Cap 10

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Diogo

Inexplicável! Eu sempre adorei essa palavra. Ela refletia tudo na minha vida.
O mundo vive buscando explicações, o porque de todas as coisas, de onde viemos, pra onde vamos.....
Por muito tempo, eu fui como essas pessoas, tentando compreender toda a minha vida. Até que simplismente percebi que o inexplicável é que torna tudo fascinante. Não saber as origens do ser humano, faz com que até hoje cientistas e estudiosos dediquem suas vidas em teorias infundadas, complexas e sem consenso.
O inexplicável se torna imortal, é eterno.
Se tivéssemos todas as explicações para a criação do mundo, hoje seria só uma matéria sem importância nos livros escolares.
Por muito tempo eu tentei compreender porque minha mãe tinha morrido sem me dar a oportunidade de amá-la, ou sequer dar um abraço. Até que um dia, em um dos raros momentos que meu pai estava em casa e lembrava que tinha um filho, me viu emburrado no quarto. Eu tinha seis anos e estava inconformado por estar indo na escola com um motorista, enquanto todos eram levados pelas mães. Achei injusto e queria compreender o porquê.
Meu pai saiu do quarto e voltou com um pingente em forma de um vidrinho onde dentro tinha a palavra "inexplicável"
"Sua mãe dizia que as melhores coisas da vida eram inexplicáveis. Talvez, se conseguirmos viver a vida como ela vivia, sem se preocupar com o motivo e sim aproveitando cada segundo do agora, você consiga se conformar, Diogo".
Foi tudo que ele disse sobre a partida dela. Nunca teve outro abraço ou qualquer explicação.
Agarrei aquele pingente e nunca mais me desgrudei dele. Coloquei a mão no peito e senti o vidrinho pendurado no meu pescoço.
Lorena era inexplicável. Estava ficando maluco em quer tê-la tanto.
Já passava das duas manhã e eu continuava sentado em um bar enquanto o navio navegava lentamente, sem quer voltar para o quarto, sem coragem, com incerteza de que ela pudesse não estar lá.
Talvez se eu provasse só uma vez seu corpo, poderia esquecer tudo aquilo que vinha me atormentando e tirá-la da mente por um segundo.
Mas a porra da garota era virgem!!! Não dava para brincar e depois jogar fora. E tinha todo o lance da competição, outros poderiam toca-la. A ideia me enojou.
Pedi uma dose de uísque. Seria o último da noite.
- quer conversar?- escutei alguém me chamar.
Olhei para o lado. Uma ruiva linda, com um vestido vermelho e as pernas cruzadas provocantemente, me chamava.
- na sou bom com conversas.
- e no que você é bom?- perguntou me provocando.
- em tudo que é imoral e ilícito até de se dizer- abri um sorriso indecente.
- posso te mostrar um lugar aqui no navio, onde as coisas imorais ficam encobertas- ela abaixou para falar, usando o velho truque para mostrar os peitos.
Era simples, sem complicações, como sempre gostava.
Então, o que mantinha frio, sentado no banco apreciando meu Jack Daniels?
Balancei a cabeça inconformado com a imagem de dois olhos que me encantavam e nem de perto eram aqueles.
Virei o resto da bebida em um único gole, me levantando.
- deixa para a próxima. Bebi demais- menti.
- me de seu celular, vou salvar meu contato.
Estendi meu IPhone e esperei ela digitar.
- eu ligo- falei quando ela devolveu o aparelho.
- salvei como Julieta- ela falou sorrindo.
Frustrado, fui caminhando sem pressa para o quarto.
Parei em frente à porta, receoso de abri-la.
Respirei fundo, entrando.
Lá estava ela, deitada toda encolhida na cama.
Fechei a porta rapidamente para que a luz de fora não a acordasse.
Com a ajuda da lanterna peguei um short de dormir e fui até o banheiro me trocar.
Deitei nacama com cuidado, para não toca-la. Dei as costas para a Lorena, me torturando com o cheiro do seu perfume que invadia todo o quarto sem licença, como tudo que ela fazia na minha vida.
Escutei um soluço abafado. Ela não estava dormindo.
Inconformado, passei as mãos pelo rosto.
Puta merda, ela estava chorando! Eu nunca soube lidar com garotas chorando. Sempre que chegava na parte em que as lágrimas chegavam, elas já estavam de partida.
As únicas mulheres que sempre choravam na minha vida eram Julie e Clarisse, mas elas tinham seus maridos que sempre as abraçavam e resolviam tudo.
Então era isso! O remédio para aquele mal era o abraço. Não, não, não!
Se eu abraçasse ela, tudo ficaria confuso, estranho e....não! Definitivamente não.
Balancei a cabeça em negação, enquanto me virava e meus braços com cuidado se apoiavam em seu corpo, puxando o seu que tremia desesperadamente.
