Capítulo 16

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As condições de Mia para caminhar eram difíceis. Seu corpo precisava de alimento, descanso e cuidado, por isso permaneceram ali por dez dias, mesmo contra a vontade de Mia. Só saíram de lá quando Gabriel teve certeza que Mia aguentaria a caminhada sem risco. Ela se preocupava com o tempo, sua filha e amigas que estavam em perigo. Precisava encontrar Rebeca e voltar para libertar suas amigas.

O primeiro dia de caminhada não rendeu muito pela fraqueza e ter ficado deitada tanto tempo. Mia se sentia tonta e Gabriel pacientemente se sentava com ela e esperava um tempo até ela conseguir caminhar.

Apesar de todo o transtorno Mia estava maravilhada de caminhar em meio a tanto verde. Seus olhos brilhavam com cada árvore e arbusto diferente. Se dava ao luxo de parar vez ou outra para admirar uma flor.

Ao que tudo parecia que natureza estava dando um jeitinho de sobrepujar a adversidade.

—Gosta? — perguntou Gabriel a observado tocar uma flor.

— Sim, muito!

—Quando tivermos nossa casa, plantarei um jardim para você!

Mia sorriu. Gabriel sempre positivo pensando no melhor. Mia ao contrário não se atreveria a sonhar enquanto os devastadores existissem.

Com o passar dos dias Mia ficava mais forte e conseguia produzir melhor em suas caminhadas. Acordavam com o primeiro raio de sol, arrumavam suas coisas e só paravam de caminhar vez ou outra para comer algo e depois no fim do dia quando armavam o acampamento.

À noite se abraçavam e conversavam olhando para o céu até adormecerem.

— Todas as noites quando olhava para o céu, as estrelas me faziam lembrar do brilho de seus olhos.— disse Gabriel acariciando os cabelos da mulher que estavam um pouco maiores.

Mia sorriu mas as lembranças encheram seus olhos de lágrimas.

— Quando me trancaram naquele quarto, achei que enlouqueceria. A cena de você caindo de cima do prédio não saia de minha mente. Pensar que não te veria mais era angustiante. — suas palavras se tornaram um fio de voz e o choro extravasou.

—Shiiii! — sibilou ele. —Estou aqui! Tudo vai ficar bem. Vamos encontrar nossa filha, depois um lar pra nós e toda essa tristeza e dor vai ficar no passado.

—Ela se agarrou mais a ele e foi acalentada até dormir.

Depois de dias de caminhada incessante, finalmente chegaram ao destino, Zaraenla!

Mia ficou confusa quando Gabriel anunciou que haviam chegado ao destino.

A sua frente uma enorme montanha rochosa se estendia. Não conseguia ver nenhuma cidade, só pedras e mato.

— Onde está a cidade?—perguntou ela confusa.

— Lá dentro! — respondeu ele sorrindo de seu rosto confuso.

— Dentro?! —repetiu ela incrédula.

— Sim! Dentro da montanha!

— Como assim!?

— A cidade é uma base militar dentro da montanha!

Os olhos de Mia brilharam com a notícia.

— Onde é a entrada? Não vejo nada além de pedras e arbustos.

— Havia uma entrada do outro lado da montanha em sua base, mas foi destruída. Então temos que entrar pelo topo. — disse apontando para cima.

Mia suspirou, a subida levaria pelo menos três horas e com sua situação física seria ainda mais devagar. Seu rosto transpareceu cansaço e desânimo. Gabriel percebeu e disse:

— Não se preocupe, só iremos subir amanhã, de madrugada é mais fresco e mais seguro, não teremos a proteção das árvores para nos escondermos. Subiremos devagar. Hoje você descansa.

Mia queria continuar, mas não via outra alternativa se não esperar, não teria forças o suficiente para subir toda aquela montanha.

Mais uma vez montaram acampamento, enquanto Mia preparava algo para comer, Gabriel dava uma volta pelo perímetro para ver se estavam seguros como sempre fazia.

No retorno ao se aproximar do acampamento parou para observar Mia que calmamente preparava a refeição; seu coração encheu-se de tristeza ao lembrar do tempo em que ficou longe dela. Ao vê-la tão magra, tão machucada, tão debilitada, a raiva tomou o lugar da tristeza. Precisava a todo custo derrotar os devastadores.

Não demorou para Mia o encontrar ali. Seu sorriso se abriu de canto a canto ao vê-lo, isso fez seu coração se desanuviar, caminhou até ela e a envolveu em um abraço suave, devido aos ferimentos, mas sua vontade era de abraçá-la até os dois se fundirem em um só e ela ficar protegida.

— O que foi? — perguntou Mia sentindo seus músculos tensos.

— Não foi nada! Só me deixe aproveitar um pouco o seu calor.

Dormiram o mais cedo que puderam. Gabriel acordou com o alarme de seu relógio de pulso as duas e meia da madrugada. Acordou Mia que dormia profundamente envolvida em seus braços. Prepararam todas as coisa e começaram a caminhada. A subida era lenta e exaustiva. Gabriel ia à frente guiando Mia, parando as vezes quando percebia que a respiração dela se alterava muito. Uma hora e meia depois já haviam caminhado um quarto do caminho.

Continuaram firmes, de tempo em tempo paravam para descansar e tomar água.

— Falta pouco agora! Vá devagar, cuidado com as pedras soltas.

— Ok! — respondeu Mia sem fôlego.

O sol havia saído a pouco mais de uma hora e já estava bem quente. O suor ensopava suas roupas e a água já estava acabendo, precisavam ser mais rápidos, isso martelava a mente de Mia. Gabriel carregava todo o peso sem dificuldade.

A parte final do morro era mais íngreme e com diversas pedras de todos os tamanhos soltas. Gabriel parou de caminhar e calmamente se virou para Mia dizendo:

—Abaixe-se devagar e se deite, faça silêncio absoluto e não se mova. —Mia obedeceu prontamente, apesar de tanto tempo presa se lembrava que não deveria questionar quando ele lhe pedia para fazer algo com aquela cara, algum perigo ele avistara.

Gabriel se deitou ao lado de Mia retirando da lateral da bolsa uma manta, que desdobrou e os cobriu. Ficaram imóveis, as pedras quentes incomodavam suas costas, se permanecessem assim muito tempo não aguentariam o calor.

Vez ou outra Gabriel criava uma pequena abertura levantando a manta para que ele pudesse observar. Havia avistado ao longe um olho, eram observadores, captavam som, calor e movimento. Muito rápidos, silenciosos e pequenos, eram difíceis de serem abatidos e quando eram abatidos enviavam para sua central sua localização e todos os dados que poderiam coletar em seu último instante, por isso o melhor a fazer era se esconder.

A muito ele não via um deles , acreditava até que ele não existisse mais, já haviam destruído muitos, mas agora tão perto da base era perigoso.

Os minutos se passavam tensos, até que por fim Gabriel que observava o olho se afastar, sumir no horizonte disse a Mia:

— Só mais um pouco! Ele está indo embora!

Mia relaxou ao ouvir aquelas palavras. Gabriel tinha o dom de a acalmar. 

2100Onde histórias criam vida. Descubra agora