Cap 9

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Lorena

- você precisa de alguma coisa. Está bem?- senti uma mão no meu braço me tirando do transe.
Era julie, que me olhava preocupada.
- eu....sim. Estou bem.
Eu estava? Não, de forma alguma. Além de perdida, estava magoada.
- quem é você?- Joe perguntou. O seu tom, diferente da julie, não era de preocupação. Era de averiguação.
- ninguém- respondi abrindo um falso sorriso.
Julie sorriu sem graça em reposta. Aproveitei a deixa, e sai, sem saber direito para onde ir.
Deveria correr para o quarto e me esconder como ele tinha mandado, como era meu desejo no início. Só que a última coisa que queria naquele momento era continuar me sentindo tão fraca e humilhada como ele tinha me deixado.
A única forma de me sentir bem era falar tudo que estava entalado na minha garganta para aquele homem que não conhecia limites. Estava de saco de cheio de tanta humilhação.
Comecei a procurar pelos bares espalhados no deck superior do navio para ver se o encontrava. O navio era gigante. Seria quase uma tarefa impossível.
Bati com olho por todas as espreguiçadeiras. Nada!
Subi as escadas para a ponta do navio, em um canto mais afastado. Lá estava. Sentado em um cadeira sozinho, a cabeça abaixada, os cabelos entre os dedos...parecia desolado.
Tentei não me abater pela imagem. Era sempre isso que ele fazia. Deixava um rastro de destruição e depois se mostrava como um anjo, ou talvez era a forma como eu o enxergava.
Seu olhar se encontrou com o meu rapidamente e por um segundo, recuei, incapaz de enfrentar o que via naquelas iris.
- não me atormente mais por hoje.
- você não tem esse direito de vir aqui e estragar o casamento de alguém que gosta de você de verdade. Não tem o direito de falar assim com as pessoas, de me ofender, de me machucar, sem simplesmente se importar com nada.
Ele esfregou as mãos no rosto, continuando mudo. Seus olhos me encaravam como duas pedras de gelo.
- você pensa que faz tudo isso para agredir as pessoas, mas sabe o que eu acho? Que você faz isso para se agredir, porque está tão ferrado e morto por dentro que precisa que os outros te encham de palavras cruéis e porradas para que você se sinta vivo novamente.
Eu precisava me acalmar, continuar respirando, só que ele provocava tantas sensações em mim que era impossível fazer qualquer coisa racional perto daquele homem.
- Diga.
- o que? - perguntei confusa.
- já que está com tanto ódio, pode me ofender, como acha que vai me ferir a ponto de me fazer sentir vivo.Estou esperando por isso.
O maxilar de Diogo se apertou, seus olhos faiscavam de raiva.
- te acho um babaca Diogo, você não merece o chão que pisa. Sinto raiva de mim por estar presa a você. EU TE ODEIOoooo.....
As palavras saíram gritadas, as lágrimas transbordaram seu meu consentimento, turvando a minha visão e quando dei por mim, estava desferindo socos no seu peito.

