Castelo-Estalagem

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Assim que se aproximou daquele "castelo" Quejada achou bastante estranho o fato de não tocarem uma trombeta ou badalarem algum sino anunciando sua chegada. No entanto, no exato momento em que pensava que estava faltando um alguém que viesse recebê-lo, surgiram na porta da estalagem duas mulheres, das do tipo vulgar, com vestidos justos, decotados e curtos, muito adequados segundo seus levianos propósitos. Mas, indiferente, ele nem percebeu a quantidade de pinturas que as moças tinham na cara, denunciando claramente qual era a atividade a qual elas se dedicavam - ele não notou, e muito pelo contrário, acreditou de pronto que aquelas eram certamente duas principais princesas, ou quando não, as tomou por duas damas da mais alta descrição e compostura, e que não podiam estar ali do lado de fora do castelo para nenhuma outra coisa senão recebê-lo com pétalas de rosas e outros gesto mui delicados.

As vulgares, assim que pousaram olhos em quem se aproximava e avistaram um estranho tão coberto por ferros e tão aparatado de apetrechos, assustaram-se. Trocaram exclamações entre si e depois esperaram, sem saber como agir. Quejada, vendo tais hesitações das moças, tomou logo a palavra para não as amedrontar:

- Não temam, donzelas! Que sou de boa intenção e não vim travar guerra contra o vosso belo castelo cá em que habitam! – disse ele com toda a pompa possível, peito estufado, talvez tentando impressionar as moças. Entretanto, as duas mulheres voltaram-se uma para a outra e se entreolharam sérias por um instante, depois não se aguentaram e caíram na maior gargalhada.

Quejada se sentiu bastante confuso e constrangido com a diversão delas, mas esperou para ver o que diziam.

- O quê é o senhor!? – perguntou uma delas com desdém, depois de conseguir se controlar um pouco, pois estava também profundamente curiosa.

- Sou um cavaleiro andante... bem, quer dizer: quase! – corrigiu Quejada ao se lembrar que ainda não fora consagrado. Apressou-se logo a acrescentar: – Peço apenas pousada por essa noite e uma audiência com vossa majestade o rei deste castelo, se é que tal nobre cá aqui se encontra!

Novamente as vulgares deram gargalhadas, e se esbugalharam de rir sem nenhum pingo de respeito ou sem qualquer pudor, achavam graça pelos modos e pelo linguajar que Quejada apresentava. Ele logo se incomodou, como elas pareciam não querer parar com a gozação, ficou irritado a tal ponto que disse de um só grito:

- Quietas! – exigiu zangado. Imediatamente elas se calaram. – Melhor que não se riam tanto, senhoritas: Pois muito riso é pouco siso! Vão já para o interior do castelo e busquem alguém com quem se possa falar sério! – concluiu por fim, e disse isso tudo com tamanha tal autoridade na voz que as vulgares imediatamente se calaram e até o menor sorriso morreu-lhes nos lábios. Percebendo agora que o homem não estava para brincadeiras, e temendo o contrariar, muito mais por não saberem quem afinal ele era de fato, do que por temor de que lhes fizesse algum mal, correram para dentro com a intenção de buscar o dono da estalagem que era quem podia resolver o problema.

Passado um bom pedaço de tempo, elas retornaram. E bem informado sobre o que ocorrera, porque as mulheres relataram muito detalhadamente o que se havia passado, o estalajadeiro sabedor de que um alguém muito diferente estava ali à porta, largou o que estava fazendo às pressas e correu para fora. As mulheres vieram também novamente para lhe acompanhar e, claro!, porque estavam agora curiosíssimas para ver no que é que aquilo ia dar.

Quando o homem saiu enxugando as mãos no avental, já encontrou Quejada desmontado do cavalo, e muito estranhou seus aparatos e sua vestimenta metálica, contudo o estalajadeiro por ser pessoa prestativa e cordial, não o destratou, antes falou com toda simpatia e honestidade que convinha:

Cavaleiro D'AstúriasOnde histórias criam vida. Descubra agora