10 • Nem tudo o que parece... é

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Após o jantar, Tina, Newt e Dumbledore se reuniram brevemente na sala de estar.

- Bom, fiz todos os testes possíveis pra ver se esse diário está contaminado com alguma maldição e... aparentemente está tudo normal.

- E agora? O que vamos fazer? - Tina indagou.

- Isso retorna pra vocês. - Dumbledore devolveu o diário para Tina. - No entanto, fui procurar saber mais sobre Claire Travers e descobri que existe uma Claire administrando o bar de Alistair.

- Então vamos para lá ver logo quem é essa mulher! - Newt foi se levantando, mas Dumbledore ergueu uma mão e ele parou no ato.

- Faremos isso mas não agora. Primeiro preciso ter notícias de uma outra pessoa que mandei até lá.

*

Leta se aproximou do local fazendo uma careta enojada. Ela estava ali a completo contragosto, sabia bem a má fama daquele estabelecimento e prontamente recusou o pedido feito pela primeira vez por Dumbledore, mas quando Theseus dissera que se ela fizesse o que o professor estava pedindo, poderia ajudar muito nas investigações para descobrir o paradeiro de Grindelwald ela se convenceu um pouco. Como isso ajudaria? Ela não fazia a mínima ideia, entretanto, o plano minuciosamente arquitetado por Dumbledore e Theseus e mais a garantia do auror de que ele estaria a postos às proximidades do bar, atento a qualquer sinal de que ela corresse perigo facilitou para que ela tomasse a decisão de ajudá-los.

O plano consistia em, basicamente, Leta descobrir um pouco mais sobre Claire Travers. Para isso, foi decidido que ela passaria por uma mendiga esfomeada que não via outra solução para sua vida miserável e estava ali aceitando qualquer função disponível, mesmo que fosse a de prostituta.

- Você tem certeza disso, Theseus? - Leta indignou-se ao ouvir as palavras saindo da boca de seu noivo.

- Amor, vai ficar tudo bem. - ele procurou tranquilizá-la. - é só um disfarce que você terá que cumprir por algumas horas. Lembre-se que estarei sempre por perto, basta um feitiço estuporante e irei intervir.

Graças ao talento impressionante de Dumbledore para a Transfiguração, agora Leta não parecia mais Leta: os cabelos castanhos estavam pendendo para um tom mais avermelhado, e estavam completamente emaranhados com sujeira, além de certas partes de sua pele sujas de terra, unhas que antes estavam sempre pintadas e limpas agora tinham um aspecto mal cuidado e eram roídas e ela também usava uma roupa rota e rasgada em locais presumidos revelando certas partes do corpo mostrando que, debaixo de toda aquela sujeira ainda haviam resquícios de beleza. Ela ainda poderia ser útil ali.

Leta respirou fundo e entrou no local, recebida pelo costumeiro odor de cigarro e bebidas. Ela parou um instante à porta, observando tudo com uma expressão de completo desprezo. Algumas garotas dançavam no palco com barras de metal, outras circulavam pelo local, oferecendo aos clientes o que podiam naquele momento: seu corpo. Outros homens estavam alheios à presença feminina e se encostavam no balcão, pediam sua bebida e iam embora. Enquanto refletia no absurdo que era ela, Leta Lestrange, futura Scamander, estar ali, um rapaz moreno e forte chegou até ela:

- Quem é você? - ele perguntou com rispidez. - Se veio pedir comida cai fora!

- Não, não - Leta se apressou a corrigir - Eu vim saber se vocês precisam de alguém pra faxinar, vender bebidas, qualquer coisa... estou à disposição. Basta me dar um pouco de comida e um lugar para dormir.

A expressão raivosa do rapaz foi substituída por malícia quando ele a observou mais atentamente e registrou os rasgos da roupa que revelavam as curvas de seu corpo. Dumbledore estava certo em afirmar que aquilo chamaria a atenção deles.

- Pois bem... venha comigo.

