A ESTRELA DO DRAGÃO - A DIVINA RIVALIDADE

Conselho

A fadiga fez o rapaz de cabelo ruivo ficar mais alguns instantes na cama quando Férhoul veio lhe acordar, refletiu estes poucos instantes sobre como seria a reunião do vilarejo, estava ansioso, era algo muito importante para ele, afinal apenas alguns escolhidos mais antigos podiam opinar sobre a decisão a ser tomada dali para frente, levantou-se, olhou de relance a bagunça no cômodo "é melhor arrumar isso tudo quando eu voltar" pensou, calçou suas botas e amarrou os cabelos que haviam bagunçado durante a noite, o que deu a ele um ar de acabado quando viu seu reflexo na água ao lavar o rosto, encarou o pequeno pedaço de metal que usava para ver seu reflexo localizado logo acima da bacia com água e reparou em como os pelos do seu rosto haviam crescido nos últimos meses, foi até o quarto do pai que já estava de pé e pediu a ele uma navalha emprestada o que fez o homem de meia idade prender um riso, mas entregou o instrumento ao filho fingindo estar o mais sério possível e advertindo-o "Tenha cuidado, pode se ferir com isso" Lance riu e concordou "Sim posso, mas quero mostrar boa aparência hoje" andou de volta até seu quarto e cobriu seu rosto em frente ao espelho com sabão, até mesmo onde ainda não havia pelos, desajeitadamente segurou a navalha com a mão direita e raspou cuidadosamente a navalha de cima para baixo do lado direito do rosto e viu que era complicado se movimentar frente ao seu reflexo, pois seus movimentos pareciam o contrariar. Observou a parte raspada pela lâmina e se contentou com o resultado, estava rente e liso, então tentou novamente ao lado donde havia feito o último movimento, desceu cuidadosamente a lâmina, mas desta vez seguiu até chegar ao pescoço, onde ingenuamente puxou a navalha pela lateral do rosto causando um corte não muito profundo, mas que começou a sangrar, o que apavorou o rapaz, soltou a navalha em cima do primeiro móvel que viu, levando a mão ao pescoço tentando estancar o pequeno sangramento, encheu as mãos com um pouco de água e jogou em cima do ferimento o que fez arder como brasa, limpou o excesso de sabão no rosto praguejando a ardência do corte, decidiu deixar de lado a ideia de se barbear; o garoto soltou um grito abafado para não assustar os pais, friccionou com a ponta do dedo o ferimento que em alguns minutos parou de sangrar, deixando um risco avermelhado no pescoço do rapaz que levou a navalha de volta ao quarto do pai que já não estava lá e a guardou em uma das gavetas do pequeno criado-mudo de madeira maciça.

Seguiu pelo corredor em direção à cozinha, lá estavam o pai e a mãe sentados tomando café, os quais olharam rispidamente para o rosto do filho quando adentrou o cômodo, olhando para o lado direito tentando esconder o magnífico feito em seu pescoço, encheu uma caneca de leite quente e continuou de costas para os pais, Mell chamou "Está tudo bem meu filho?" A qual foi respondida quando o rapaz se virou "Sim mamãe, eu apenas..." Quando os pais viram um corte vermelho no pescoço e a barba fina sobre-feita no rosto de Lance caíram em uma gargalhada alta e bem-humorada, o rapaz não se aguentou e riu com os dois também. O pai então ainda rindo muito ofereceu ajuda ao filho "Posso terminar o trabalho mal feito, mas não posso reparar o corte, vamos busque a navalha novamente que eu vou terminar o que começou" O rapaz atendeu e buscou-a entregando-a nas mãos do pai, que o fez sentar na cadeira ali mesmo na cozinha e erguer a cabeça o máximo que pudesse, passou sabão nas mãos e as esfregou rapidamente uma contra a outra, criando uma espuma branca que passou em parte do rosto do rapaz, então com uma técnica de décadas de experiência, trabalhou o rosto do filho com movimentos rápidos, porém cautelosos, e em alguns minutos estava liso e bem-acabado, fez então o mesmo com o restante do rosto. Lance se levantou e lavou o rosto, cada vez que passava as mãos pelo rosto sentia-o mais sensível ao toque e liso como não sentia há alguns anos. O rapaz gradeceu aos pais e foi vestir sua melhor roupa, era uma bota quase nova que conseguira comprar a pouco tempo atrás com um bom esforço nas terras do pai, uma calça marrom de um tecido um pouco mais macio que a de costume e uma túnica que sua mãe havia lhe feito ainda naquele mês a qual ainda não havia usado. Penteou os cabelos e os deixou soltos, encontrou o pai na sala vestido como de costume, nada de novo nem especifico, então se despediram da mãe dizendo que voltavam em breve e se encaminharam debaixo do sol escaldante ao casarão central do vilarejo, na verdade era um galpão abandonado há anos, e que ninguém vira necessidade de utilizá-lo para nada, porém há algum tempo era usado para reuniões. Não foram os primeiros a chegar, porém também não eram os últimos, Lance teve uma surpresa, Deric também se encontrava com seu pai o que fez lance se sentir um tanto mais à vontade, percebeu também que o rapaz parecia ter escolhido senão as melhores, boas vestes para comparecer à reunião. Aproximaram-se e cumprimentaram os quatro moradores que estavam parados em frente ao casarão, eram eles: Deric e seu pai Horzot, O homem era uma cópia de Deric só que mais robusta, com cabelos igualmente loiros como os do filho e olhos azuis, tinha uma barba do mesmo tom cobrindo seu rosto e braços fortes , Damitvos era um antigo amigo do pai de Lance, barba por fazer, estatura mediana e um olhar de quem vive sua vida sem muitas preocupações, ao olhar de Lance ele tinha cara de preguiçoso, o outro era o morador mais antigo ainda vivo Yasfigh, era um velho ranzinza que mal conseguia andar, era corcunda e o topo da sua cabeça era careca, seus cabelos eram acinzentados, tinha uma verruga na ponta do nariz pontudo tal como eram suas orelhas e costumava ficar com apenas um dos olhos abertos, ação essa que ele alternava de hora em hora, era ótimo em criticar os outros e normalmente era também o que dava a última palavra para decidir tudo que ocorria com o povoado.