Chuva

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O professor irritado mandou a tal garota sentar-se para que ele pudesse iniciar a aula. A garota reagiu a ordem bufando com um pouco de raiva. Ela observou a sala em busca de um lugar para se sentar, por fim acabou notando que ao meu lado havia uma cadeira vazia.

Quando aqueles olhos cor de mel me fitaram, rendi-me aos encantos de seus olhos. Esses mesmos olhos brilhavam igual o sol para mim, o mesmo astro que não contemplava o céu escuro e chuvoso de hoje. Meu coração batia forte por estar perto dela. Certamente em seu lábio não havia nenhuma inocência, na verdade eu sabia muito bem que sua boca podia ser um labirinto que me faria ficar preso.

Por que me sentia nervoso se não havia nada a temer? Acabei de conhecer essa menina. O que está acontecendo? Queria saber por que esse medo forte percorria meu corpo. Ela então aproximou-se sorrindo. Eu já vi diversos sorrisos, de diferentes garotas, só que aquele foi totalmente ao oposto desses diversos sorrisos, ele mexia comigo. Meu coração sentiu como se fosse devorado por inteiro, eu estava ficando louco só para saber seu nome. Ela passou sua mão sobre seu cabelo, ao mesmo tempo puxava a cadeira sentando ao meu lado, olhando diretamente para mim, fui vendo sua boca se abrir para falar.

- Mesmo sorrindo seu olhar é vazio.
- Que posso fazer minha alegria nunca é completa? - Perguntei.
- Perdeu sua chance de parecer o garoto perfeito no primeiro dia de aula.
- Perdi é? - rebati rindo.

Ela cerrou seu lábio ficando a me olhar nos olhos como se tentasse me desvendar, descobrir o motivo do meu vazio. Aquela inquietação que estávamos, de algum modo intimidava. Na intenção de disfarçar, virei meu rosto para a janela para ver a chuva que caia sobre as finas janelas de vidro e assim ficamos até o soar do alarme para trocar de professor.

Desta vez entrou na sala uma mulher de longos cabelos vermelhos e um olhar azul belíssimo, ela usava um batom roxo, o corpo magro e frágil faziam uma bela combinação com os óculos. Seu nome era Ana, professora de matemática. Sabe, gosto de matemática por termos algo em comum, sempre criamos problemas e deixamos para os outros resolverem. A professora pegou seu caderno de chamadas com diversos nomes de pessoas desconhecidas, apesar de parecer que estava distraído olhando pela janela, eu me encontrava atento na chamada, não gostaria de receber uma falta, somente nesse momento me toquei que esqueci de responder a chamada da aula anterior por me distrair olhando para a garota que ficava me encarando.

Ana pronunciou o nome Isadora e então ouvi uma voz conhecida dizer presente, a voz pertencia a ela que se encontrava sentada ao meu lado, então esse era o nome que tanto quis saber. Um sorriso surgiu em meu rosto, aquilo foi algo que nem achei mais que aconteceria, ultimamente não tenho experimentado a alegria, somente a maldição da tristeza.

Isadora levantou-se sem pronunciar uma única palavra e naquele silencio, apenas fiquei com a sombra do sorriso que ela deixou, esqueci de cuidar o relógio que indicava o intervalo e acabei ficando na sala encarando o vazio e sorrindo feito um idiota.

Hoje tínhamos três períodos de matemática seguidos parecia que um professor não veio dar aula e a Ana ocupou o horário dele. Isadora sentou-se novamente ao meu lado, ela trazia em suas mãos, um pacote de salgadinhos e uma lata de Coca-Cola, ela ia se encrencar. Comer na da aula era extremamente é proibido e parecia que não fui o único que notou, Ana já havia visto e não fez absolutamente nada. Por um milésimo de segundos estive confuso sem entender o que acontecia, foi quando tudo fez sentido. A professora não ensinava conteúdo novo e queria ser legal com Isadora preferindo não chamar sua atenção.

Resolvi conversar com Isadora para fazer o chato do tempo passar mais rápido, afinal, ele só passa rápido quando estamos fazendo algo que não seja chato. Sussurrei seu nome com uma voz baixa em seu ouvido e ela virou-se rapidamente para mim ficando me olhando até escapar um arroto que foi direto em meu rosto, considerei que foi sem querer. Ela riu e deu de ombros, tentei sorrir como se não tivesse acontecido nada, mas o cheiro de salgadinho de queijo me deixou tonto me levando a sacudir a cabeça para ver seu eu retornava ao normal.

- Bem, notei que se chama Isadora é um belo nome.
- Fala sério que me chamou para conversar sobre nomes - ela arqueou as sobrancelhas.

Naquele instante senti vontade de desistir de falar com ela, por causa de sua grosseria, mas ainda bem que não parei. Ouvi suas palavras quieto e as ignorei, tentando continuar a conversa.

- Me desculpa por falar de nomes, eu pensei que talvez podíamos conversar sobre algo para passar o tempo, mas to sem assunto - me desculpei.
- Vai se desculpar só por causa disso?
- Sim, eu vou - concordei dando um risinho para aliviar o clima tenso.
- Você é estranho - revirou os olhos, mas depois sorriu. - Gostei de você.
- Obrigado - agradeci dando de ombros, mas depois percebi como isso parecia idiota e me envergonhei.
- Tem jeito de tímido, sabia? - ela falou depois de um tempo em silêncio.
- Tenho é?
- Tem sim, sempre quis saber o que as pessoas tímidas pensam.
- Bem eu nesse momento só estou tentando descobrir um assunto para conversarmos -novamente dei uma leve risada para disfarçar.

Ficamos conversando sobre minha timidez até o soar do alarme para avisar que agora seria o quinto período, só que para minha sorte fomos liberados mais cedo, assim agora posso ir embora do colégio e descansar.

Como o destino não gosta muito de mim e considerando que sou desastrado e bastante azarado, estava chovendo sem parar. O normal seria aguardar a chuva passar, só que de tanto amor que tenho por colégios, sai na chuva mesmo sem guarda-chuva, que se dane quero ir para casa.

Os pingos da chuva molhavam meu cabelo, meu coração gostava da chuva, afinal tanto quantos suas gostas ou minhas lágrimas pareciam se conhecer tão bem, o amor que sinto por Eliza sempre me fez fraquejar. Hoje conheci Isadora uma garota que me fez ficar encantado por ela logo à primeira vista, no entanto sei que ela sempre terá um defeito. Jamais conseguirá ser igual a Eliza.

Perdido no amor (Em Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora