Consagrado Cavaleiro

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No meio da noite chegaram viajantes para pousar na estalagem. E como já eram acostumados a passar a noite naquela local, acertaram que antes de entrar um deles fosse ao poço dar de beber aos cavalos.

O rapaz nem percebeu que havia ali mais alguém que caminhava silenciosamente. Só que para poder apanhar a água do poço o desavisado teve que descer as armas no chão, e como estava mal-humorado ainda resmungou: - Quem foi o idiota que deixou essas tranqueiras aqui atrapalhando?

Nisso, Quejada ouvindo esses resmungos e vendo que tocavam seus pertences mais valiosos, sentiu-se bastante ofendido e veio e falou:

- Alto lá! Atrevido!

- Nossa mãe! Que susto! – exclamou o rapaz surpreendido.

- Anda, salva já a tua vida, corre daqui depressa! – ameaçou Quejada muito sério e zangado.

- Ah, velhote! Deixa de brincadeira que estou atarefado! – desconsiderou o rapaz lançando fora o escudo que ainda segurava. (Grande erro!).

- Valei-me Dulcinéia meu amor! – vociferou Quejada com os olhos no céu e respirando profundamente. – Ajuda-me, senhora minha, na primeira afronta que a este avassalado peito se apresenta: Não me faltem o vosso favor e nem amparo! - e dizendo todas estas bonitas palavras, alcançou a sua espada de pau, e erguendo-a, com ambas as mãos, levou-a para as costas e inclino-se para trás pegando distância e fazendo mira no rapaz que curvado apanhava a água do poço distraído. Nem sequer pensou duas vezes: Pow!!!

Descarregou com toda a força tamanho golpe na cabeça do rapaz que esse só pode ouvir um estralo e caiu vendo estrelas. Ficou lá caído tão maltratado e estropiado que não mais se pode levantar. Após isto calmamente Quejada apanhou e recolocou no mesmo lugar suas armas e armadura. E voltou a caminhar com a mesma serenidade do princípio. Não sem antes dizer para o moço contorcido no chão:

- Satisfeito agora, delinquente!? Convencido da minha força e arrependido de ter me chamado a mim de velhote!? Viu só como acabou o teu desrespeito!? Responde-me agora, linguarudo! Se o melhor uso da boca não se faz dela fechada! – dizia ele. E como não recebia qualquer resposta, tendo até mesmo os gemidos do pobre se silenciado devido que naquele instante perdera os sentidos e a consciência. Por isso finalizou: - Eu só não te darei outro golpe porque não convém a cavaleiros tripudiar sobre vencidos!

Acontece que nisso chegaram os outros viajantes, os amigos da vítima, saber porque o rapaz tanto demorava, sem notar o que realmente acontecia vieram correndo salvar o companheiro que pensaram estar sendo atacado por um ladrão – e gritaram por socorro fazendo com que todos da estalagem acordassem e saíssem para ver o que ocorria.

- Senhora da formosura, esforço e vigor do meu debilitado coração, este lance é para pordes olhos da vossa grandeza neste cativo cavaleiro, que a tamanha aventura é chegada! – declamava eufórico Quejada, enquanto girava a espada proferindo palavras e golpes para todos os lados, alucinado, evitando que os amigos do ferido se aproximassem dele. E lutava com tanto vigor, agilidade e ânimo, que quem o viu muito se admirou, pois era inexplicável assim tanta energia num velhotinho daquela idade. Então, sem poderem fazer outra coisa, os companheiros do ferido começaram de longe a atacar pedradas sobre Quejada, o qual, rapidamente tentava se proteger anteparando as pedras recorrendo ao escudo redondo de madeira.

- Parem! Parem! – vozeou o estalajadeiro que apareceu sobressaltado de pijamas para apaziguar a briga. – Não percebem que o infeliz é meio-louco!? – disse aos viajantes, que só assim pararam de o apedrejar, e ficaram bastante espantados ao descobrir que não se tratava de caso de roubo ou ladrões - e sim apenas de maluquice.

Cavaleiro D'AstúriasOnde histórias criam vida. Descubra agora