Goowens

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- Olha... andamos o caminho inteiro em silêncio. E você até agora não me disse nada.
  - Hope, sabe por que te conheci? Para te proteger.
  - Me proteger de quê?
  - De tudo. Tudo o que está por vir. Você não conhece o Jesper, e nem a si mesma.
  - O quê? Como assim? - o empurrei de costas para mim. - Seus ferimentos estão com algo branco dentro, não sei o que pode ser. Osso exposto? Está ficando pior?
  - Isso é uma maldição Hope. É isso! - sua expressão foi ficando séria.
  - Maldição? O que está insinuando?
  - Estou insinuando que o mundo é grande, e não poderia viver só humanos nele. Assim como também não será dominado somente de animais. Tem de tudo, tudo é possível. E eu vim para te proteger, ficar ao seu lado.
  - Tá bom. Você tem sorte, porque eu sou uma garota com a mente muito aberta. O que você é? Vampiro? Zombie? - ri. - Já quis muito essas coisas. Acredite...
  - Posso ser seu anjo da guarda. Serve?
  Um bala foi disparada na minha direção, e rapidamente algo se ascendeu. Uma luz. Eu não conseguia enxergar nada, estava tudo branco, e muito claro... Eu estava cega? A claridade foi diminuindo, e ali estavam elas. Asas enormes em minha volta, me abraçando. E eu estava ali, dentro do abraço de Tyler.
  Não estava chocada com a revelação de Tyler. Sempre acreditei nessas coisas "fictícias". Mas era isso mesmo? Eu ia ser baleada? Por quem?
Olhei em volta. Vi um homem todo de preto, com uma arma muito diferente em suas mãos, que eu não sabia certamente o que era. Ele estava com o rosto muito vermelho, e seus olhos eram cinzas. Antes que eu pudesse achar mais características naquele demônio, adormeci.

  - Jasper? Jasper? - eu estava acordando, bem sonolenta e confusa.
  - Está tudo bem, você está em casa. É o seu quarto. - ouvi a voz de Tyler sussurrando.
  Olhei em volta, ele estava sentado na beirada da cama. Que horas são? Olhei para o criado ao meu lado, meu celular estava ali. Duas da manhã. O quê? O que aconteceu?
- Tyler?
  - Hope, eu te trouxe pra cá, dorme e descansa. Amanhã eu te conto tudo, prometo.
  - Cadê o Jesper?
  - Eu não sei, mas vou descobrir. - ele saiu.

  Meu despertador tocou, dei um pulo na cama. Que sonho... que sonho foi esse. Horrível. Eu precisava de um banho, isso sim. Me dirigi ao banheiro do meu quarto, e enchi a banheira com água morna. Meus pés tocaram as águas, e logo depois, todo o meu corpo. O que está acontecendo comigo? A solidão está me deixando louca? Prendi a respiração, e me afundei na banheira, molhando todo o meu rosto e o meu cabelo. Abri os meus olhos debaixo d'água, vendo o teto do ambiente todo embasado.
  - Goowens estão despejados a morte. Goowens estão despejados a morte. - ouvi sussurros dentro da água entrando nos meus ouvidos como se estivessem saindo de caixas de som muito altas. - Aaaaaa!!! - Voltei para a superfície rapidamente. O que foi isso? Meu corpo se estremecia pelo medo.
  Algo sussurrou ali dentro, debaixo da água nos meus ouvidos. Goowens? Algum nome relacionado a cidade? O que isso tem a ver? Quem falou isso? Pisei no tapete vermelho a uma distância da banheira, me enrolando na toalha branca com tecido macio. Eu estava com medo. Preciso contar isso para alguém. Ou para o Jesper, ou para o Tyler.
  Peguei meu celular, liguei duas vezes para Jesper. Droga, caixa postal. Por que nunca me atende quando eu preciso? Ok... Tyler. Cadê? Aff... não tenho o seu número.

