Capítulo 8

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— Rebecca! Não!

—Ei acorde! —Mia abriu os olhos devagar, sua cabeça estava pesada e doía. Sua visão ainda estava embaçada. A sua frente uma mulher com mais ou menos sua idade a sacolejava.

—Olá! Você está bem? —perguntou a mulher mais uma vez.

—Rebecca! — Mia se sentou rápido olhando para os lados e procurando a filha. Sua cabeça girou e ela caiu deitada mais uma vez no chão. —Minha filha!? Onde está minha filha?

—Se acalme! —dizia a mulher a sua frente. —Você precisa descansar, ainda está sedada. —as palavras foram sumindo devagar de sua mente... Tudo ficou preto.

Frio, muito frio. Mia acordou gelada. Não via nada a seu redor, a escuridão era completa. Um odor fétido queimava seu nariz. Ouvia o som de uma mulher gemendo, o que lhe assustou um pouco.

Sentou-se devagar. Tentou acostumar suas vistas com a escuridão para ver se enxergava algo. Mas não via nada.

—Olá! — chamou. — Tem alguém aí? — se abraçou para tentar se aquecer, estava gelada.

—Oi. — aquela voz, ela conhecia aquela voz. —Você está bem?

—Sim. —respondeu Mia. —Estou somente com frio.

—Se encoste na parede e caminhe, siga minha voz. Venha assentar-se ao nosso lado para se aquecer.

—Eu quero minha filha! —disse Mia em desespero.

—Nós também queremos as nossas filhas!

Mia ficou pasma, haviam outras! A quanto tempo estavam ali?

Escolheu uma direção e engatinhou até encontrar uma parede. Evitou ficar em pé, pois estava um pouco tonta, foi engatinhando apalpando a parede. O chão em alguns lugares sentia algo áspero e gosmento, procurou não pensar o que era aquilo. O cheiro continuava insuportável. Seguia a voz e em alguns segundos tateou o corpo de alguém.

—Oi! —esse alguém disse segurando a mão de Mia.

—Oi! —respondeu Mia aliviada por encontrar alguém naquele escuro.

—Você está bem? —perguntou novamente a voz.

—Sim! Como disse somente com frio. Eu preciso encontrar minha filha. —disse Mia aflita.

—Se acalme. Não dá para fazer nada agora e muito menos nervosa.

O choro tomou conta de Mia, o soluço sacudia seu corpo e o frio já não era tão importante. A estranha abraçou Mia tentando aquece-la e ao mesmo tempo consola-la. Mia chorou até dormir novamente.

Um facho de luz pousou sobre o rosto de Mia que adormecera encolhida encostada em sua nova amiga. Algum tempo depois a luz começou a incomodá-la a acordando. Uma parede descascada, cinza e suja foi a primeira coisa que viu, se sentou observando as coisas ao seu redor.

Da mesma forma que a primeira parede, as outras eram deterioradas. O piso era frio e sujo, baratas corriam pelo chão, muitas delas jaziam esmagadas no chão. Cheirou sua mão lembrando da noite anterior, sentiu ânsia. Infelizmente esse foi um dos poucos bichos que sobreviveram ao caos, ''inseto repulsivo''.

Olhou para as mulheres deitadas ao seu lado. A aparência de algumas era deplorável, pele e osso. E o cansaço era bem claro em seus rostos. Ao todo eram nove que dormiam naquele chão fétido.

Levantou-se e começou a andar pelo cômodo, com aproximadamente uns vinte e cinco metros de comprimento por cinco de largura. Não tinha nenhuma janela. A ventilação somente vinha de uma abertura na parede do compartimento parecido com o de seu antigo quarto de onde vinha a comida. De fora a fora nessa parede quase junto ao teto, havia uma grade de uns quarenta centímetros para a entrada de luz e ar. Não havia nenhuma lâmpada, nenhuma torneira, nem mesmo vaso sanitário, não havia nada ali. Começou a andar em direção oposta de onde estavam deitadas. Pelo que pode perceber as mulheres mantinham a parte onde dormiam limpa como podiam, os dejetos eram depositados no lado oposto da sala, onde o mau cheiro e moscas que também infelizmente sobreviveram, se concentravam. Não chegou ao final da sala o cheiro era insuportável.

—Como você está? —sua nova amiga perguntou logo atrás dela.

Mia virou-se e encontrou uma mulher magra e abatida, que lhe sorria transmitindo confiança.

—Estou bem, mas muito preocupada com Rebecca.

—Imagino que sim! Linda também foi tirada de mim a dez dias. —disse ela abaixando os olhos tristonhos.

—Sinto muito! —Mia se sentia envergonhada por fazê-la se sentir assim.

—Meu nome é Andréa. —disse estendendo a mão.

—O meu é Mia. —respondeu apertando-a.

Se afastaram das outras que ainda dormiam, encostaram na parede se sentando no chão. Durante a conversa Andréa fez um relatório de como foi parar ali e como era a vida desde que chegou àquela sala.

Só tinham direito a um pedaço de pão e uma garrafinha de água por dia, não tinham banho, nem banheiro, não tinham direito a nada.

Nesse interim as mulheres começaram a acordar, cada uma delas se apresentando e contando a mesma história que a sua. Todas foram raptadas grávidas, tiveram seus bebes no confinamento, ficaram três anos com eles, depois deste tempo os bebes foram tomados delas e elas jogadas ali para morrer lentamente. Contaram que na semana anterior uma havia morrido, depois de alguns minutos, um dos devastadores entrou no local e retirou o corpo. Bárbara era a mais velha ali, já estava lá a três meses, contou que quatro mulheres morreram ali desde que chegou, uma dessas já estava lá a sete meses. Algumas delas desapareciam por alguns dias e depois reapareciam sem se lembrar de nada e com marcas de agulhas por todos os lados. Tudo ali parecia um circo de horrores.

Mia queria chorar mas não podia, não era justo com aquelas mulheres que sofriam tanto quanto ela e a mais tempo que ela. O que eles queriam com suas filhas?

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