Como puxar assunto com ela depois de tudo? Colocar uma música estava fora de cogitação, e eu não sabia o que falar, o frio podia estar do lado de fora do carro mas o que Ravenna estava me dando era um gelo.
– Sabe que vai precisar me contar o que aconteceu, não é? – A olhei pelo canto do olho e logo depois para a estrada novamente.
– Todos sabemos o que aconteceu. – Quase gritei um amém por ela ter me respondido. – Era Richard, eu sei que você já sabe. Ele não me ameaçou, se é isso que quer saber.
Ok, então se ele não a tinha ameaçado, por que a moça ficara tão abalada com as palavras do ex noivo? Alguma coisa tinha que ter acontecido, ninguém fica em estado de choque por nada.
– E então, o que aconteceu para que ficasse daquela maneira? – Perguntei quase me batendo depois, eu poderia usar palavras mais suaves para descobrir as coisas, apesar de ter virado quase minha amiga, Ravenna ainda era uma peça do caso, e eu deveria ter cuidado em interrogá-la, se é que aquilo era um interrogatório.
– Eu o olhei, o escutei, o toquei. E não senti nada que não fosse ódio, eu achei que cada dia que passasse longe dele, só fosse aumentar todo o amor, mas nunca foi amor. – Minha boca estava seca e eu tentei realmente focar na estrada ouvindo aquelas palavras, mas com ela dizendo aquilo do meu lado, eu não podia deixar de ficar feliz. – Talvez tenha sido a felicidade imensa de não sentir mais nada que me abateu e eu fiquei estática daquela maneira. Mas o que realmente aconteceu foi perceber que ele estava na minha frente, e mesmo com tanto ódio, eu não fiz nada.
No sinal vermelho, eu olhei o rosto de Ravenna e sorri mesmo ela estando com o semblante sério, não importava para mim se eu tinha ajudado ou não, mas ela tinha conseguido se livrar da porcaria do sentimento que era ilusório, daquilo que ela achava que sentia pelo crápula do Richard, e isso era tão bom para mim, me alivia de uma maneira tão plena, que agora sim eu sabia que ela me ajudaria.
– Amar não é considerado pecado, Ravenna. – Ela virou o rosto na minha direção e sorriu, eu ainda tiraria uma foto de seu sorriso, colocaria de papel de parede no celular e toda vez que o visse eu iria sorrir junto.
– Obrigado, Elliot. Eu sou muita grata pelas coisas que você está me fazendo enxergar agora.
Chegamos em casa, e ambos estávamos com sorrisos no rosto, não tinha sido uma noite infeliz afinal de contas.
– Bom, – comecei vendo Ravenna seguir o caminho pelo corredor, e parar quando me ouviu falar – amanhã é véspera de natal, podemos decorar a casa se você quiser. Foi uma noite agitada.
– A madrugada pode ser mais agitada ainda. – O terno que cobria os ombros da moça caiu, e eu empurrei a porta da frente a trancando logo depois.
Então era assim, uma conversa no carro e agora ela me provocaria? Ambos tínhamos bebido, aquilo era perigoso. Claro que isso era uma desculpa do meu cérebro porque eu tinha tomado uma taça de champanhe e olhe lá. Mesmo assim, quem garante que qualquer provocação naquele momento não fosse se concretizar em algo melhor depois?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Pecados de Ravenna
Misterio / SuspensoGula, avareza, inveja, ira, soberba, luxúria e preguiça. Tantos pecados, e apenas uma história. Alguém que matou, e alguém que se arrependeu. Se você acreditasse no seu sexto sentido, o seguiria mesmo que isso arriscasse o futuro de...