Ela deu um olhar veemente em direção a um outro homem, por sua vez mais baixo e corpulento, que ostentava uma densa barba e segurava um copo cheio de bebida. O homem era Theseus, também transfigurado. Ele deu um breve aceno de cabeça, sem retribuir seu olhar, mas deixando claro que estava atento a qualquer movimentação estranha. Leta continuou seguindo os passos do rapaz que a recebera até o balcão, cuja atendente era uma moça de pele branca como cera, cabelos muito negros e cacheados e aparentava ser bastante nova, se chegasse a ter 25 anos, era muito.

- Claire? - o rapaz a chamou e gesticulou em direção à Leta. - Essa morta de fome apareceu aqui dizendo que está disposta a qualquer trabalho em troca de comida e um lugar para dormir. Estava prestes a expulsá-la mas a observei melhor... acho que um bom banho e umas roupas mais limpas já dariam um jeito. Ela é bonita o suficiente.

Claire olhou intensamente para Leta da mesma forma que o rapaz a olhara há pouco. Ela estava começando a se sentir incomodada com aquilo e baixou os olhos. No entanto, estava maravilhada com a facilidade que encontrara Claire.

- Qualquer coisa, huh? - Claire indagou. Pulando por cima do balcão, no instante seguinte ela estava diante de Leta, que balançou a cabeça trêmula, porém decidida. Ela precisava ser convincente. Claire a puxou pelo cotovelo e a levou até uma mesa vaga.

- Então me diga... o que você sabe fazer?

- Um pouco de tudo... - Leta sorriu, nervosamente. - faxinar, lavar, cozinhar...

- Fazer sexo...? - Claire interrompeu, incisiva.

Leta arregalou os olhos.

- Ora, vamos... você veio pedir emprego num prostíbulo - Claire desdenhou - achou o quê? Afinal, faxinar, cozinhar... qualquer uma faz, mas dominar a arte de seduzir um homem é para poucas.

Leta recobrou a postura. - Sim, um prostíbulo, porém... - ela passou um dedo pela mesa, coberta de poeira. - pra um local administrado por bruxos, isso aqui não vê uma boa faxina faz tempo, não?

Claire caiu na gargalhada.

- Gostei de você, garota! É, você merece coisa melhor do que oferecer seu belo corpo pra esse bando de desgraçados, ainda que você esteja disposta a isso, afinal, qualquer coisa é melhor que ficar na rua passando fome. - Leta teve que concordar. - Acho que tenho algo para você sim. - Ela deu um aceno com a varinha e alguns papeis flutuaram até a mesa. Enquanto Claire remexia nos papeis, Leta viu que precisava agir.

- Você é a dona daqui? - Ela indagou.

- Provisoriamente.

- E o dono?

- Está viajando.

- Quem é ele?

- O conhecido mafioso e velho dono do Circo Arcanus, Alistair LeFay. Conhece?

Leta deu de ombros.

- Por onde você andou mesmo, hein...? Afinal, qual é seu nome?

Leta pensou rápido.

- Adèle. Mas pode me chamar de Della.

- Della. - Claire fez um gesto com a pena que estava usando. - Gostei do apelido.

- E onde o sr. LeFay está? - Leta tentou continuar a conversa.

- Quando você descobrir me conta que também quero saber.

- E você...? Faz tempo que trabalha aqui?

Claire olhou para ela, apertando os olhos. - Tão interessada... você vai saber mais sobre todo mundo aqui com o tempo... ou não. - Claire estendeu para Leta o papel que estava escrevendo. - Agora, assine aqui.

Leta não teve tempo de contestar ou até mesmo fazer o que Claire mandava, pois naquele momento um silêncio pesado pairou pelo local, até que um grupo distinto de três homens e uma mulher, todos vestindo negro, pararam diante da mesa ocupada pelas duas. Cada movimento era observado por todos no recinto.

- Até que enfim, te peguei no pulo Claire. - a mulher falou. - Agora vamos ter aquela conversinha, sua vagabunda.

- Puta que pariu... - Claire praguejou baixinho.

Amor, Guerra e CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora