2 • Alistair LeFay

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Chegando na Inglaterra, Newt encontrou com o professor Dumbledore que já estava devidamente a par da situação. Ele, como o bruxo talentoso que era, logo os avisou dos riscos.

- Teremos que entrar em contato com algumas pessoas não muito bem quistas e estar em lugares nem um pouco convidativos, creio que você saiba disso Newt... - Newt assentiu em concordância - Tenho alguns contatos que podem nos ajudar porém, nada é de graça neste mundo, teremos que compensar seu tempo.

E logo ele começou a traçar um plano para encontrar um bruxo chamado Alistair, que além de mafioso e contrabandista, era dono de um prostíbulo com fachada de bar. Ou seja, eles lidariam com um bandido da pior espécie.

- E por que não se agilizam para prendê-lo? - indagou Tina, quando eles caminhavam rumo ao bar, localizado na rua mais fétida e escura da Travessa do Tranco.

- Sabe o ditado que diz que "há males que vêm para o bem"? Pois então... por mais bandido que seja, Alistair não se rendeu à teoria nefasta de Grindelwald. Pelo menos ainda não. - respondeu Dumbledore, calmamente.

Quando abriram a porta do bar, o cheiro forte e tóxico de fumo e bebida os recebeu, advindo de homens sentados em mesas espalhadas pelo amplo salão, vários deles com mulheres escassamente vestidas sentadas em seu colo, outras dançavam sensualmente em um palco mais adiante, agarradas em postes finos de metal e quase engolidas com os olhos por outros tantos homens. Tina começou a ser invadida com uma sensação crescente de repugnância e Newt permanecia encurvado ao seu lado.

- Em certos pontos o mundo bruxo não é tão diferente do trouxa, infelizmente... - refletiu Dumbledore, dando uma olhadela pelo local. - Vamos nos sentar...

- Podem ir andando, eu preciso usar o banheiro - disse Newt, e se encaminhou para próximo ao palco das dançarinas. Por um breve momento as admirou, se perguntando o que as fizera chegar a este ponto, quando uma delas desceu lentamente do palco e se encaminhou até ele. Newt arregalou os olhos em assombro.

Leta.

Continuava tão bela quanto nos tempos de Hogwarts, mas a descabida experiência da prostituição começava a se manifestar em marcas espalhadas pelo corpo e a maquiagem bizarramente borrada. Ainda assim, Newt pôde ver um breve resquício daquela garota que conhecera na escola.

- Perdido? - ela perguntou, sorrindo em soslaio.

- Eu? Er... bem, não, estou acompanhado. - Newt respondeu, e fez um gesto apontando para trás, onde estava a mesa ocupada por Dumbledore e Tina.

- Oh, aquele é o professor Dumbledore? - Leta arregalou os olhos - Ah não, não quero que ele me veja assim. Anda, vamos! - E subitamente o puxou pela mão, subindo uma escada rumo a um longo corredor.

- Ah, Leta, eu... eu creio que devo voltar. - Newt admoestou. - Meus companheiros podem precisar de mim.

Leta abriu uma porta e o empurrou para dentro de um quarto pequeno, porém bem arrumado e aconchegante.

- E quem precisa de você tendo Dumbledore por perto? - Leta sorriu.

Newt levantou uma sobrancelha.

- Ora vamos... - ela sorria abertamente, aproximando as mãos de sua gravata. Newt agarrou-lhe os pulsos. - Calma! Só estou tentando deixá-lo mais à vontade.

Ela desamarrou a gravata e enrolou as mangas da camisa até os cotovelos. Depois foi até o cabide e pegou um robe de cetim com o qual se cobriu escassamente. Pelo menos serviu para cobrir o espartilho que ela usava, revelando as curvas sensuais que Newt ignorava a todo custo.

- Pois bem... - ela se sentou na cama à sua frente enquanto ele descansava em um pequeno pufe. - Vai me contar o que você e seus amigos andam aprontando?

- E pra quê lhe contaria isso?

Leta deu de ombros.

- Ah, bem... - Newt suspirou. - Vai me contar o que te trouxe até aqui? Uma Lestrange... Num lugar desses, jamais imaginaria.

