Capítulo 2

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Tiros foram ouvidos ao longe explodindo concreto para todos os lados.

— Temos que sair daqui, venha! — disse Gabriel arrastando Mia pela mão.

Entraram no que restou de um prédio e se esconderam no lugar mais seguro que puderam encontrar. Logo escureceria e eles precisariam de abrigo. Durante noite ao contrário do dia a temperatura caia bastante e o vento cortante arrastava areia junto com ele, não se enxergando nada pela frente.

—Vou dar uma olhada em volta, fique aqui e se esconda.

— Vou com você! — mesmo cansada ela não queria ficar sozinha! Cresceu em meio ao caos e teve que aprender a ser forte a duras penas, mas talvez pela gravidez estivesse mais sensível a tudo isso.

— Volto logo! —disse ele acariciando seu rosto e saindo.

Mia sozinha se encolheu o máximo que pode atrás de um armário tombado. Como tudo que encontravam em suas fugas diárias, aquele espaço era só uma lembrança do um tipo de vida que a muito não existia mais na Terra.

Na porta do armário uma foto antiga chamou sua atenção, um casal e uma criança sorriam. Faziam um piquenique em família em um parque com muitas árvores, mas o que mais a atraiu foi um pequeno animal que o garoto abraçava. Um cão peludo lambia o rosto de seu dono. Ela só sabia que era um cão, pois um dia questionou sua mãe quando viu uma foto em um livro.

Tocou a foto como se pudesse sentir o lugar e as pessoas. Suspirou! Lembranças de sua mãe lhe vieram à mente. Cada detalhe de seu rosto voltou a sua mente de uma forma tão viva que um sorriso surgiu em seus lábios.

— Mia! Venha aqui você pode se machucar! — parou prontamente e obedecendo sua mãe.

Quando era criança não via muito perigo nas coisas. Achava que tudo era diversão, apesar de tanta tristeza ao redor.

Viver de um lugar para o outro em busca de alimentos e se escondendo não era uma tarefa fácil. Principalmente com uma criança pequena.

Seu pai morreu logo que tudo aconteceu, em uma explosão. Sua mãe então grávida se juntou a um grupo de pessoas vagando errantes em busca de abrigo e proteção! Helena foi se tornando forte aos poucos, aprendendo com as adversidades e ensinando Mia a ser forte também!

—Mia! — a voz de Gabriel a tirou de seu transe.

— Aqui! — disse ela se levantando se seu esconderijo.

—Está tudo bem? — perguntou ele preocupado, pois seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Sim estou. —disse ela se apressando em limpar os olhos.

— Vamos ficar aqui essa noite! Encontrei um lugar mais confortável para ficarmos, venha! — disse ele se aproximando ajudou Mia a levantar-se, à abraçando e a conduzindo pelo corredor pouco iluminado. Desceram as escadas que levavam ao subsolo. Com a noite caindo nem os devastadores tinham coragem de sair de seus abrigos.

Gabriel e Mia entraram em uma sala entulhada de caixas de arquivos. Logo no fim da sala uma porta dava acesso a um pequeno cômodo. Não havia quase nada ali, mas o que chamou imediatamente atenção de Mia foi um colchão empoeirado que estava em pé em um canto apoiado na parede. Pelo estado do local e a quantidade de pó ninguém entrava ali há muito tempo. Gabriel teve o cuidado de fechar a porta e travá-la com um armário próximo. Retirou sua mochila e ajudou Mia a limpar um espaço para deitarem o colchão e ficarem.

Há muito tempo Mia não dormia em um colchão e mesmo não estando em boas condições seria prazeroso para ela deitar em algo macio.

Acomodaram-se sentados no colchão e se serviram de uma lata de ervilha, bolachas e água que Gabriel tirara da mochila. Dividiram a comida em silêncio. O cansaço era muito grande estavam andando desde que o dia amanheceu, e era assim nos últimos cinco dias desde que o acampamento que estavam fora atacado e fugiram.

— O que vamos fazer amanhã?— perguntou ela se reclinando sobre o colchão.

— Acho que aqui é um bom lugar para ficarmos por enquanto, quero que você descanse. Amanhã vou dar uma volta por aí e ver se encontro comida e água para então continuarmos andando até Zaraenla.

— Não quero ficar aqui sozinha!

— Você precisa poupar energia para a nossa caminhada. — o olhar de Mia angustiado comoveu Gabriel. — Mas não vamos pensar nisso agora, vamos tentar descansar. Venha cá, me deixe massagear suas costas.

Gabriel a abraçou e começou sua massagem.

Mia sentiu a dor de seus ombros e suas costas ser aliviada aos poucos pelo toque suave das mãos fortes de Gabriel. O sono veio rápido, sendo os dois vencidos pelo cansaço.

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