  Na entrada do colégio, estava Jesper. Com os olhos vermelhos.
  - Oi baby. - disse ele.
  - Perdeu o celular? - eu estava com raiva, mas tentando disfarçar.
  - Não estava podendo falar na hora. Desculpe.
  - Uhum. - não estava interessada na desculpa.
  - Olha, sobre ontem, eu e o Tyler brigamos. E não acho que podemos nos entender. Não por agora. E se manter ele por perto, as coisas vão se complicar. Não dá para processar tudo de uma vez.
  - Se me contasse mais sobre a sua vida eu saberia o que fazer. Agora ele é meu amigo. Eu acho que desmaiei ontem, e foi ele quem me levou para casa.
  - Tá bom, como quiser.
  - Você perdeu meu treino ontem, o primeiro. Fiz uma amiga nova, Poppy Young.
  - Sei, sei... ela é doida.
  - Conhece ela? - fiquei surpresa.
  - Lógico! - quando ia dizer mais, algumas vozes desconhecidas preencheram o ambiente interrompendo toda a tensão.
- Black!!! Por onde andou cara? Você tá sumido. E aí, vai aparecer na festa hoje a noite? - com certeza, algum amigo idiota do Jesper.
  - Claro que vou né. Nos encontramos lá! - afirmou Jesper com toda a certeza do mundo sem nem ao menos me consultar.
  - Jesper, que festa é essa? Ia me convidar? - estou um pouco cansada da sua vida privada demais.
  - Você pode ir. Tenho aula agora, vou chegar atrasado, beijo. - me deu um abraço rápido e partiu. Me senti infeliz.

  A aula acabou, e até agora nada do Tyler. Eu mal o conhecia, mas por mais estranho que pareça, senti falta dele.
  Depois de ontem, por que ele tinha que desaparecer hoje? Não ia voltar comigo para casa? O mesmo caminho... Ainda bem que não está chovendo, mas toda essa neblina ardia os meus olhos. Depois de andar meia hora, resolvi atravessar a rua de casa e bater na campainha de Tyler. Uma chave do lado de dentro virou duas vezes, e a porta foi destrancada.
  - Oi. - disse Tyler, que estava sem camisa e de toalha amarrada em seu quadril.
  - Você está bem?
  - Peguei uma gripe com toda aquela chuva de ontem. Só isso. Quer entrar princesa?
  Gripado? E exposto desse jeito só de toalha? Decidi não render. - Quero sim, mas não sou princesa. - gostava quando ele me chamava assim, fui entrando pela porta.
Sua casa tinha arranjos antigos, e não tinha nenhum porta-retrato da família.
  - Seus pais não estão em casa? - perguntei.
  - Eles mal ficam. Viajam muito. - falou com a voz rouca.
  - Ei, você parece mal. -me preocupei.
  - Está tudo bem Hope. Agora me diz, você se lembra do que aconteceu ontem?
  - Eu acho que tive um sonho muito estranho essa noite. Aquele tipo de sonho que você não sabe se é real, ou ilusão. Me fala a verdade, o que aconteceu? - supliquei.
  - Isso. - saiu andando para que eu o seguisse como se tivesse algo a me mostrar. - Seu sonho é real, eu sou um anjo. Isso significa que tenho uma alma e um corpo, que passam por processos, mas sou imortal. Antes de chegar a esse mundo, vi sua punição. No seu aniversário de dezessete anos, coisas ruins aconteceriam com você, até entrar em estado de coma. - ele me entrega um livro. - Está sendo fácil te contar porque sei que suas memórias foram apagadas, mas que sua cabeça ainda ficou aberta para esse assunto. Sei que acredita.
  - Eu acredito. Pode parecer estranho, mas eu acredito. Mas como assim punição? Estou sendo punida pelo o quê? - seguro o livro que ele estava lendo aquele dia escorado na árvore (reconheci pela capa), que por acaso, tem fotos antigas com a nossa imagem.
  - Você cometeu traição Hope. Todos nós traímos de alguma forma. Mas você mentiu, e amou dois anjos opostos um do outro ao mesmo tempo, e não escolheu nenhum dos dois. Quando houve uma explosão pela fúria dos céus, houve um recomeço, aqui na terra. Eu fui amaldiçoado como um anjo permanente e preso aqui nesse vagão. Mas você... foi de uma maneira pior. E está para acontecer.

Um Lugar Chamado LightgoowenOnde histórias criam vida. Descubra agora