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    Eu sentia que ele ainda estava me seguindo. Tentava apressar os passos, mas ouvia os dele se apressando ao mesmo ritmo que os meus. A rua estava deserta, os sinaleiros começavam a piscar alertando que já era meia-noite.

    Então parei. A brisa fria batia em minhas costas fazendo meu cabelo ser jogado totalmente para frente. Conseguia sentir a presença dele, parado a poucos metros de mim; a sua respiração calma e alta quebrava o silêncio que nos envolvia naquele momento.

    Sabia que se eu não entregasse para ele, o mesmo podia continuar me seguindo ou até mesmo me matar. Já estava cansada disso, de fugir, de me esconder. Encorajada pelo medo, me virei e o olhei nos olhos, aquela pele flácida e desconfigurada, aqueles olhos sem vida e exaustos que me fitavam sem transmitir nenhuma expressão ou sentimento. Lentamente tirei o motivo de todo aquele transtorno, de todas minhas noites sem sono, de toda minha angústia, de todo meu medo. Estava disposta a lhe entregar, me causava um alívio só de pensar que toda a minha vida antiga e normal voltaria a fazer parte da minha rotina atual, mas também me causava dor ao pensar que, aquilo tinha um valor sentimental muito grande para mim e eu o deixaria escapar tão facilmente assim de minhas mãos.

    Quando estendi a caixa preta ele abriu um sorriso amarelado, fechei meus olhos fazendo algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto. Ele estava quase a pegando quando de repente um carro preto, moderno, de porte grande o atropelou jogando-o contra a parede, fazendo ele cair e ficar estirado no chão, imóvel.  Com o susto que levei, deixei a caixa cair e jogar o objeto para longe, avistei algo refletir com a luz do poste, então me aproximei e o guardei na caixa novamente. Um dos homens que estava dentro do carro, saiu e se abaixou, segurando em meu ombro.

    - Você está bem? Se machucou? - me virei para o olhar.

    Ele era alto, sem dúvidas, seu cabelo era castanho e um pouco comprido, cobria uma parte de sua testa, e seus olhos eram azuis, formando uma combinação perfeita de beleza natural. Conseguia sentir as suas mãos grandes, leves e quentes sobre meu ombro, era um toque reconfortante.

    - Sim, sim eu estou. - disse me levantando e guardando a caixinha na bolsa.

    - Desculpe pela nossa chegada... - disse sem graça.

    - Quem são vocês? - disse olhando para outro homem que ainda estava dentro do carro, que por sinal estava nos encarando.

    De repente o homem que estava no chão começou a tossir e a levantar chingando.

    - Não temos tempo para explicações agora.

    - Vamos Max! O cara está acordando. - o homem que estava dentro do carro dizia.

    - Entre no carro! - um deles me mandava.

    - Eu nem conheço vocês.

    - Por mim fique aí. É você quem vai morrer mesmo.

    - Cale a boca, Liam. Por favor,  venha conosco. - o rapaz gentil dizia.

    Então corri e entrei no carro, antes mesmo de fechar a porta o homem arrogante - o que dirigia - chamado Liam, deu ré e acelerou, seguindo a Lindsford Street.

    - Acham que ele vai nos seguir? - perguntei vendo ele parado se afastando cada vez que passávamos algumas ruas até desaparecer.

    - Não, mas é bem provável que continue te perseguindo. - Max (o gentil) disse.

    - É, disso eu sei.

    Seguimos o caminho inteiro em silêncio, até chegarmos num estacionamento de hotel. Pegamos o elevador e subimos até o terceiro andar, depois Liam abriu o quarto 212. Ambos tiraram suas jaquetas e as colocaram em cima das cadeiras.

    - Sente-se. - Max disse educadamente.

    - Não pretendo ficar aqui por muito tempo. Então não, obrigada.

    Eu realmente não queria ser grossa com ele. Mas não podia dar corda para conversa.

    - Se fosse você sentava, porque a conversa vai ser longa. - Liam dizia sarcástico.

    Levantei uma de minhas sobrancelhas para ele e cruzei meus braços. Então me ignorou e foi até a cozinha para pegar uma cerveja. Max suspirou e deu um meio sorriso, como um gesto de pedido de desculpas pelo comportamento de Liam.

    - Bem, eu sou Max e ele é Liam. - ele tinha olhos azuis também e cabelo preto e curto, tinha o mesmo tamanho que Max, só que sem dúvidas não era nada igual a ele. - Nós somos irmãos e estávamos a procura de você.

    Ah ótimo! Mais dois loucos atrás de mim... Isso não pode ficar pior.

    - Como assim "a procura de mim"?

    - Não somos daqui, moramos em Newton por isso estamos em um hotel. Desde que viemos para cá tentamos descobrir tudo sobre você, Luane.

    - Mas por que eu?

    - Acho que você sabe muito bem o porquê. - Liam disse sem me olhar, fitando um jornal, deitado no sofá.

    - Você tem aquilo. O mundo estará correndo perigo se não entregá-lo para nós.

    - Como assim "perigo"? - sentei-me no sofá.

    Os dois se entreolharam e depois voltaram a atenção para mim.

    - Você não... - Max deu outra olhada rápida para Liam, que agora me olhava preocupado - não sabe?

    - Sabe do quê?

    Ele ficou quieto.

    - Max! - disse apelando para que ele me contasse - O que está acontecendo?

    - Ah... Essa vai ser uma longa noite. - Liam disse se espreguiçando e foi para algum lugar que eu não prestei atenção.
    - Luane... Quem te deu?

    Demorei um pouco até perceber que ele estava se referindo ao objeto que estava dentro da caixa.

    - Meu pai.

   

Objeto SagradoOnde histórias criam vida. Descubra agora