Muitos católicos que eu conheço dizem que têm dificuldade de se confessar. De abstraírem a conversa com um sujeito que é humano - o padre - e simplesmente se deixarem levar pela situação.
Isso para mim é orgulho. Incapacidade de se abandonarem à própria situação de fé, e de cumprirem o que faz parte do rito, sem ligarem para nada mais. Ou pode ser também arrogância.
Ocorre, porém, que nem todo contato com a confissão é idêntico. Há padres com que nos damos melhor. Alguns que consultam o celular a todo momento, e que parecem não dar valor à função.
Já outros parecem apressados, sempre, não dedicando muita atenção àquele ser humano que está à sua frente. Lembro-me bem de que não tive boas experiências nesse sentido, inclusive.
Houve um padre, por exemplo, que eu não conhecia, e que me ouvia quase bocejando, visivelmente sem dar a menor relevância àquilo que eu dizia (e eu estava comovido). Isso foi quando ainda morava com meus pais, no bairro da Pompeia.
Houve outro que me ouvia aparentemente desmotivado com tudo o que eu dizia. Era como se eu estivesse me confessando de algo a que ele não dava a menor importância.
Confesso a vocês que desisti da religião naqueles momentos por causa daquelas experiências. E por ter visto outros padres, em retiros, que gritavam possessos condenando-nos ao inferno sei lá por quê. Achava aquilo burro demais.
Mas hoje minha conversão independe disso. Aos poucos sinto-me à vontade com o rito independente de quem esteja ali, me recebendo. Se está com fome, confuso com seu celular, ou mesmo desinteressado.
Porque hoje não é nada disso que importa. Eu até chego a ficar meio amigo dos padres que atualmente me recebem. Eles pegam o fio da meada, em minha vida, e percebem como tudo é bonito. Todo o processo.
Minha última conversa e confissão se deu em meio a dúvidas. Que o padre tentou sanar, e sobre as quais eu me prontifiquei a pensar. Admito que nada tem sido muito fácil. Que permaneço incapaz de saber como vai ser meu próximo dia. E até mesmo meu futuro.
Mas há uma certa confiança permeando todo esse processo, agora. Confiança, não diria; melhor seria dizer esperança.
É bonito saber-se acolhido por uma força maior. Mesmo quando estamos aparentemente perdidos e mesmo quase desolados. Bonito perceber como nos rendemos a tudo isso, e não ligamos para detalhes.
Hoje, nem percebo o que acontece realmente à minha frente naquela ocasião. Simplesmente entro em contato com Ele e me comovo, suavemente. Leio meus Salmos e sigo meu caminho.
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Para viver melhor a vida - Crônicas
Short StoryUma pausa para nos sentirmos bem e percebermos assim melhor a vida.