De maneira análoga, todos possuem dois cisnes dentro de si. Por vezes somos puros e assustados, equiparando-se a um cisne branco. Porém quando conhecemos o nosso lado mais sombrio, prejudicamos o nosso equilíbrio psicológico. É certo que a busca pelo nosso cisne negro pode acabar destruindo a nossa sanidade.
O lago dos cisnes está longe de ser um simples Ballet. Talvez tenha sido a metáfora encontrada na época para mostrar como podemos ser consumidos por nossas próprias atitudes. Odette, desolada por ter perdido o seu amor verdadeiro para a sua "gêmea do mal", se lançou de um penhasco em busca da única coisa que poderia acalentar a sua alma.
E assim, como a rainha dos cisnes, na morte eu encontrei a minha liberdade.
Allenwood, Virginia.
O que aconteceu naquela fatídica noite...
Avistei ainda da esquina as enormes portas de madeira da igreja de St. Christopher abertas. Rapidamente comecei a subir cada um dos degraus de mármore da mesma, fazendo com que o acrílico do meu salto alto provocasse o único ruído que emanava pelo ambiente.
Uma vez lá dentro, encarei os vitrais e a cruz ao redor. Ah, como aquele ambiente sagrado me trazia lembranças.
Caminhei em direção à sacristia e percebi que uma baixa luz deixava o local parcialmente iluminado. Lá se encontrava o belo loiro que, ironicamente, tinha a missão de aconselhar os outros sobre os pecados terrenos.
Joguei para trás o fino véu negro do chapéu que usava e entrei na cabine do confessionário. Em um primeiro instante, Tomás não percebeu a minha presença. Estava um tanto distraído e com o rosto entre seus punhos fechados fazendo as suas noturnas orações. Era impressionante o fato de como até de batina ele conseguia exalar tanta virilidade.
— Perdão padre, pois eu pequei. — disse mecanicamente, quebrando o silêncio do ambiente.
— Senhorita Heitt. — Tomás fez uma pequena pausa ao perceber que era eu. — Diga-me, o que te atormenta?
— Acho que temos muito mais em comum do que eu poderia imaginar.
— Como? — Ele perguntou, não entendendo onde eu queria chegar com toda aquela conversa.
— Bem, digamos que eu também conheço os pecados das pessoas dessa cidade. — disse em tom malicioso. — Você gostaria de ouvi-los?
Apesar da aparente escuridão soturna, consegui notar através da janelinha de madeira o olhar lacônico do loiro.
— A minha missão é ouvir as angústias dos filhos do criador. — Aquela resposta me fez querer gargalhar.
— Tudo bem. — Revirei os olhos. — Allenwood sempre foi um ótimo lugar para se viver, não é mesmo? — Perguntei de maneira retórica. — Crianças brincando alegremente em suas bicicletas multicoloridas por todo o quarteirão. Mulheres regando cuidadosamente as suas criações de Azaleias. E os maridos, em seus enormes e luxuosos carros, dão partida em direção a mais um dia importante no trabalho. Diga-me, Tomás. Você consegue imaginar que um lugar assim seja capaz de esconder segredos tão profanos?
Se eu não estava enganada poderia jurar que o ouvi engolindo seco.
— Se não está entendendo o que eu quero dizer, posso começar com alguns simples exemplos. — Sentia que finalmente estava na hora de dizer toda a verdade. — Natalie comete o pecado do incesto. Tudo bem, eu não a julgo. Noah Arys é alguém por quem vale a pena ir para o inferno. Desculpe. Força do hábito. Aaron Sandborn, o bom filho do nosso prefeito, é gay. Claro que não existe nada de errado nisso, mas ele tinha que chupar logo o nosso professor? Quanto a Susan, fora o fato de ela adorar semear a discórdia, eu não tenho nada a reclamar. E como eu poderia, não é mesmo? Ela dedica boa parte do seu tempo à igreja. Mas talvez você já soubesse disso.
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Um guia para as vadias de Allenwood ✔
Mystery / Thriller#1 no Ranking de Mistério e Suspense nos dias 31/12/17 e 01/01/18 Cansada da sua própria existência, Courtney Heitt toma uma radical atitude ao decidir se matar (mas será que foi realmente um suicídio?). Assim, começa o guia para as vadias de Allenw...