Quando por fim a abracei, ela desabou. Não resolveu de nada. Os soluços pioraram, o choro se tornou quase insuportável ao meu ouvido e meu coração que eu nem sabia que tinha se partiu ao meio, tamanha a dor do seu sofrimento.
Apertei ela contra o meu peito, acariciando deus cabelos.
- psiuuuu....não chore. Nada pode ser tão ruim pra te fazer chorar assim.
Lembrei da nossa conversa, do beijo, de como tinha sido idiota. Sempre era. Especialidade do Diogo.
- me diz uma coisa- ela perguntou com a voz abafada pelo choro- acha que tudo na vida tem um propósito? Acha que o sofrimento tem um propósito?
- olha, você está pergunta tudo para a pessoa errada. Sou o cara mais torto do universo. Não sei dar conselhos e tudo que digo são merdas sem sentido.
- mas, o que te mantém vivo? Como você faz para passar por cima de tudo que te machuca e que não suporta?
Caramba! Aquilo era muito errado! Não poderia mergulhar naquela onda, não dava.
Era perigoso demais.
E era tão reconfortante....como estar em casa como a muito tempo eu não me sentia, acolhido, podendo falar dos meus sentimentos como um garoto e eu já era um homem.
- você ignora, finge que aquilo não te afeta, como se estivesse em outro plano de vida, entende?
Meu dedos afundaram nos seus cabelos macios e como se eu pisasse fundo no acelerador do carro, comecei a correr perigo. A adrenalina correu solta nas minhas veias, meu coração bombeou feito louco a ponto dos meus olhos se fecharem de desejo.
- não se pode ignorar quando a dor é cruel. Quando algo te fere profundamente, não dá para ficar alheio- ela respondeu se aconchegando nos meus braços.
Era como se fossemos velhos conhecidos, uma casal de namorados que depois de uma briga discutia a relação e acertava as pontas. E era bom! Muito bom!
Puta merda! Eu precisava parar!
- a questão é você não deixar nada chegar ao nível de te deixar ferir. Você não se envolve, não se aproxima e ninguém chega a ser importante.
- seria simples. Só que deixei aqui que me amo para trás e não me importar é impossível.
Uma sensação ruim percorreu meu estômago ao ouvir as palavras. Ela tinha alguém importante. Claro que tinha!
Mas estava comigo no momento. Aproveitaria.
Passei as mãos pela sua cintura, puxando seu corpo de encontro ao meu, unidos por nada mais que poucas roupas.
Lorena suspirou.
- conheço excelentes formas de esquecer o sofrimento e encontrar outros propósitos para viver- sussurrei no seu ouvido, não aguentando e deixando um beijo em seu pescoço- propósitos estes- completei- que farão você esquecer qualquer coisa que tenha deixado para trás.
Esse era o meu desejo. Em uma urgência, desci a alça da sua blusa trilhando um caminho de beijos por seu ombro nu.
- posso te mostrar?
Por instinto, ela empurrou seu corpo de encontro ao meu em resposta é não precisei de mais nada. Virei seu rosto e avancei em direção sua boca em um beijo, dessa vez sem reservas.
Estava disposto a tomá-la ali mesmo, sabendo de todas as consequências e sem me importar com nenhuma.
Nada importava naquele momento.
Precisava dela mais que o próprio ar, muito mais que qualquer coisa que já tinha precisado na vida.
- não- Lorena empurrou meu peito na tentativa de se soltar.A mantinha presa em meus braços e demorei até que me desse conta disso- me solta- ela se debateu com mais força.
A soltei com alguma resistência.
Ela se levantou quase trupicando, indo o mais distante possível da cama.
Uma sensação de desconforto, frio, tomou conta do meu peito. Era estranho.
- o que está acontecendo aqui?- Lorena perguntou confusa.
- eu não sei- respondi com a maior sinceridade.
A única certeza que tinha é que a queria. Nua, ali, sem reservas.
- Não podemos fazer. Sabe disso.
- eu sei.
Inferno! Eu sabia!
- o que vamos fazer?
- eu não sei- falei de novo.
Eu era um cara irracional, insensível, maluco, sem limites e que levava a vida como bem entendia. Só que eu sempre sabia o que fazer! Sempre!
Nada me deixava confuso, parecendo um homem  imaturo.
Sorri com aquela incoerência toda. Era tão maluco e pior é que me sentia feliz, como a muito tempo não me sentia. Era um sentimento bom estar confuso por uma mulher. Dava um medo do caralho, só que era bom. Tirando uns detalhes: ela pertencia a traficastes, tinha que ganhar de mais nove homens, vencer outras nove corridas e deixá-la intocável.
E de tudo isso, sair sem me apaixonar, só desejando seu corpo e nada mais!
Balancei a cabeça no escuro e agradeci pela ausência de luz. Estava envergonhado pela minha própria mentira.

Inexplicável amor  (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora