Estava perto da Igreja, onde entrei e me confessei, quando comprei um humilde fone de ouvido de cinco reais.
Fazia tempo que eu queria comprar esse meu "sonho de consumo". Pois lembrava-me de quando, no metrô, um sujeito vendia esse luxo pela módica quantia (que eu não tinha). Mas eu nunca mais peguei aquela linha, então havia ficado na vontade. Até hoje.
Fim de noite, resolvi descer ao jardim dos prédios. E lembrei-me então do fone.
Meu celular mais fornido de programas está sem bateria, então por enquanto uso o reserva. Peguei o fone, abri a embalagem, coloquei-o no celular. Desci.
Liguei o rádio. Percebi de repente que a estação era das mais comuns. Uma que me acompanha desde moleque. Mas que não ouço.
E as músicas? Das mais comuns. Que ouço desde que me conheço por gente. De repente, percebi que meu gosto sempre foi realmente assim. Comum.
Nada desses jazzes chiques que ninguém consegue curtir realmente. Nada desses hits de rock que passam impressão. Nada dessas músicas que tentam nos impingir na faculdade. Pela mensagem.
Nada disso. Somente as músicas que o jabá permite fazer crescer. Somente aqueles hits que ficam. E que não têm nada demais.
Enquanto andava pelo jardim, eu me sentia bem. Via as crianças conversando, os adultos entrando nos carros, a noite tomando conta do ambiente. E eu, com meu fone de ouvido escutando as músicas de sempre.
Tudo muito comum e agradável.
Muitos de nós, claro, tentamos apesar disso ser "diferentes". Destacarmo-nos pelo "bom gosto". Estarmos mais "antenados" que os outros.
Percebi hoje como isso é bobo. Como eu gosto mesmo do tradicional. Daquilo que não se destaca. Daquilo que simplesmente é agradável.
Como se fosse pouco.
Continuo ouvindo o radinho do celular, enquanto escrevo, e reflito. Tudo é vaidade. Apenas vaidade.
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Para viver melhor a vida - Crônicas
Short StoryUma pausa para nos sentirmos bem e percebermos assim melhor a vida.