Capítulo XV

2.1K 162 50
                                    

>Maria

Ainda custa acreditar em tudo o que se passou nos últimos dias. Há anos que não tinha notícias de Dereck e quando volto a saber alguma coisa dele é porque ele morreu e deixou várias dívidas como única herança para o filho.

Dívidas essas que eu tenho de pagar.

Depois de contratar um advogado e informar-me sobre a situação na esquadra da polícia, cheguei à conclusão de que o melhor era mesmo pedir um empréstimo.

Em suma, gastei as minhas poupanças para o novo apartamento num advogado e durante os próximos meses vou gastar metade do meu salário para pagar o empréstimo.

É quase como se voltasse a ser aquela empregada de limpeza que não tinha dinheiro para nada! É frustrante saber que depois de tanta coisa nada vai mudar, mas pelo menos consegui resolver tudo em conjunto com o advogado nos últimos dias, portanto agora não tenho de me preocupar mais com isso.

Ao contrário do que eu pensava também não perdi o meu emprego. Por outro lado, está tudo normal, quase como se nada se tivesse passado. Steve foi bastante compreensivo, manteve as coisas como estavam e nem sequer tocou no assunto.

Eu pensei que fosse ser difícil encará-lo depois dele assistir a toda aquela cena, depois dele me ter reconfortado e abraçado, mas afinal tudo ficou normal. Estar hoje aqui sentada a esta secretária é a mesma coisa que era há duas semanas atrás.

-A sala de Steve é aquela ali do fundo, certo?- uma mulher pergunta sem parar de andar ou esperar sequer pela minha resposta.

-É sim, mas a senhora não pode entrar assim- digo educadamente- Ei! Espere- grito quando reparo que ela não dá a mínima para aquilo que eu falei.

Levanto-me e vou na sua direção.

-A senhora não pode entrar de qualquer maneira!- digo puxando-a pelo braço que quando reparo que ela vai mesmo entrar na sala sem permissão.

-Largue-me! Quem é que a senhora acha que é?

-Sou a responsável por não deixar entrar qualquer pessoa na sala do Sr. Miller- respondo.

-Acontece que eu não sou qualquer pessoa- ela diz arrogante.

-Tem reunião marcada?

-Claro que não! Se fizer favor, agora eu vou falar com o Sr. Miller- ela diz o nome dele em tom de deboche.

-Lamento mas não estou autorizada a deixá-la entrar sem permissão.

-Ah, poupe-me!- ela diz puxando a maçaneta da porta num gesto rápido sem me dar tempo de reação.

-Mas o que?...- Steve diz chocado.

-Steve! Se tu achas que podes simplesmente foder-me a noite toda, ires-te embora antes de eu acordar e ignorar-me por dias está muito enganado!- ela diz irritada e pisando furiosamente até à secretária onde Steve está sentado ainda demasiado chocado para dizer alguma coisa- Fica sabendo que eu não sou como as outras que tu fodes! Eu não sou uma qualquer para tu me tratares assim!

-Tu... é...- Steve diz tentando conter o riso.

Ele é inacreditável.

-Tu já sabias como era quando foste para a cama comigo. Eu nunca te prometi mais do que uma boa noite de sexo portanto não estou a entender o porquê de todo este escândalo.

-Tu.. tu... és um idiota!- ela diz escandalizada.

-Senão te importas, ham... tu..., sai da minha empresa, sim?

-É que nem te lembras do meu nome!

-O teu nome não era importante quando tu estavas debaixo de mim a suspirar.

-O quê?... Como? Tu...

-Sim, sim, já sei, eu sou essas coisas todas. Agora, sai ou eu chamo o segurança.

-Tu vais-te arrepender disto, seu idiota!- ela diz antes de virar costas e sair.

Eu, que me mantive á porta o tempo todo, desvio-me para que ela possa sair. Ainda assim ela não resisti em me dar um encontrão.

Assim que deixamos de a ver no corredor, Steve desata a rir. Eu não consigo evitar rir-me um pouco também. Esta situação foi, no mínimo, ridícula.

-Bom- eu digo quando me acalmo para chamar a atenção de Steve para mim- Eu ia pedir desculpa por não a ter conseguido impedir de entrar, mas pelos vistos ela não é importante para ti...

-Não mesmo- ele responde ainda risonho- Que escândalo ridículo ela veio armar na minha própria empresa!- ele diz abanando negativamente a cabeça como senão acreditasse no que acabou de acontecer.

-Senão fosses tão mulherengo, este género de coisas não te aconteciam.

Quando dei por mim estas palavras já tinham saído da minha boca. Felizmente, Steve pareceu não dar muita importância à minha crítica.

-Qual é! Todas as mulheres com quem eu saio sabem que eu não quero um compromisso. Aliás a maior parte delas eu não volto a ver na vida, mas há sempre aquelas que acham que com elas vai ser diferente. Ridículo!

-Eu só não sei como é que as mulheres ainda se deixam enganar. Isso é que é ridículo!

-Não sabes?- ele diz erguendo as sobrancelhas- Tens a certeza? É que basta olhar para mim para entender- ele diz sedutoramente- Vais dizer que nunca reparaste na minha sensualidade?- ele provoca.

-Pelo amor de Deus- respondo revirando os olhos- Eu não sou obrigada a ouvir isto! Já me basta ter de te encobrir para poderes dar umas durante o teu tempo de trabalho e ainda ter de evitar que mulherzinhas ridículas entrem por aqui adentro, era só o que mais faltava ainda ter de ouvir as tuas provocações- concluo dando de costas.

Ele ri-se, mas para de repente e chama-me:

-Maria!

-Sim?- respondo com uma sobrancelha levantada.

-Confessa lá que não me achas atraente.

Claro que acho! Qualquer pessoa que tenha olhos na cara consegue ver como ele é bonito. No entanto, limito-me a revirar os olhos e preparo-me para ir embora, quando ele me volta a chamar.

-Ok, agora a sério. Eu não cheguei a perguntar, mas sobre aquele assunto do outro dia... ham... Está tudo bem? Conseguiste resolver os teus problemas?

-Ah, sobre isso! Já está tudo resolvido, sim.

-Que bom então- ele responde apenas com uma expressão indecifrável.

Depois disto o ambiente fica estranho e eu limito-me a acenar e sair dali, fechando a porta atrás de mim.

O ambiente entre nós está estranhamente descontraído. Como senão bastasse, ele ainda está preocupado comigo?

Pior, ele teve a lata de me mandar bocas. Como assim?!

Nem Tudo são Rosas | COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora