Intuito de um herdeiro - Parte dois

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O Homem magro estava a escalar as montanhas altas e áridas do sul do continente, já havia se passado trinta e seis dias pelas suas contas que estava por aquelas bandas, alguma coisa o dizia que existia algo no alto daqueles picos, um pressentimento, uma voz muda, saltava com habilidade de uma rocha a outra, parecia não ter medo de cair, quando pousava em alguma rocha, suas pernas tão magras quanto seus braços tremiam, mas não perdiam o equilíbrio, levava consigo um semblante sério, subiu mais alguns lances de pedras traiçoeiramente esculpidas pelo tempo com piruetas majestosas e caiu flexionando os joelhos no topo da montanha mais alta que encontrou em todo a cadeia, as montanhas aqui não tinham sequer um cisco de neve, eram secas, de rocha pura e avermelhada. De lá de cima pôde ver as longínquas elevações dos reinos a perder de vista, o sol estava a se pôr detrás das ilusões do crepúsculo. Sentou-se e iniciou uma oração aos deuses dragões, e logo derrubou riscos de lamento pela maçã de seu rosto, tinha as bochechas fundas por onde as lágrimas entravam e continuavam seu curso rumo ao seu queixo, Zorbak era como o chamavam, o número dois dos Cavaleiros da Frustração. Até que anoitecesse o homem ficou ali imóvel enquanto exorava aos deuses e abaixo de onde estava havia algumas aves grandes pousadas também nos outros picos que faziam uma armadilha de lanças de pedra para qualquer um que dali despencasse; pareciam incomodadas com a presença do cavaleiro, queriam obviamente proteger seu território, tinha plumagens cor de chumbo com duas grandes riscas pelas asas que se encontravam em suas costas, suas pernas eram fortes e o seu peito era estufado seu tamanho poderia chegar a quase dois metros, seu pescoço era comprido e o bico era curvado e vermelho, e o mais estranho desta ave, ela continha dentes. A cada leva de instantes mais pássaros apareciam, até que Zorbak percebeu ter pouco mais de doze animais, com certeza era uma família inteira, calmo e ainda na posição de meditação pensou "Aves Garuda! Achei que estivessem extintas" aguardou sentado, as aves em um movimento único alçaram voo e lançaram-se para cima do cavaleiro que saltou em direção ao abismo seguido por toda a família de garudas, enquanto caía, forçou a visão para ter certeza de onde pisava, um passo em falso no quase total escuro da ocasião e desabaria para a morte certa, avaliou o terreno num piscar de olhos e pousou do salto numa rocha frágil que despedaçou pela metade, deixando-o apoiado em apenas uma das pernas, os pássaros acostumados a caçar em a qualquer hora do dia avançavam sem hesitar, ferozes e agora também pareciam famintos, seus gritos eram como o de gralhas e seus dentes eram afiados e finos como facas, feitos para rasgar o couro de qualquer animal de pelos. Zorbak puxou suas duas espadelas da cintura, aquelas estranhas espadas em formato de duas meias luas curvadas, abriu os braços e esperou a aproximação fatal das garudas, saltou mais uma vez jogando o corpo para trás e girou, girou e girou o corpo com as espadas apontadas para todos os lados, era uma guilhotina giratória humana, seu corpo ficou por vários segundos no ar, e o movimento do seu corpo parecia o fazer flutuar, sangue pintava abstratamente as rochas no escuro, gralhadas e mais gralhadas podiam ser ouvidas e penas pelo ar terminavam o cenário do abatedouro, quando não sentiu mais atrito em suas armas seu giro ficou mais lento gradativamente até parar no ar na mesma posição que antecedeu seu salto, e então desceu leve como uma pluma até seus pés tocarem novamente a rocha. Então o homem guardou suas espadelas e chorou novamente enquanto implorava o perdão divino.

Desceu escorregando fácil e levemente pelas encostas das montanhas até encontrar uma gruta, começava a ficar frio enquanto a noite avançava, uma fogueira simples de galhos secos que era a única vegetação daquele lugar foi feita por ele, e um pequeno pedaço de carne de uma das aves foi assado para saciar a sua fome, adormeceu na mesma gruta e desejou ter um dia melhor ao acordar, teve pesadelos horripilantes, sombrios e com diversas mortes de pessoas que passaram por sua vida em um passado próximo, em algumas vezes estes pesadelos aconteciam no céu em meio às nuvens. Zorbak acordou e fez suas orações matinais, levantou-se e não sentiu fome, o sol acabara de aparecer e ele continuou rápido e decidido pelos picos de pedra, em um momento havia uma área baixa no nível normal da terra, era sem dúvida um lugar estranho, no meio das montanhas sem nenhuma trilha para entrar ou sair daquele isolamento, apenas uma área separada sem elevações, aquilo chamou a atenção do cavaleiro frustrado, direcionou-se para lá imediatamente e percebeu que ali crescia alguma vegetação térrea, existiam árvores que apesar de bem secas ainda continham vida, e também uma casinha de paredes simples de finos galhos e barro feito totalmente de modo artesanal. Caiu levemente na grama bege parcial do terreno e andou temeroso a passos curtos, avaliava cada detalhe do contexto da casa, não havia poço ao lado da pequena residência, o que lhe dava a certeza de que não era possível ter alguém vivendo ali, tratava-se apenas de um abrigo momentâneo talvez, era difícil sair dali para conseguir água, já que não havia caminhos de entrada ou saída além de pedra bruta e íngreme. Quando chegou a porta da pequena residencia levantou a mão direita e fez menção de bater mas uma voz atrás dele falou:

A ESTRELA DO DRAGÃO - A DIVINA RIVALIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora