Para viver melhor a vida - Crônicas

UM NASCER DO SOL COM UMA NEBLINA DENSA

Tenho vivido meus últimos meses sempre assoberbado de preocupaçoes. Ora é uma conta que preciso pagar (e que não consigo), ora uma pessoa de quem me lembro (mas que não liga mais para mim), ora uma mãe que se preocupa (e que não pode mais fazer nada), ora uma amiga com problemas (cujo amor não consigo distinguir, nem em mim, nem nela).
Não sou o único que passa por isso, onde vivo. Pois noto que as pessoas passam pelos corredores com semblante em sua maioria fechado. Noto também que falam menos, e que quando falam são sucintas. Parecem ter muito com que se preocupar. Até as faladeiras preferem se manter em suas casas. Nem que seja para manterem a imagem.
Mas, sabe-se lá por quê, a gente consegue, pouco a pouco, tocar a vida. Os dias avançam e vamos conseguindo empurrar com a barriga. As dívidas são aos poucos pagas, aqui e acolá, e a sensação é de um pequeno alívio, que seja. A gente consegue comer mal e mal, e os problemas se tornam aos poucos pegadas no caminho.
Enquanto isso, porém, o mundo continua, e não parecemos notar. Os dias amanhecem e terminam. O Sol surge e some. A Lua por vezes aparece, e as chuvas nos atingem (ou não). Mas nós mal parecemos perceber. Tão atarefados que estamos conosco mesmos. Com os problemas que por vezes parecem nos engolir, realmente.
Hoje o dia acordou suave. Vi os primeiros raios do novo dia lá pelas 5h e pouco da manhã. Aos poucos, a cor alaranjada passou a dominar o horizonte. E com o tempo a neblina passou a ditar a norma do dia. Ao menos naquele dia que podemos ver enquanto tentamos continuar lutando.
Tudo acontece numa calma absurda. Sem quase qualquer barulho. Nem mesmo com o dos pássaros. As plantas parecem saudar esse novo dia. E a gente o testemunha meio estranhado - há quanto tempo que não o fazíamos! Hoje é dia de celebração. Não direi qual. Simplesmente algo que aparece e que nos diz: mais um novo dia. Um novo desafio. E quem sabe um novo - pequeno ou grande - milagre.