capitulo vinte e quatro

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- Eu te deixo lá! - Chris disse quando todos nós paramos na porta da casa dele.

- Não pode, ele vai saber de alguma coisa... - um nó se formou em minha garganta e a vontade de chorar me consumiu, mas não podia deixar eles mais nervosos. - Agora a única coisa que vocês podem fazer é chamar a polícia a tempo, mas por favor, não vão lá. Não quero que mais alguém morra!

- Não vou prometer nada! - Chris falou.

- Olhem, o que vocês fizeram por mim eu nunca vou ter como agradecer, gente, sem vocês eu ainda seria aquele menina fria, mimada e de um certo modo fresca. E já teria até morrido talvez... Vocês foram os pilares quando meu mundo estava fora de órbita, me seguraram quando eu queria cair, me tiraram do fundo do poço quando eu queria me afogar. Se eu estou chegando ao fim disso agora e como uma pessoa melhor é tudo por vocês. Espero que dê tudo certo, porque o que eu mais quero é voltar pra vocês! - Babi já chorava abraçada ao Vini que tentava não chorar. Bruno sentou na calçada e escondeu o rosto e Chris me olhava... Me olhava como se pedisse pra eu ficar, como se nada fosse dar errado se eu não fosse, como se ele fosse me proteger se aquele cara continuasse ameaçando.

Já tinha chamado o táxi e naquele instante ele chegou. Bruno, Vini e Babi correram pra me abraçar, Chris veio até mim quando eles me soltaram e me beijou. Entrei no táxi logo em seguida, evitando mudar de ideia. Quando o taxista deu partida eu comecei a chorar, agora duas coisas poderiam acontecer;

• meu mundo desabar de vez.

• eu conseguir passar por isso e viver minha vida.

Das duas, uma aconteceria, e eu rezava pra ser a segunda. Não fazia ideia de quem fosse, não sabia se estava preparada para descobrir, não sabia como iria ser dali pra frente... Eram tantas dúvidas... Isso acabava comigo, a cada instante eu ficava mais nervosa.

Tinha que dar certo, não cheguei até aqui pra perder agora. Eu vou sair dessa, nem que eu tenha que matar alguém.

O taxista me deixou no local combinado e eu olhei em volta, pra ver se achava alguém... Mas não havia ninguém ali.

Será que ele vai furar?

Sentei em cima de um latão de lixo e fiquei esperando. Ainda teria que achar um jeito de falar pra eles quando chamar a polícia... Não poderia pegar o celular na frente dele e mandar a mensagem. Liguei pro celular do Chris.

- Ele ainda não tá aqui, mas não desliga, quando eu der um sinal vocês ligam, e não falem nada! - falei rápido.

Coloquei o celular no mudo e deixei escondido no sutiã. Ouvi passos vindo dos prédios e levantei.

- Quem tá aí? - perguntei.

- Achei que saberia de cara, princesa! - a voz me assustou. Ele ainda estava na sombra, e dava pra ver um boné preto e as roupas pretas assim como as minhas.

Eu já ouvi essa voz.

Um arrepio percorreu meu corpo todo até os dedos dos pés.

- Aparece logo! - mandei áspera.

- Gosto de te deixar curiosa, amor... Você fica tão linda! - a cada palavra que saia de sua boca, eu arrepiava. Medo, nojo, raiva... Não sabia exatamente o que.

- Me deixou curiosa tempo o suficiente, sai daí! - fui até ele com passos pesados.

Agarrei seu casaco e o puxei pra luz, jogando seu boné longe. Ele olhou pra mim e sorriu.

Não pode ser.

Meu mundo caiu, ainda não tinha dado errado, mas eu não podia acreditar naquilo, não tinha como...

- Diz que é mentira! - gritei sacudindo ele pelo casaco.

Lágrimas desceram... Desespero, ódio, tristeza, felicidade, mais ódio se misturaram dentro de mim. Eu queria saber o porquê, eu precisava saber. Não era possível ser verdade.

- Não posso, é a mais pura verdade meu amor! - ele disse sorrindo maquiavélico.

- Não! - gritei. - Aquele cara te ameaçou? O que aconteceu? O que tá acontecendo?

Minha cabeça estava explodindo, era tantas dúvidas, não tinha resposta, não tinha sentido. Eu chorava, coloquei a mão na cabeça e cai de joelhos gritando.

- Sinto muito, esse tempo todo fui eu... - ele falou.

Eu negava desesperadamente, tentava me fazer acreditar que era alguma ilusão minha, eu podia estar sonhando... Qualquer coisa era melhor que aquilo. Decepção, desilusão... Não podia, eu não aceito isso!

- Tem que ser mentira, é um sonho, somente um sonho! - eu dizia pra mim mesma baixinho.

Ele se ajoelhou na minha frente.

- Não é mentira meu anjo, agora podemos ficar juntos!

- Claro que não! - gritei. Eu tô ficando louca, tenho certeza que isso não é verdade. - Olha o que você fez, o que me fez passar e o que fez os outros passarem. Não tem um pingo de culpa? Não se sente mal?

- Fiz tudo isso por amor, ainda era arriscado tentar te trazer até mim... Mas já que você está pronta pra se entregar... Já não aguentava mais de saudade.

Talvez eu tenha ficado um pouco esquizofrenica, pois nesse momento várias vozes se passavam pela minha cabeça. Cada uma dizia uma coisa diferente, eu estava com as mãos no cabelo, ajoelhada no chão, gritando e chorando. Estava maluca. Aquilo não era real. Não podia ser.

- Eu tô ficando louca não tô? - perguntei baixo.

- Não, isso é real! - ele veio acariciar meu cabelo mas eu me afastei.

- Eu te conheço, você não é assim!

- Você conhece a pessoa que eu quis que você conhecesse, você sabe das coisas que eu quis que você soubesse. Mas no final de tudo, você me ama, sempre disse isso, sentiu minha falta, eu sei!

- Não! - gritei me levantando e ele me acompanhou. - Eu senti falta da pessoa que achava que voce era, sofri pela pessoa que eu criei na minha cabeça, porque aquele nunca foi você de verdade. E era aquele que eu amava, foi por aquele que eu sofri e é aquela lembrança sua que eu quero levar pro resto da vida! Não posso acreditar que você fez isso comigo... - falei gritando cada vez mais alto.

- Esse é quem você vai aprender a amar!

Comecei a chorar mais, só que agora era de tristeza, eu estava quieta, não queria mais gritar. Só queria poder me enfiar em algum canto e fugir de tudo isso. Fingir que nada disso existe.

- Por que? Eu nunca fiz nada pra você! - perguntei baixinho.

- Exatamente, eu te amava como mulher e você me amava como irmão, nunca olhou pra mim com outros olhos. Eu podia viver com isso, mas não podia viver com você amando outro cara, beijando outro cara na minha frente. Não podia deixar chegar o dia em que você me chamasse pro seu casamento como padrinho ou pra te levar ao altar. Não podia! - gritou parecendo um louco.

Jamais tinha percebido que ele gostava de mim assim, isso quebrou meu coração em pedaços. Eu não podia aceitar que a pessoa em que eu mais confiei foi a que mais me fez mal.

- Dan... - sussurrei baixinho enquanto chorava sem querer acreditar.

Eu não sou Marrenta 2Onde histórias criam vida. Descubra agora