Capítulo II

2.7K 208 120
                                    

>Maria

Os dias passam-se e João melhora da varicela voltando a ser o menino alegre e brincalhão que era antes para minha enorme felicidade. O meu pobre coração já não aguentava vê-lo naquela aflição!

Assim volto à minha rotina chata do costume: levanto-me mais tarde do que devia, despacho-me à velocidade da luz, deixo o João na escola e corro (literalmente) para o trabalho para não chegar atrasada.

Por hoje já só falta limpar a sala do chefe. Empurro o carrinho das limpezas e abro a porta sem nem bater, afinal por algum motivo esta é a última sala que limpo todos dias: é porque ao fim do dia ele já não está na empresa.

Mas assim sendo porque é que está um homem, vestido num elegante terno, sentado à secretária encarando-me de sobrancelhas erguidas?

 -Eu... me desculpe. Eu vinha limpar o escritório, pensei que não estivesse aqui ninguém...- na verdade não era mesmo suposto estar ali ninguém e era também suposto a secretária dele me ter avisado que não era para limpar aquela sala hoje porque ela estava ocupada, como já aconteceu mais vezes, mas aquela vadia decidiu omitir essa informação e ainda me lançou um sorrisinho que eu na minha inocência ainda retribui achando que ela estava apenas a ser simpática!

-Eu avisei que esta sala estava ocupada. Faça o favor de sair. Agora!- ele diz rude. 

Ok, está provado que ele é um grande idiota arrogante.

Mas fazer o quê? Ele é meu chefe!

-Peço desculpa, com licença- digo dando meio volta e saindo dali o mais rapidamente possível.

A única boa notícia é que vou para casa mais cedo, por outro lado será que ele me vai despedir? Não, ele não o faria só por este pequeno deslize, quando isto nem sequer foi culpa minha mas sim da cabra a que ele chama de secretária! No entanto, a rapariga que eu vim substituir foi despedida por bem menos, segundo dizem...

Também era só o que mais me faltava perder o emprego!

Arrumo os utensílios de limpeza na arrecadação, tiro o meu uniforme, pego nas minhas coisas e saio da empresa.

Ainda é cedo e reparo que não faz tanto frio como nos últimos. Talvez fosse boa ideia levar o João a brincar no parque hoje. Ele passou mal nos últimos dias e o parque é a única coisa que eu posso fazer para o animar, visto que é de borla. 

-João- chamo quando chego à escolinha dele.

-Mamã!- ele grita quando me vê e desata a correr na minha direção de braçinhos abertos.

-Awn, meu amor- digo agarrando-o, sacudindo-o no ar e logo depois abraçando-o bem apertadinho.

Ele é só a coisa mais fofa deste mundo. 

-Sabes onde é que nós vamos hoje?- digo afrouxando o abraço para ele poder olhar para mim com aqueles seus olhinhos lindos.

-Ondi, mamã?- ele pergunta lançando-me o sorriso mais fofo e lindo de sempre.

-Ao parque! Tu queres ir ao parque brincar?

-Eu quelo!!!- ele grita entusiasmado- Eu vou andar no baloiço, no escolega e...

-Sim, meu querido, nós vamos fazer isso tudo. Mas temos de nos despachar, ok? Vá, vai buscar a tua mochila e o teu casaco, sim?

Depois de o agasalhar como deve ser para ele não se constipar, coloco a sua mochila nas minhas costas e caminhamos juntos em direção ao parque, enquanto ele fala animado de como foi o seu dia na escola.

Poucos minutos depois chegamos e ele depressa se distancia de mim para brincar com as restantes crianças. Já nem precisa de mim para nada! Saudades de ser criança, ou melhor, da sua capacidade de fazer novos amigos num instante, porque de resto não tenho qualquer saudade dessa época. A minha infância foi complicada, depois na adolescência as coisas melhoraram um pouco, mas foi só eu fazer as escolhas erradas e toda a estabilidade que eu esperava ter se foi. Só espero conseguir fazer com que tudo dê certo com João...

Sento-me no banco mais próximo e fico a observá-lo. Ele parece feliz. Ele ri, salta, corre. É nestes momentos tão simples que eu encontro a minha força. É por ele que eu luto todos os dias, para lhe poder dar tudo o que ele merece. Mesmo que não estejamos na melhor situação agora, eu sei que só depende de mim fazer com que as coisas melhorem.

Uma hora depois chamo-o para nos irmos embora. O sol está a pôr-se e daqui a nada o tempo começa a arrefecer. Ele não quer ir embora, mas depois de muito insistência lá o consigo convencer. Mas claro que para isso tenho de lhe prometer que voltaremos no fim de semana.

...

-Maria- chama uma das secretárias da empresa.

-Sim?- respondo ao sair das casas de banho que limpava antes dela me interromper.

-Foste chamada à sala do chefe.- Eu o quê??? Não, não pode ser. Isto é um pesadelo, só pode!- Parece que houve um... probleminha e a sala está a precisar de ser limpa- ela completa para meu alívio.

Por momentos pensei que ia ser despedida.

Empurro o carrinho com as coisas da limpeza e apanho o elevador até ao último andar, desta vez pelo sim pelo não, bato à porta antes de entrar.

-Sim?- responde uma voz grave.

-Posso, senhor? Eu fui chamada para fazer a limpeza- digo entreabrindo a porta e tentando não parecer amedrontada por estar ali.

-Claro, esteja à vontade- ele responde.

Entro na sala e reparo que junto à secretária está tudo sujo de café. Deve ter sido este o problema a que a secretária se referia.

O meu chefe não se encontra sozinho na sala, está lá outro homem mais velho que presumo que seja o seu pai pois eles são bastante parecidos.

Começo a limpar o chão e os dois permanecem em silêncio na sala. O ambiente entre os dois está tenso e como nenhum deles fala eu começo-me a sentir bastante desconfortável.

O melhor é apressar isto aqui!, penso.

Mas como depressa e bem não há quem, a esfregona com que eu limpava o chão enrola-se nos fios que estavam junto à secretária sem que eu note, então quando eu puxo a esfregona com pressa para me despachar acabo por puxar o computador e mais umas coisas juntas, que caem no chão espalhafatosamente.

Eu fico paralisada na hora!

Meu Deus, eu estou tão ferrada.

[O que acham que vai acontecer agora? Espero que estejam a gostar da história, não se esqueçam de votar e comentar]

Nem Tudo são Rosas | COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora