E lá estava o homem, entrou no quarto, acendeu um candeeiro com um fósforo e sentou-se na cama, descansou a lança comprida que trazia nas mãos na parede ao seu lado e descalçou as botas revelando algumas bolhas sob a sola de seus pés; fora um dia cansativo, parecia nunca se acostumar a andar sozinho e talvez por isso não havia sido um dia lucrativo, procurou por toda a cidade onde estava de passagem, visitou pessoas e colheu informações com vendedores, nada que pudesse ser útil na sua busca, retirou a túnica com dificuldade por estar suada ficando com o peito nu e afrouxou o cinto que apertava sua barriga. Seu nome era Corbak, o homem era gordo, por isso qualquer caminhada o cansava; respirou fundo recuperando o ar e só então soltou as luvas, estava exausto, deitou-se na cama e ficou a fitar o teto aguardando o sono, a iluminação das velas era precária, mas podia ver que o quarto não possuía nada além de dois móveis, sendo um o que descansava e o outro um criado-mudo onde estavam as velas, pensou "Pelo preço que paguei faz sentido ser um quarto tão simples" suspirou e começou a chorar baixinho e solitariamente, sentia saudades dos irmãos, assoou o nariz com um lenço encontrado em um dos bolsos da calça e secou o rosto em seguida. Quatro batidas na porta o alertaram que alguém do outro lado vinha lhe incomodar, não fez questão de vestir roupa alguma, abriu a porta após passar o braço pelos olhos secando as lágrimas e um cheiro podre invadiu o quarto da pequena pousada onde estava alojado.
Do outro lado estava um rapaz jovem de cabeça baixa, tinha cabelos pretos e levemente ondulados que pareciam molhados, sua pele era extremamente branca, algo fora do comum, O homem gordo reparou também que se vestia de um modo diferenciado, era como uma roupa única negra dos pés ao pescoço e bem apertada ao corpo que parecia feita de couro velho, várias tiras seguiam os contornos do indivíduo terminando sempre em uma fivela prateada, em seu pescoço também tinha uma fivela e um brasão com o formato de um pequeno dragão de cabeça e asas abaixadas gravado nele, uma bainha que se fundia com a roupa segurava uma espada longa, curvada e fina na sua cintura, o cabo da espada era simples como o material da bainha. Apenas suas mãos e parte do seu rosto por trás dos fios de cabelo podiam ser vistos, um detalhe importante eram as suas unhas que estavam roxeadas como se o sangue tivesse coagulado nas pontas de seus dedos, seus braços e pernas eram muito magros, porém seu torso parecia um pouco mais forte, o jovem vestido de preto respirava fundo a cada puxada de ar, levantou a cabeça e revelou olhos escuros como ônix num olhar demasiado sério e desprezador, um nariz pontudo completava sua feição exótica, sua boca revelou algumas palavras ditas de má vontade, e sua voz era como a do pior dos ogros, como uma junção de bestas e feras numa pergunta:
- Corbak?
Corbak levou a mão ao nariz e passou a respirar pela boca para não aspirar o fedor podre, respondeu:
- Sim, o que deseja de mim rapaz? Já paguei a estalagem, não quero que me aborreçam.
- Um dos três cavaleiros da frustração? - Voltou a perguntar o rapaz sem mexer nenhum músculo e com seus olhos fixos nos olhos de Corbak.
O homem gordo foi tomado por uma tristeza estarrecedora e uma vontade tremenda de chorar ao escutar a pergunta, seguidos por um desespero extraordinário. Pouquíssimas pessoas o conheciam como um dos três cavaleiros frustrados, e havia feito o possível para esconder tal título. Rápido como uma lebre Corbak deu um salto para trás agarrando ainda no ar a lança que estava recostada na parede, o impacto do seu corpo fez a cama ser jogada contra a parede despedaçando madeira para todos os lados, mas o candeeiro continuava aceso pela proteção de vidro apesar de vacilar por um instante. Quando o homem gordo conseguiu ficar em posição de batalha engoliu em seco, o homem magro de preto não havia sequer piscado, apenas continuava a encará-lo friamente, lágrimas desciam dos olhos do cavaleiro frustrado quando esbravejou contra o rapaz:
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A ESTRELA DO DRAGÃO - A DIVINA RIVALIDADE
Fantasy"Cinzas cairão do céu quando o último dos seis dragões cair, guerreiros chorarão enquanto outros irão comemorar a tormenta vencida, as raças entrarão em conflito, o vento rufará em tufões que arrebatarão árvores e montanhas, as águas irão subir em o...