A verdade é que o seu ódio me fazia sentir viva, o seu olhar despertava todos os meus sentidos e tudo que eu despejava na minha fúria era o rancor do mundo, a dor da minha alma que se juntava a dele formando algo que eu não conseguiria explicar ou compreender.
Ele pôs as mãos nos meus lábios, silenciando-o. Meus braços foram perdendo a força e fui me rendendo ao seu toque que queimava e ao mesmo tempo apaziguava a tempestade do meu ser. Suas mãos foram descendo pelas maçãs do meu rosto, pela extensão do meu maxilar.
- não tem ninguém que me faça sentir mais vivo do que você Lorena- Ele sussurrou- eu queria.....- as palavras dele foram se perdendo..
- o que você queria.....-tentei perguntar, sem conseguir dar ênfase à pergunta. Eu precisava que ele completasse, mesmo sabendo a reposta, em uma urgência que a necessidade minha fosse recíproca.
- eu você.
As palavras explodiram quando seus lábios tocaram o meu, em uma urgência que desconhecia, mas ansiava. Sua língua invadido, sem pedir licença.
Fiquei paralisada por um momento, apreciando a sensação dos seus lábios nos meus, suas mãos passeando pelo rosto e seu corpo colado, me fazendo arder em chamas.
Não tinha nada coerente naquele momento, nenhum pensamento lógico e principalmente, nenhuma dor. Desejei que aquilo nunca terminasse.
Porém, tão rápido como ele me beijou, Diogo se afastou. Seus olhos carregados de surpresa e paixão.
Minha mente rodava em um turbilhão de pensamentos e com uma única certeza, de que aquilo era o maior perigo que eu enfrentava na vida. Não tinha como sair inteira se eu me entregasse aquele sentimento.
- você nunca me terá- foi tudo que consegui dizer em uma tentativa frustrada de me defender, porque se ele quisesse se aproximar e me tomar ali mesmo, eu não sei se resistiria.
Um sorriso irônico se formou nos lábios dele, ainda vermelhos pelo beijo.
- essa escolha não é sua. Você é um prêmio e eu, um dos jogadores.
Me afastei um pouco mais, lembrando do quanto aquilo era perigoso e quem realmente Diogo era. As palavras cruéis mostravam seu jogo.
- você disse que não precisa pagar ou muito menos dormir com uma mulher a força. Achei que tivesse sido honesto.
- e fui- ele assentiu, afastando o olhar em direção ao mar- mas como eu disse, você será um prêmio e vai implorara por mais. E se não quiser, pra mim pouco vai importar- completou com desdém.
Meu rosto ruborizou. Cretino! E idiota eu que na primeira oportunidade voava no seu pescoço e o beijava.
Limpei os lábios. Queria esquecer aquilo. Deletar todas as sensações que meu corpo ainda sentia.
- então me deixar sair daqui. Ainda está em tempo se pouco te importa- o navio estava ancorado e não tinha partido do porto do Rio.
- você está livre desde o primeiro minuto, Lorena. Tudo que eu te ofereci foi proteção. Se quisesse te fazer prisioneira, você estaria trancada em um quarto agora. Poderia ter fugido a qualquer momento e sabe que eu não correria atras de você, mesmo te ameaçando para te proteger de si mesma.
Abaixei o rosto para que ele não visse a vergonha estampada nos meus olhos. Tudo que ele dizia era a verdade.
- agora acha que eu não vi o tamanho da sua bagagem? - continuou em voz branda- vai chegar até onde sem dinheiro e fugindo de pessoas tão perigosas?
Balancei a cabeça, com um sorriso amargo nos lábios.
- então é isso meu senhor- abri os braços em uma falsa reverência- estou aqui seu dispor.
Diogo me olhou com ironia.
- não. Você está ao dispor da sua própria vida, dos seus atos, sejam lá quais foram. Assim como eu, que sou o refúgio da minha própria vida miserável. Cada um escolhe percorrer o caminho que tem, da forma que se dispõe.
Diogo, o cara que a dois minutos tinha me beijado, no segundo depois me humilhou e agora falava da vida de forma tão poética, não era o mesmo que se mostrava ao restante do mundo.
Tinha um ser humano incrível dentro daquele homem.
- o problema é que algumas vezes o caminho é o único e se dispõe da forma mais tortuosa que existe- refleti lembrando da minha vida toda errada.
- a vida é inexplicável. Não tente compreendê-la ou você vai se ferrar Ainda mais. Agora faça suas escolhas. Descer ou ficar; não importa, desde que você pare de culpar os outros e comece a agir por si mesma. Você não está presa a mim.
E lançando um olhar de ternura, saiu dali.
Dizendo tudo certo e fazendo tudo errado, foi tudo que consegui traduzir das suas palavras. Diogo culpava todo mundo por algo que o fazia mal. Eu precisava descobrir o que era.
De repente, não era só desejo, um beijo.....se tornava muito maior. Dentro de mim, tinha uma necessidade urgente de descobrir tudo da vida dele e em um abraço o proteger do mundo.
Sim, o mundo era inexplicável!

Inexplicável amor  (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora