Capítulo 20

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— Gabriel! — uma senhora de sorriso largo, abordou no corredor com um abraço. — Sara! — disse ele, retribuindo o abraço.

— Que bom tê-lo de volta! Dessa vez você demorou! Já está preocupada! — disse a senhora acariciando o seu rosto.

Grandes amigos ele havia feito naquele lugar, principalmente entre os mais velhos.

— Estava com saudades.

— Eu também, querido! — disse ela, envolvendo em um abraço outra vez.

— Muito trabalho por aqui? —perguntou ele depois de um breve momento de troca de carinho.

— Sim! — respondeu ela. — As crianças têm me deixado de cabelo branco! — completou dando uma risada gostosa.

Como tudo ali dentro, o trabalho era dividido e Sara cuidava junto com mais algumas mulheres das crianças da base, que ao todo eram vinte e uma. Com a esterilização em massa, poucas mulheres conseguiam conceber. E das poucas que não eram capturadas pelos devastadores, eles as protegiam ali na base. Por isso tão poucas crianças.

Tentavam dar uma vida com infância para elas. Por isso, enquanto os pais estavam em seus afazeres, Sara cuidava delas, fazendo durante o dia atividades educativas, recreativas.

— Fiquei sabendo que finalmente encontrou Mia. — enquanto falava, não largava o braço do amigo que estava enlaçado no seu.

— Sim! — disse, dando um suspiro de Alívio. — Encontrei ela.

— Estou muito feliz por você. À noite, você vai me contar tudinho. — disse ela, se afastando um pouco, indicando sua saída. — Meus meninos me esperam.

— Vai lá! À noite, conversamos.

Gabriel passou o resto do dia acompanhando Mia. Vez ou outra, ela acordava e sorria para ele, para dormir segundos depois.

Desde o dia que Mia fora capturada, Gabriel não teve paz. Suas noites eram longas. Dormia pouco pensando no que podia estar acontecendo com ela. Ele sempre teve a certeza de que a encontraria. Seu coração nesse momento estava metade em paz.

Agora precisava encontrar sua filha...

Mia acordou no outro dia com uma aparência melhor. Quando abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi o rosto de Gabriel. Ele dormia com o rosto apoiado em seus próprios braços, que estavam sobre a beirada da cama. Seu sono era profundo.

Ficou quieta observando; seus olhos marejaram, mas o seu sorriso era automático.

Não resistiu e tocou o rosto com dorso dos dedos. Assim que o tocou, ele despertou.

— Oi! — disse ele, sorrindo ao ver seu rosto.

— Oi! —respondeu ela, também sorrindo.

Ele beijou sua testa e depois se espreguiçou para se alongar.

— Como você está?

— Estou bem! — respondeu ela, ainda sorrindo.

— Mas você não parece bem! Ter dormido aí, deve ter acabado com suas costas.

— Estou acostumado a dormir em qualquer lugar. Hoje foi uma das melhores noites de sono que eu já tive. Cada noite que passei sem você foi um tormento, somente pesadelos.

— Bom dia! — disse Débora, batendo na porta e entrando no quarto, interrompendo Gabriel. Ambos responderam o cumprimento. E ela continuou. — Como está hoje Mia?

— Muito melhor, obrigada!

— Você vai ficar aqui um pouco mais por causa da medicação que tem que tomar na veia, mas já pode começar a caminhar pelos corredores.

Os dois fizeram umas perguntas enquanto ela trocava o curativo das costas de Mia depois disso, ela saiu.

Mia logo colocou as pernas fora da cama para se levantar. Não aguentava mais ficar ali.

— Aonde você vai? — perguntou ele, segurando-a na cama.

— Caminhar! — exclamou ela.

— Calminha aí, primeiro você vai comer!

Mia, decepcionada, se resignou e voltou para a cama, comeu que o Gabriel buscou o mais rápido que pôde, parecendo uma criança.

E logo os dois caminhavam pelos corredores da pequena clínica médica.

Mia caminhava com dificuldade, mas não desistia, Gabriel insistia para que ela descansasse um pouco e por fim, ela aceitou.

Gabriel a sentou em um banco e foi atrás de água para ela.

Quando voltava, a encontrou no mesmo lugar e agradeceu mentalmente pela milionésima vez em tê-la de volta.

— Gabriel! — disse uma jovem que veio correndo do fim do corredor e se jogou em seus braços. — Que saudades. Estava muito preocupada com você. Como você está, meu amor? — falava sem parar e sem esperar pelas respostas o abraçando desesperadamente.

Gabriel tentava desvencilhar de seu abraço tentando não derramar água de Mia. Mas ela o abraçava mais forte a cada tentativa

Mia olhava confusa para a cena. Se levantou e caminhou devagar, na direção dos dois.

— Ângela, estou bem!! Você pode me soltar, por favor!? — disse ele, rápido e ríspido.

—Muito a contragosto, a moça se afastou, sem perceber ainda a presença de Mia que os observava.

Gabriel, ao ver Mia de pé, se aproximou da esposa, preocupado a envolveu pelos ombros com seu braço a amparando e dando uma bronca firme , mas condescendente:

— Eu não pedi para você esperar sentada ali! E se você caísse?

Mia não disse nada, somente sustentava o olhar da jovem, que encarava com desgosto.

Gabriel conduziu-a outra vez para o banco. E deu-lhe água.

Mia bebeu sem dizer nada, agora olhava para Gabriel esperando uma explicação.

— Você está bem, está tremendo? —sua preocupação era legítima.

— Estou bem, sim!

Sem aguentar mais, a bela moça de cabelos longos se aproximou inquirindo com grosseria:

— Quem é essa Gabriel?

Gabriel, sem paciência, respondeu:

— Essa é minha esposa Mia.

Ângela ficou branca, parecia que iria ter um piripaque. Deu alguns passos para trás. Depois se virou e saiu correndo em direção de onde viera. 

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