Capítulo 1

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-Vocês não vão me colocar em uma clínica novamente - grito exaltado.

Os homens de branco não dão a mínima para o que estou falando e amarram-me para me colocar dentro da van.
Eu não posso acreditar que eles me acharam! Eu rodei essa cidade de cima a baixo até achar um esconderijo confiável. Eu só quero ficar no meu canto, usando as minhas drogas, na minha.

-O senhor vai colaborar ou vamos ter que medicá-lo? - um homem alto e forte me pergunta.
-Eu não quero ir - choramingo baixinho.
-Então quer dizer que o machão é todo sensível? - um outro enfermeiro ri de mim.

Fico quieto e abaixo a minha cabeça. Agora é a hora de eu ficar quietinho e esperar a primeira oportunidade para fugir, assim como eu fiz nas 5 outras clínicas que a minha família adotiva me colocou.

Após pegar mais alguns dos moradores de rua, eles fecham a van e seguimos rumo a mais uma clínica de reabilitação. Eu não quero sair dessa vida! Se eu quisesse eu já teria saído. Mas os meus pais adotivos insistem em se intrometerem em minha vida.

...

Acordo quando sinto mãos me erguendo do assento da van e levando-me para fora. Esse banco da van é tão confortável que não consegui resistir ao sono. Faz tempo que eu não sei o que é dormir uma noite inteira de maneira tão confortável.
Logo que chegamos na clínica fico estupidamente decepcionado por ver que o sistema de segurança é bem reforçado. Além de todo o aparato físico da construção, como câmeras e cercas elétricas, também vejo vários seguranças rondando o lugar. Acho que fugir daqui vai ser mais difícil do que eu imaginei.
O local é muito bonito, não posso negar. Apesar de estar escuro, por ainda ser de madrugada, consigo ver que a construção é nova, e o local foi muito bem planejado, desde a construção civil, até a área arborizada. Os funcionários daquela clínica nos separam em filas, e os que insistem em lutar são amarrados e rapidamente direcionados para um corredor à direita. Eu decido ficar na minha, quanto mais quieto eu ficar, menos problemas e maiores as chances de conseguir fugir.

-Acho que todos sabem por que estão aqui, e agora não adianta pagarem de cínicos - um senhor de meia idade começa a falar. Ele tem os cabelos grisalhos e está de terno, saiu alguns minutos atrás de uma linda porta de madeira que tem no hall de entrada - Nossa clínica de reabilitação chama-se House of Love, a famosa Hol. Trabalhamos com viciados em todos os tipos de drogas. Nosso processo não tem duração definida e varia de acordo com o paciente, ao contrário de tantas clínicas por aí, queremos garantir, além da reabilitação total do paciente, a sua inserção na sociedade, tendo em vista que ao saírem daqui a vida continua. Já adianto para vocês que não há a menor possibilidade de vocês fugirem daqui, temos um sistema de segurança de última geração, além de profissionais treinados na área. Agora vocês podem escolher em ter uma estadia tranquila, na medida do possível, ou um inferno de estadia, que também será um prazer para todos nós - ele sorri de uma maneira provocativa que me faz querer sumir desse lugar - Nosso objetivo não é ser legal mesmo, se conseguirmos colocar na cabeça de vocês 50% de tudo que vamos viver nos próximos meses, já vamos estar muito felizes. Ah, nem me apresentei. Muito prazer meu nome é Lúcio, sou o dono da clínica e poderei ser o melhor amigo de vocês. Ou o pior inimigo, vocês podem escolher.

Essa não foi a maneira mais agradável de nos receber. Os enfermeiros começam a nos dividir em grupos de acordo com o vício de cada um, pois o tratamento e a atenção serão diferentes. Eu fico no maior grupo, onde estão os viciados em todo e qualquer tipo de droga. Somos direcionados para uma porta na lateral esquerda do hall, e caminhamos sobre uma grama verdinha até um enorme portão de ferro repleto de arame farpado e cerca elétrica.

-Vamos entrar na área dos viciados grau 5, que é o nível em que todos vocês se encaixam. No primeiro momento, vocês serão mantidos na maior parte do tempo, dentro do quarto de desintoxicação, esse processo tende a durar até quatro meses, mas é muito individual de cada paciente - a enfermeira gordinha diz abrindo o portão para nós passarmos em fila indiana - todo o período que estiverem aqui, vocês terão acompanhamento médico e psicológico para vermos o progresso individual de cada um. Trabalhamos também com um sistema de enfermeiros específicos para cada paciente, provavelmente vocês serão acompanhados por dois enfermeiros durante a estadia de vocês, um durante o dia, e um outro pela noite. Nós gostamos que os pacientes se sintam confortáveis com os nossos profissionais, e acreditamos que isso só é possível com a convivência diária. Portanto, vamos direcionar cada um de vocês para o enfermeiro responsável. Agora vocês irão conhecer o enfermeiro que trabalha pela madrugada, e amanhã as 7 da manhã conhecerão o enfermeiro do outro turno.

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