Capítulo 2

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Acordo ao sentir um forte sol invadir o quarto. Abro os olhos lentamente e estico meus braços relaxando confortavelmente na cama. Nossa, que noite maravilhosa, que sono incrível, que conforto! Ao mesmo tempo que a sensação de satisfação me invade, sinto a imensa necessidade de usar droga, qualquer uma que seja. Deve fazer umas doze horas que estou limpo, e isso me deixa numa euforia cruel. Mas acho que consigo me controlar por mais algumas horas se eu me distrair. A fome que estou sentindo é uma boa distração, por isso me levanto e vou tomar um banho para ir tomar café da manhã. Após feita toda a minha higiene aperto a campainha que tem ao lado da cama e em poucos segundos uma menina entra no quarto. Ela é alta, com a estrutura magra, mas o corpo é bem bonito. Seus cabelos pretos estão lisos na altura da clavícula, sua pele é bem lisinha e branca e seus olhos exibem um tom de verde claro.

-Bom dia Alex - diz sorridente - o senhor tem trinta minutos para tomar o café da manhã antes do refeitório fechar para o almoço.
-Ok, estou indo.
-Ah, eu sou a Luara e vamos passar o dia juntos, tudo bem? - ela segue ao meu lado pelo corredor em direção ao refeitório - você promete ser sincero comigo?
-Posso tentar - digo sem olhar em seus olhos - por exemplo agora, estou louco para comer uma pizza de quatro queijos, a minha favorita por sinal - ela sorri.
-Agora? Bem no café da manhã?
-Sim, com um copão de Coca-Cola.
-Eu ficaria no cafezinho preto com um pão francês mesmo...
-Serve também.

Entro no refeitório, que hoje está mais cheio, mas nem tanto, e vejo todos os pacientes tomando café com os seus enfermeiros. Em minha bandeja coloco leite com café, bolo de fubá, misto quente, e uma grande e generosa porção de frutas. Luara vem atrás de mim pegando algumas coisas também e sentamo-nos em uma mesa no canto direito do refeitório. Começo a comer em silêncio e evito olhar para Luara, não me sinto confortável com uma presença feminina há muito tempo.

-Você tem quantos anos? - ela pergunta.
-24, e você? - pergunto mais por educação do que por interesse.
-Tenho 22 anos. A barba te envelhece bastante, posso fazê-la se quiser.
-Eu gosto dela assim.
-Tudo bem.

Terminamos a refeição, e agora sem a sensação de fome para chamar a minha atenção, a vontade de usar droga é ainda maior.

-O dia de hoje é bem cheio, começamos com a parte médica. Nossos profissionais irão fazer diversos exames para te conhecer melhor e saber seu real estado, pausa para o almoço, e depois vamos direto para uma palestra superlegal sobre vícios e afins, é bem descontraída você vai gostar. Pausa para o café da tarde, e terminamos o dia com uma roda de conversa com diversos pacientes da clínica. Então o Ian chega para jantar com você e acompanhar o seu retorno para o quarto e a sua noite.
-Certo.

O dia realmente foi bem corrido e isso fez com que eu esquecesse sutilmente o meu vício. A palestra, apesar de bem engraçada, não disse nada que eu não soubesse. Sobre os riscos e consequências do uso de drogas. E por fim, a roda de conversas com pacientes foi legal para que eu pudesse enxergar como a situação em que vivo é mais comum do que eu imaginava. A melhor parte de tudo foi as belas refeições que eu fiz durante o dia, cinco no total contando com a ceia noturna, esse é um recorde dentro desses seis anos no mundo das drogas.
Quando voltei para o quarto, no final da noite, eu estava no meu ápice de abstinência, e rapidamente Ian percebeu isso. Num momento estávamos em uma bate-papo agradável, e em outro eu já estava sendo grosso e ignorante sem motivo. O enfermeiro saiu do quarto e eu bato na porta com força, mas paro ao ouvir Ian falando alto e grave no telefone.

-Quarto 508, bloco B, viciados grau 5, surto de abstinência.

Em poucos minutos eu fiz daquele quarto uma bagunça, ao tentar quebrar tudo e não conseguir contentei em espalhar as roupas pelo quarto, arremessar a cadeira de um lado para o outro e somente isso. Não tinha percebido que tudo ali fora planejado para que, quando a abstinência viesse, eu não conseguisse me machucar e estragar nada. Mas tudo durou pouco e logo fui contido por quatro homens gigantes que seguraram fortemente o meu corpo, e me tiraram do quarto arrastado.

START - Uma nova históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora