Um chamado, uma lenda, uma criança

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Lance perdeu um pouco da atenção ao que seu pai lhe dizia, pensava no que os garotos do vilarejo haviam lhe dito de manhã, sobre o vendedor de espadas que apareceu por aquelas bandas, seu sonho sempre foi ter uma espada. Esfregou os olhos com as mãos, encarou novamente o pai com seus olhos grandes e a barba cobrindo parte do rosto de um senhor com rugas, mas que ao menos no olhar forte e intimidador não demonstrava sinal algum de velhice, tinha longos cabelos bem penteados para trás prateados como a lâmina de uma adaga, não pela idade e sim por outro motivo ao qual não costumava comentar. O jovem garoto olhava firme nos olhos do pai, mas não conseguiu interrompê-lo, queria ficar assim, olhando para ele, puxando aquela barba grossa que parecia nunca crescer mais que aquilo, gostava da companhia do pai, pois era raro tê-lo em casa por mais de algumas semanas, e quando isso acontecia a alegria não só em sua casa, mas na vizinhança toda era soberba.

O pai partiria pela manhã, mais uma vez havia recebido uma mensagem com urgência; ambos pai e filho continham o mesmo nome "Lancemonth Doviel" o senhor de cabelos prateados era capitão das tropas reais do reino Wisherlock1 além da cordilheira de montanhas, e sempre que o dever chamava era obrigado a se apresentar ao rei. O garoto estava triste, não só ele como o pai sabia que dessa vez era diferente, tinha algo muito estranho nesse chamado, pois na mensagem trazida por um dos condores reais, dizia apenas: "Venha depressa, encontramos o caminho... Depressa" não foi só pela repetição de uma das palavras, mas também pela cara que o pai havia feito quando leu o papel trazido pelo pássaro. O garoto era jovem, estava com seus oito anos de idade e seu pai que já estava um tanto maltratado pelo tempo não se encontrava mais em condições de batalhar pelo seu reino como antigamente o fazia, suas costas doíam, e começava a reclamar do peso que a espada causava. Mesmo assim não desistia, continuava sempre com um sorriso no rosto e tentava disfarçar qualquer tipo de tristeza que aquilo pudesse lhe causar, era também grande amigo do rei, claro, desde sua adolescência ele e o rei haviam criado aquele reinado juntos, lado a lado em muitas batalhas. Não estava disposto ir, queria passar mais tempo com sua família e é claro com o seu filho, e por mais que tentasse só agora percebeu que o garoto já passava da altura de sua cintura. Moravam no vilarejo gelado de Nômiha, um lugar isolado além da cordilheira de Shoria2, onde costumava fazer frio o ano todo. No quarto estava pai, filho e também a mãe do garoto, Melyssa Aestroud, uma mulher formada nas artes da magia e também conhecida por ter escrito alguns dos melhores livros de sua geração, a mulher tinha cabelos longos e vermelhos, era pálida como a neve e tinha bochechas rosadas e arredondadas, de olhar calmo e tranquilo era doce e transpassava serenidade, tinha uma pele delicada e era tão bela quanto uma ninfa das histórias dos bardos; o pai encarou o filho, retirou o cabelo da frente dos olhos, segurou as mãos da criança e disse:

- Escute "Lance", Amanhã eu vou ter de ir logo cedo ao castelo, o rei precisa de mim mais uma vez.

O filho fez uma cara de desgosto, tentando retirar sua mão da mão do pai com força, esforço em vão, sem sucesso o garoto voltou o rosto para o lado, sem perceber que seus olhos lacrimejavam sem parar, esforçando-se para não chorar respondeu ao pai:

- Eu sei papai, mas o senhor nunca ficou tanto tempo assim conosco, comecei a achar que desta vez seria para sempre.

- E vai ser meu filho, em breve encontraremos um oficial melhor do que eu, ele ficara em meu lugar e eu poderei me aposentar, e seremos então uma família de verdade - o pai não apostava muito nisso, mas queria realmente que fosse verdade, após ver as lágrimas do filho, as dele começaram a lhe descer a face, pela primeira vez ele começava a achar que realmente não voltaria para casa.

- Uma família de verdade? Tem certeza que é possível papai, mal posso esperar, mas, por favor, fique pelo menos mais uns dias - O garoto o encarou com tal dor no peito que isso resplandeceu em seu rosto, suas lágrimas se libertaram, e ele segurou as mãos do pai suplicando pelos últimos dias juntos.

A ESTRELA DO DRAGÃO - A DIVINA RIVALIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora