Cap 8

736 81 21
                                    

Diogo

Ela olhou ao redor e franziu a testa quando abri a porta do quarto.
Todo mundo sabe que cruzeiros não são conhecidos por terem quartos excepcionalmente grandes. Esse não era diferente.
Apesar de ser uma cabine com varanda, uma das mais luxuosas do navio, Ainda assim era pequena se comparada com os quartos da minha casa.
Fingi que não percebi seu constrangimento visível nas suas bochechas rosadas que a deixavam cada vez mais sexy, e tirei a camisa.
Indo em direção a minha mala que já estava no quarto.
Revirei minhas roupas até encontrar um shorts e uma camiseta que queria.
Lorena continuava parada perto da porta, encarando o chão.
- olha, se vamos ter que fazer isso, aproveite- falei tentando quebrar o clima estranho.
- aproveitar o que?- ela perguntou incrédula.
- a vista- disse sentando na cama e cruzando as pernas.
- a qual vista você se refere?- perguntou olhando atentamente para mim.
Gargalhei dessa vez. Seu sarcasmo mostrava que ela tinha entendido como tudo que eu dizia tinha segundas intenções.
- qual você achar interessante. Pode desfrutar das duas se quiser.
Seus olhos tentavam olhar para a varanda que reluziam o azul da imensidão do mar e ao mesmo tempo seus olhos a traiam, buscando focar em alguma tatuagem no meu peito.
Percebendo que eu a observava, ela deu os ombros, como se não se importasse.
- não há nada que me importe nesse lugar ou em qualquer outro. Se você puder se manter vestido perto de mim, e me deixar sozinha no quarto o máximo possível de tempo, vou agradecer.
A forma como ela disse que não tinha nada que importasse em nenhum lugar, não me passou despercebida. Conhecia bem aquele sentimento.
Fiquei curioso para saber o que tinha acontecido com aquela mulher para chegar ate aquele lugar. Mas sentimentalismos não se aplicavam a mim. Deixei de lado.
Levantei da cama, pegando no seu ombro, fazendo com ela fosse obrigada a olhar nos meus olhos.
- você está aqui comigo e não vai ficar trancada nesse quarto. Não é uma prisioneira, não é uma criminosa. Vai aproveitar esse cruzeiro e depois vamos voltar pra vida real e decidir o que vai ser.
- não dá.
Ela retesou o corpo.
- porque?
- sou seu prêmio. Se aceitar sair com você é curtir essa viagem como você quer, é isso que vou fazer, ser a prostituta que eles querem. Você ganhou um produto e vai usufruir.
As palavras chegaram como um soco na minha cara.
Ela estava me acusando de algo que eu não estava nem de longe cogitando fazer. Em momento algum olhei para aquela mulher como uma prostituta e tinha deixado isso bem claro.
- quando eu quiser uma prostituta, vou ligar alguém que saiba o que está fazendo. Não uma garota virgem que não vai saber nem tirar as minhas calças. E como disse antes, não preciso pagar para ter mulheres.
Ela retesou o corpo. Os olhos brilharam pelas lágrimas. Tinha sido cruel.
- saia de perto de mim. Me deixa sozinha- ela sussurrou com desespero.
- infelizmente não posso fazer isso. Você se colocou nessa situação, se vendendo para esses caras. Agora se faz de mulher regrada que não pode ser confundida com prostituta- parei tentando controlar minha raiva. Nunca fui bom nisso- não sei o motivo que a fez vender sua virgindade, só que agora que o fez, sou obrigado a ficar de baba de você até ter certeza da merda se meteu. Não sei se tem alguém te seguindo aqui.
- você não entende nada!- ela gritou- babaca!
- nem quero entender. Eu quero que você entre naquele banheiro, coloque um shorts e me acompanhe. O assunto encerra aqui. Se eu estou no quarto, você também está. Se saio, você também. Compreende?
Ela assentiu, derrotada..
- que bom- bufei- entenda, Lorena, que você não está brincando com amigos. Você se envolveu com bandidos.
Peguei minhas roupas em cima da cama e fui para o banheiro, batendo a porta com força.
Droga!
Nunca precisei cuidar de ninguém. Isso não daria certo.
Me troquei rapidamente e quando voltei para o quarto, ela já tinha trocado o jeans por um short curto e a blusa de manga por uma regata.
Tentei não ficar babando por suas curvas perfeitas, me concentrando na raiva que estava por aquela situação toda.
Como eu iria trazer uma mulher para o quarto? Impossível. Estava literalmente de baba da Lorena.
Abri a porta do quarto, dando passagem a ela, sem falar nada. Fomos caminhando até o elevador. Ela me seguiu, sem me olhar nos olhos. Parecia magoada.
