Texto de amor: Anjo

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''Duas pessoas que sempre eram felizes juntos, agora conseguiam serem tristes juntos''

  O astro rei já começava a curvar-se para sua rainha lunar, as pessoas caminhavam com pressa pelas ruas por medo do anoitecer, a insegurança deles de o pior acontecer, não aplicava-se a mim onde morrer por uma faca ou revolver seria algo de imensa alegria, afinal seria uma morte onde no momento meu lado covarde não conseguiria evitar, e por outro lado tudo que um ladrão poderia roubar era minha tristeza em viver, e no fim ele talvez coloque a arma em sua cabeça e atire, cometendo suicídio. 

  Conhece alguém que caminha meio que arrastando-se sobre o chão? Eu caminho assim sem o menor ânimo de andar, acabo vivendo numa realidade onde quero sair rápido do colégio, mas não tenho vontade de ir correndo para casa, tudo que eu almejo nessas horas é que um daqueles motoristas perca o controle de seu carro e venha para cima da calçada matando um tolo estudante que anseia morrer por não ter motivos para viver, então enquanto toda a cidade julgará o motorista como um vilão, eu verei ele como meu maior herói por ter salvado meu dia.

  Porem infelizmente parece que hoje ele não será meu herói, já estou na rua de frente á minha casa e nas esquinas tudo existe é o vento, conforme caminhei perdido em meus pensamentos não percebi que as pessoas iam desaparecendo de minha visão e que a cada passo dado mais perto ficava de minha residência, de certa forma é engraçado referir-se a aquela nenhum pouco humilde residência como minha, sendo que ela atualmente pertence aos meus pais.

  Sem olhar para ver se vinha um carro, afinal isso não me importava nenhum pouco, cruzei aquela rua e me fui caminhando até a porta de casa, onde tive que colocar a mão no bolso da calça para achar a chave, se tem algo que sou bom em perder alem do celular é a chave de casa, ter atenção nunca foi uma das minha qualidades, que também não muitas, sem demorar muito achei ela e a coloquei na fechadura.    

  Ao abrir a porta de casa me deparo com uma cena de partir o coração, Eliza com o rosto entristecido ajoelhada naquele chão, em suas delicadas mãos havia uma folha toda amassada de papel de caderno, percebi na hora que papel era aquele, para completar aquela cena de magoas, com sua voz tomada por um timbre de tristeza ela sussurrou para mim.  

-Me desculpa por ter desafiado você a se matar, é que me sinto sozinha.  

  Ela encontrava-se certa, em sua morte a solidão foi tudo que lhe restou, eu a matei e a deixei morrer sem conseguir fazer nada, simplesmente deixei o amor da minha vida morrer perante mim enquanto fiquei em estado de choque sem fazer nada, eu lembro do sangue amargo que saia de sua boca e de como seus olhos ia ficando vazios sem o brilho de sua vida. Aproximo bem devagar e me coloco a sentar naquele chão ao lado dela. 

-Não tem motivo pra se desculpar. –Falei com a voz trêmula

  Abaixei minha cabeça e me coloquei a chorar junto á ela, duas pessoas que sempre eram felizes juntos, agora conseguiam serem tristes juntos, de forma calma peguei o papel de sua mão e olhei para o mesmo para saber ao que se referia.

  Naquela folha de papel velho de um tempo em que o passado trazia amor, tinha palavras escritas com uma caneta preta simbolizando o luto do escritor, um texto de amor feito pelo desabafo do garoto que chorava naquela noite fria onde tudo congelava menos aquele quente amor.   O texto era escrito assim:
''

Anjo:

Garota eu to aqui parado com um coração quebrado e você é um anjo que aprendi a amar. Eu sei que quando estou triste e possivelmente esteja essa noite, águas jorram pela minha face e a solidão me visita , só que eu não me sinto totalmente sozinho eu guardei você em meu coração por mais que o destino tenha dado um fim entre nós, hoje a noite sonharei que estamos em New York e como um anjo você esta a me acompanhar, passeamos por varias ruas sentamos num bar e comemos algo, após pego um guardanapo e escrevo seu nome com uma promessa que dedicarei meu amor á você, então iremos sair com uma garrafa de bebida na mão e numa noite maluca marcarei naquelas paredes da rua nossos nomes e meu amor por você. No fim disso tudo me encontrarei bêbado de amor, vendo você usar meu moletom, sorrindo como um anjo. Todas as estrelas estarão no céu nessa noite e em seu rosto em cada sorriso estará à marca das tristezas que ficaram para trás, e nós sabemos que não foram  poucas magoas. O tempo nessa longa noite ficara congelado assim como minha lembrança dessa noite sonhada que acabou com o tocar de nossos lábios, aquele beijo dado em New York para sempre será lembrado, e aqui escrevendo nessa noite triste eu estou olhando pro relógio me perguntando quando te verei em New York, quando verei um anjo em New York.
                                                                                    "

  Igual a noite que escrevi tais palavras numa folha de papel, águas transbordaram de meu rosto e tudo que consegui fazer foi perguntar a lua por que Eliza foi tirada de mim? O Sonho dela de conhecer Nova York e o meu de envelhecer ao lado de minha garota por que tinham que morrer naquela noite fria? Agora o sorriso capaz de colorir meu mundo, tinha se tornado num rosto triste e o mundo perdia sua preciosa cor, em tudo existia um preto e branco sem graça.

  Ergui-me daquele chão cabisbaixo sem coragem de ver Eliza e com aquele olhar entristecido por causa de todas essas noites cruéis sem ela, com águas jorrando pela minha face, abri um caderno com uma capa escrito: Para meu amor Eliza, colei a folha usando uma cola que estava em cima da mesa.

  Nunca fui de fazer textos de amor, sempre fui ruim em escrever, no entanto fiz sete textos de amor com palavras vindas de meu coração, e infelizmente antes de completar todas as trinta e duas páginas daquele caderno, ela morreu e eu jamais consegui lhe entregar essas palavras de amor.

Perdido no amor (Em Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora