mim e parece estar travando uma batalha mental. Então, finalmente sorri e fala.

- Sasuke - ela diz bem baixinho - Sou eu, Sakura. Sua mãe não está mais aqui, ela mo...

Não entendo o significado daquelas palavras. Vejo novamente o sangue de Itachi se espalhar no chão e respiro fundo outra vez. Parece que meus pulmões não conseguem pegar ar o suficiente. É como se eu estivesse me afogando nas lembranças.

- Mamãe! Mamãe, você tem que salva-lo! Itachi precisa de você. Precisa salva-lo de mim, mamãe! Eu...

Minha voz falha. Não consigo falar que estou destinado a matar Itachi. Como ela iria me olhar? Com nojo, vergonha, ódio ou até mesmo aversão. Não suportaria ver esse olhar no rosto de minha mãe.

Mamãe olha para mim com ternura e amor.

- Está tudo bem, Sasuke. Mamãe está aqui. Itachi está seguro, ele ama você. - ela fala com uma voz tão suave, que acaba me acalmando.

Começo a relaxar pensando em como mamãe cheira bem. Tem cheiro de rosas e maças. É engraçado, porque não lembro que mamãe cheirava a maçãs.
Meu sonho muda mais uma vez e eu me vejo ainda mais garoto, quando mamãe e eu tentamos fazer um bolo de aniversário para Itachi. Lembro de como foi difícil quebrar os ovos sem deixar cair uma casquinha dentro da mistura, de como minha mãe sorria toda vez que eu errava algum passo, ou quando derramei a farinha. Lembro de ela me deixar comer o restinho de massa de bolo da tijela e de como  Itachi fingiu surpresa ao ver o bolo todo mal decorado com o chocolate meio comido em cima do bolo. E de como nós rimos depois de comer o bolo.
Aquela é uma das melhores que eu tenho.
E novamente, essa lembrança feliz se quebrou quando vejo o sangue do meus pais encharcando a casa e Itachi me colocando em um genjutsu.

Murmuro para mim mesmo.

- Ele não devia me amar. Eu sou mal. Faço mal aos outros ao meu redor.

Mamãe escuta o que eu digo e seus olhos enchem de lágrimas, percebo que está tentando não chorar. Ela acaricia minha bochecha com a mão e sua pele é tão quente que quero que fique ali para sempre. Mamãe olha para mim e fala.

- Não, querido. Você não é mal, você somente não sabia. Você é uma pessoa boa Sasuke, só não sabe disso ainda.

Franzo as sombrancelhas e pergunto com a voz petulante.

- Então porque papai não gosta de mim?

Mamãe olha para mim sem saber o que falar e eu começo verdadeiramente a acreditar que papai não gosta de mim. Quando já estava sem esperança de que mamãe iria responder, ela sorri e fala com o dedo levantado como se fosse me ensinar uma lição.

- Bom Sasuke... Seu pai gosta bastante de você, ele apenas não demostra... - ela faz uma pausa pra ver se eu estou ouvindo, satisfeita ela volta a falar. - Seu pai... Ele, bom... Ele se orgulhava bastante de você, disso eu tenho certeza.

Sei que mamãe só falou isso para me fazer sentir melhor, mas fico feliz por ela se preocupar comigo. Olho para ela e torço para que ela veja o amor que sinto por ela, e a saudade que sinto a todo instante. Com a voz um pouco contida, porque falar de sentimentos nunca foi meu forte, digo baixinho.

- Sinto sua falta, mamãe. E do papai também.

Novamente, lágrimas vem aos seus olhos, e ela tenta não chorar por mim.

- Nós também sentimos sua falta, Sasuke. Muita mesmo.

Ela fala com tanta verdade, com tanta emoção que fica impossível não acreditar que essa mulher me ama de verdade. Fico pensando em seu sorriso por muito tempo, e não sei como e nem quando, mas minha consciência começa a voltar aos poucos e eu percebo que estou de olhos fechados.
Abro meus olhos e por um momento acho que ainda estou sonhando, porque nunca vi tanta beleza em um lugar só.
Vejo uma garota de cabelos rosas e olhos azuis-esverdeados olhando para a chama da vela. Seus cabelos curtos dão um charme a mais a seu belo rosto, e a luz da vela deixa sua pele com um aspecto cremoso, como se sua pele fosse lua derretida. Seus lábios estão entreabertos e sua respiração solta uma fumacinha de ar quando ela expira. Rapidamente percebo que ela não está aqui. Não mentalmente, sua cabeça está em outro lugar, e deuses, ela fica muito linda quando está sonhando acordada.
Sei que a conheço, e que tenho um laço forte com ela, mas toda vez que tento alcançar a memória ela escapa por entre meus dedos. Pode ter passado um minuto ou uma hora, mas olhar para ela não me deixa cansado. É como se ela fosse uma pintura, pronta para ser admirada por todos.
Ela desperta do seu estupor, piscando os olhos depressa, e respirando fundo. Ela olha pra mim, e eu fico sem fôlego.
Ela é como um anjo. Seu olhar é tão doce, tão cheio de vida que faz você querer olhar pra ela e servi-la. Ela prende seu olhar no meu e sinto uma eletricidade passando pelo meu corpo, ela desvia o olhar e cora. Queria ficar mais tempo olhando para ela, mas minha consciência de novo começa a se apagar e eu sonho com um prato cheio de maçãs cortadas.