Subimos até o deck da piscina, peguei uma cerveja no bar.
- quer beber alguma coisa?
- só uma água.
Peguei a bebida que ela pediu.
De longe, avistei a roda de "amigos" e alguns familiares.
-está vendo ali - abaixei perto do ouvido dela e falei. Ela era muito mais baixa que eu- vou te levar até lá e te apresentar até aquele bando de idiotas que vieram pro casamento.
- quem são?- ela perguntou se virando curiosa.
- a Julie, minha irmã você já conhece. O cara com sorriso idiota que não para de babar por ela é o Joe, o marido dela, um dos empresários mais importantes de São Paulo. Do outro lado - apontei para o lado direito perto da piscina - é Mike, um dos melhores advogados que conheço, mas que perde qualquer causa diante da mulher que já botou até fogo no seu apartamento.
Lorena soltou uma gargalhada divertida.
- sério isso?
- muito sério- afirmei- a mulher dele, Clarisse, é a de vestido dourado que está abraçada com ele. Ela é o tipo de mulher que não importa se estiver usando uma bolsa da rua vinte cinco de março ou de Milão, você sempre vai achar que ela pagou uma fortuna. Clarisse tem classe, só não tem cérebro. E por último e sozinho está o noivo da vez , Leon, este eu quero te apresentar pessoalmente. Vem!
Peguei ela pelo braço e fui em direção a eles, já me divertindo.
- ora, ora se não é o bando de patetas - falei chamado atenção de todos, abrindo espaço na roda.
Leon já me desferiu um olhar de ódio. Ele sempre teve ciúme da Megan. Era exatamente por isso que eu estavam no casamento.
Lorena ficou para trás, na defensiva.
- achei que você não viria, Diogo - Mike falou com pouco de raiva.
- eu não perderia o casamento da Megan por nada. Alias- encarei leon - eu estou de mãos vazias porque já deixei o presente lá com ela e pelos agradecimentos que ela me ofereceu, adorou.
Abri um sorriso, esperando um soco.
- seu filho da puta- leon, disse, já vindo pra cima de mim.
- pode ir parando por aqui- Joe se colocou no meio- você não vai estragar esse casamento, não mesmo!
- eu não quero estragar nada. Eu quero aproveitar tudo. Isso inclui a lua de mel.
- qual é o seu problema? Clarisse soou perturbada pelas minhas palavras com duplo sentido.
- nenhum. Estou perfeitamente bem- falei parecendo relaxado.
Algo que eu fazia bem. Disfarçar. Meu corpo se mantinha em uma postura que qualquer pessoa ali nem desconfiaria que eu estava pronto para o ataque, que meus músculos estavam todos contraídos, minha mandíbula rígida de tal forma que já sentia as dores musculares por todo o rosto.
- vamos sair daqui?- Lorena se aproximou tocando levemente no meu braço. Foi como se aquilo me desarmasse completamente.
Perdi o foco de tudo que estava fazendo e me virei para ela, lembrando de que tinha mais alguém ali que importava e que por um segundo eu tinha me esquecido completamente.
Tinha medo dentro dos olhos dela....e tinha compaixão.
- vamos sair daqui. Já deu, Diogo- ela implorou com palavras suaves.
O meu descuido foi suficiente para que leon se virasse a acertasse um soco em cheio no meu queixo, me jogando no chão, por estar despreparado.
Senti a ira crescer dentro do peito. Não por ter apanhado. Pela forma como aquela mulher me colocava, como ela me deixava frágil.
Me levantei e tentei revidar no mesmo instante, sendo segurado por Joe e Mike.
- sai daqui- Joe falou- esfria sua cabeça. Ainda da tempo de você descer do navio e não estragar o casamento da Megan, porque apesar de todas as merdas que você faz, aquela mulher  é a sua única amiga. Respeite ela no dia mais importante da vida dela.
Ignorei tudo, procurando por Leon, que já tinha sumido da minha vista. Eu queria revidar. Precisava extravasar minha raiva em alguém.
Olhei para Lorena que perdida, procurava por socorro se colocando na minha frente.
- sai daqui- falei baixo, querendo na verdade gritar com ela- some da minha frente.
- onde você vai? Onde eu vou?
- não interessa. Você que comece a se cuida sozinha pois já está bem grandinha. Tô se saco cheio de ser sua babá- apontei o dedo na sua cara, falando em tom de ameaça- e não se meta em confusão, ou eu acabo com você.
Sai de lá, sem me importar com nada.
Passei mão pela boca que estava ensanguentada. O soco tinha deixado alguns cortes por dentro na minha gengiva.
O gosto de sangue era algo que eu já estava acostumado. A dor do soco, também. Mas a dor no coração era algo novo pra mim.

Inexplicável amor  (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora