Capítulo dois - Parte 1

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Capítulo dois

Crônica 3

Incrivelmente irônico.

Vocês não podem sequer imaginar o que me aconteceu um dia...

Não gosto muito de falar sobre isso, mas, já que não tenho muita pretensão com esse blog e quase nenhum ― isso para não dizer nenhum ― comentário, falarei a verdade: acreditam que já fui assediada sexualmente por um antigo chefe?

Sim. Sou capaz de imaginar o espanto de vocês ao lerem isso, sabendo minhas condições “virginianas”.

Claro que não aconteceu nada naquele dia. Quer dizer, aconteceu. Ele foi pego no flagra. Quando digo flagra, entenda como: a mão em minha bunda.

E adivinhem quem pagou por isso... Eu! Claro.

Quem em são consciência vai acusar o chefe por algo tão pesado desse tipo? Mesmo que o feito dele seja totalmente contra os direitos do trabalhador? Ninguém!

Óbvio, eu fui demitida. O bom nisso, se é que existe algo de bom nessa história, é que tal episódio não atrapalhou na minha carreira profissional. Não acrescentou nada, nenhuma mancha quando fui dar a baixa na carteira. Ás vezes penso que isso não passou de um prêmio, um doce que um adulto dá a uma criança quando ela tem um bom comportamento.

Como que ele ― o chefe em questão ― colocaria o real motivo de minha precipitada demissão? “Demitida por não aceitar mão boba durante o horário de trabalho”? Ok. Não rola!

Sei que esse fato não acrescenta muito em minhas crônicas virginianas, mas precisava dividir essa pequena história sem pé nem cabeça com vocês.

É certo que esse acontecido proporcionou uma timidez um pouco maior em relação ao sexo oposto, mas... espero realmente que não atrapalhe minha futura vida sexual.

É isso. Até a próxima, pessoal.

Não sou um monstro, nem vim de outro planeta. Só sou virgem, e daí, cara pálida?

Quando Analice acessou seu blog, no conforto de seu quarto, esperava ao menos um comentário. Mas... nada.

Porém não deixou que o desânimo a pegasse de jeito. Sabia muito bem como era difícil conseguir comentários nesse mundo da internet. As pessoas até poderiam ler, mas... comentar que é bom, nada!

Ela sabia que teve leitores, pois teve seis visitas em um dia de vida do blog. Se ao menos o que estava escrevendo fizesse sentido na vida de alguém, já ficaria extremamente satisfeita. Esse era seu lado escritora... o que ficava feliz ao saber que algo que escreveu tocou a vida de alguém.

Patético, não?

Não!

Sem esperar que alguém comentasse sua última postagem, Analice fechou a tela de seu notebook e saiu do quarto. Deu de cara com um de seus irmãos, Daniel.

― Vai sair?

Daniel a fitou com cara de mofo e respirou fundo.

― Pode parecer estranho, mas... alguns de nós temos vida própria, sabia?

― Não precisa ser tão grosso, Daniel. ― ela se queixou, descendo as escadas e sabendo que seu irmão a seguia. ― Só fiz uma pergunta. Não precisa responder se não quiser, mas não precisa ser mal educado, ok? ― entrou na cozinha e pegou um copo de água, parando para dedicar um olhar ao irmão. ― E outra, quem disse que não tenho vida?

Daniel a olhou com bom humor e deu de ombros, pegando o copo da mão dela e enchendo com um suco qualquer que havia na geladeira.

― Certo, Analice. Desculpe. Esqueci que você “tem” vida própria.

― Pois eu tenho. Só não a espalho aos quatro ventos. A vida é minha!

― É o que você diz... ― ele deu de ombros novamente e colocou o copo sobre a pia. Dirigiu-se até porta, mas antes de sair, olhou outra vez para a irmã e disse com bom humor: ― Respondendo sua pergunta, vou namorar!

Ok! Saber que seu irmão dois anos mais novo que você tinha uma vida mais agitada que a sua, não era a melhor das sensações.

E desde quando se tornara uma mentirosa compulsiva? Era de domínio público que ela não tinha vida coisa alguma. A única vida que possuía ― se é que pode se chamar isso de vida ― era seu trabalho.

Por vezes pensava que no momento em que tivesse um namorado isso mudaria. Mas, logo mandava esse pensamento de volta ao sombrio e perigoso lugar ao qual pertencia.

Não precisava de homem para isso e, se tudo desse certo, seu trabalho como freelancer provaria sua teoria!

Horas mais tarde, depois de estar de banho tomado, ter se alimentado e estar confortavelmente instalada em sua cama, Analice ligou o notebook e acessou seu blog novamente. Não esperava que tivesse algum comentário ou mais um visitante, mas se surpreendeu ao ver que tinha mais um visitante.

E um comentário!

Com o sangue correndo rápido por suas veias, Analice se sentou rígida na cama e leu o tal comentário.

Olá. Li por acaso sua primeira crônica e tenho que confessar: sua forma de escrever me fez rir. Passa a impressão de que escrever é tão fácil para você... Além do que, a história é hilária. Se com a primeira eu ri, na segunda tive que me segurar para não fazer xixi nas calças. Sobre a terceira crônica, aquele cara era um idiota! Fez bem em sair de lá. Espero por mais de suas crônicas. Um beijo.

Se alguém entrasse em seu quarto naquele momento, veria o imenso sorriso que se formava nos lábios de Analice.

Um comentário... Ela tinha um comentário!

A pessoa só não havia se identificado... O que deixou Analice curiosa.

Seria um homem ou mulher? Nada do que escreveu respondia sua pergunta, mas... Analice não descansaria até descobrir quem era seu primeiro admirador.

Com isso em mente, ela clicou em “comentar” e respondeu:

Olá. Fico feliz que tenha gostado tanto. E obrigada pelo elogio, isso me fez bem. Concordo, ele era é um idiota! HAHA.

Ps* qual seu nome?

Beijos.

Ela até poderia não conseguir o nome da pessoa, mas... não custava nada tentar. 

*Amores, não se esqueçam de dar as estrelinhas. 

Durante a semana posto a continuação do capítulo!

27. As crônicas de uma virgemOnde histórias criam vida. Descubra agora