- Muito menos eu. - ela riu sarcasticamente. - Fui expulsa de casa e deserdada da família, Newt. Me recusei a casar com aquele monstro do Malfoy.

Ah. Newt lembrava bem que, em seu sexto ano - o ultimo de Newt antes de ser expulso -, Leta retornara das férias com um anel perolado na mão direita. Porém, a perspectiva de um casamento arranjado e, em parte, consanguíneo, não a animava nem um pouco. Foi em decorrência dessa revolta que ela acabou cometendo seus erros e Newt expulso ao tentar defendê-la. A lembrança ainda doía, não tanto quanto antigamente, mas doía.

- Eu sinto muito... - ela murmurou, e sem conseguir se conter, tocou-lhe a mão. Nesse exato momento, a porta se abriu com um estrondo e os dois, assustados, se viraram para ver quem era.

Tina estava parada no arco da porta, observando a cena com a boca ligeiramente aberta.

- Ah, Newt... Dumbledore pediu para lhe procurar, Alistair chegou. - ela correu os olhos para Leta de alto a baixo, registrando seu robe empobrecido e sua maquiagem gasta. - Espero não ter atrapalhado nada.

E sem esperar resposta, saiu batendo os pés.

- Bugger! - Newt amaldiçoou. Ele sabia bem que todas as chances de, supostamente, ter algo a mais com Tina acabara de sair junto com ela porta afora. Em contrapartida, Leta se divertia com a situação.

- É isso mesmo? Ela achou que você era um cliente? Newt Scamander frequentador de prostíbulos? Até quem não lhe conhece sabe o quão bizarro isso seria!

Newt deu de ombros. Correu para buscar seu casaco.

- Desculpe, preciso ir... - e parou um momento a porta para olhá-la. - Espero um dia poder lhe rever em algum lugar bem diferente deste aqui, Leta.

Ela acenou tristemente. - Também espero.

Chegando de volta à mesa, Newt viu Dumbledore conversando com um bruxo que ostentava vasta cabeleira e barba brancas, que supôs certamente ser Alistair. Ao se sentar, olhou fugazmente para Tina, que se recusava a retribuir o olhar.

- Veja bem, Dumbledore, eu não sei exatamente em que posso ajudá-lo sem ter uma boa recompensa por isso. - Alistair sorrria sarcasticamente, exibindo vários dentes podres. - Tempo é dinheiro.

- Sei bem - respondeu Dumbledore, serenamente. - Mas creio que o Ministério da Magia ia achar muito interessante investigar o porquê você mantém um Obscurial em seu circo... hum... deveras divertido.

Alistair abriu a boca, mas sem emitir um único som. Seu olhar estava aturdido. Dumbledore não se deixou convencer e se recostou na cadeira, cruzando as pernas, com um olhar intimidador.

- O garoto Barebone. Credence.

Tina, que até o momento parecia alheia à conversa, subitamente virou a cabeça.

- O quê??? - vociferou.

Dumbledore levantou uma mão, calando-a instantaneamente. Alistair tomou a fala para si.

- Está me ameaçando, Alvo? - sussurrou, apertando os olhos.

- Longe de mim, Alistair. Mas você sabe que precisa me ajudar.

Alistair considerou por alguns minutos. Então, bateu a gorda mão esquerda na madeira gasta da mesa.

- Muito bem! Venham comigo. - E se levantou. Porém, nesse mesmo instante se ouviu um estrondo enorme no andar de cima do estabelecimento e vários pedaços do forro caíram sobre suas cabeças.

- Mas que m...? - gritou Alistair.

E a desordem se espalhou. Muitas mulheres desciam as escadas antes que essas se quebrassem por completo e mais uma explosão se ouviu, agora destruindo por completo o segundo andar. Uma das moças que dançava no palco veio correndo em desespero.

- Sr. LeFay! - ela chorava - Sr. LeFay!

- Pare de chorar, sua garota imunda e desembucha! - vociferou Alistair.

- Eram os seguidores do Mago Negro! Levaram três das nossas meninas!

- Três??? Então eles já vieram com intenção de sequestrá-las. E quem foi?

- Lili, Amani e Leta - a garota respondeu, soluçante.

- Leta? - Alistair arregalou os olhos. - Maldição! Levaram a Lestrange!

Amor, Guerra e CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora