13) Crianças apaixonadas

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ATENÇÃO AOS GATILHOS: Mutilação, sangue, suicídio. ⚠

   Nossas casas, a igreja, tudo pelo que lutamos para manter... era o fim de Alexandria, um carro estava em chamas e Carl nem havia notado o quão perigoso podia ser, o puxei para longe e o veículo explodiu, nos arremessou para longe.

— Droga, você está bem? Triny? — Disse por cima de mim, tossi um pouco, a fumaça e seu corpo pesado em cima do meu me deixou sem ar.

— Que droga Grimes, cuidado! — Avisei, ele me ajudou a levantar.

— Desculpa. — Ele disse, mais por tudo que havia feito até agora, do que pela explosão.

— Nós temos que ir!

Ele concordou, corri por todas as explosões e tiros, com medo de ser acertada por uma bala perdida. O tornozelo torcido de Carl era um problema, mas não me importava se tivesse que carregar ele durante o percurso.

— Não dá, temos que parar, dói muito. — Ele dizia, sentia isso por ele, olhei em volta.

— Vem comigo! — O puxei até a casa abandonada, estava intacta, era como nosso lugar seguro e lá estava ela ainda de pé.

— Me desculpa, e-eu não sabia que seria assim.

— Cala a boca, já estamos aqui, e vamos conseguir. — Disse ignorando tudo que ele queria dizer, não podia deixar ele se convencer de que o que havia feito era errado. — Tudo que fez até agora por nós, Carl você foi um líder, Rick vai ficar orgulhoso.

Ele se contorceu, o pé doía muito, ele gemia um pouco de dor enquanto segurava o mesmo.

— Me deixa ver. — Pedi, subi a calça, estava roxo em volta do tornozelo. — Não devia estar fazendo todo esse esforço no pé.

Ele não respondeu, sabia que qualquer coisa que dissesse não ia ajudar agora, o ajudei a levantar e saímos da casa, o empurrei para o chão assim notei que a casa estava prestes a explodir.

— Cuidado! — Gritei, a casa se explodiu resultando em muitos destroços.

Minha visão ficou turva, atrás de mim estava o que sobrara da casa em chamas, não ouvia nada, minhas audição estava voltando aos poucos mas eu estava no chão.

— Trinity! — Carl gritou de longe, ele veio cambaleando até mim, um morto o pegou no caminho e mordeu seu ombro rasgando a carne.

— Carl... não. — Tentava me manter acordada, isso não podia estar acontecendo.

"Não existem exceções." Foi a primeira coisa que me veio, as fagulhas do fogo chegavam ao céu, Carl estava mais assustado que nunca, ele atirou no morto e continuou até mim como se não tivesse um tornozelo torcido. Quando tentei levantar, notei um vergalhão atravessado em baixo de minha costela, meu corpo todo doía e o metal atravessado estava contendo o sangramento como uma rolha.

— C-Carl espera. — Ele me levantou, andamos um pouco até eu cair de novo. — N-não, não, Trinity. Levanta, por favor, levanta.

— Desculpa meu xerife. E-eu não consigo mais. — Segurei o choro, já bastava ele surpreso o suficiente com o que estava acontecendo.

Carl me segurou em seus braços, ele tentou puxar o vergalhão, apertei o seu braço o impedindo de continuar. Senti um gosto metálico na boca, era sangue, já havia sentido de outras pessoas antes mas desta vez... era o meu.

— Por favor, por mim, você precisa levantar, temos que encontrar ajuda. — Pediu, seu rosto assustado me fazia tentar, por ele.

— Eu sinto muito amor. N-não consigo mais, eu sinto muito mesmo. — Respondi, coloquei a mão em seu rosto enquanto ele chorava feito o Carl que conheci muitos anos atrás. Nunca mais havia visto ele chorar assim, me trouxe uma sensação tão nostálgica.

Os mortos já estava começando a notar, Carl atirava em qualquer um que se aproximava, seja vivo ou morto.

— A enfermaria é bem ali, por favor Triny. — Insistiu.

— Não tem mais enfermaria Carl. Eu vou perder muito sangue se sair daqui, sabe disso. — Tentei conter o choro mais uma vez, ele sentia isso. — Me desculpa.

— Não. Não podia ser você. Triny, não você.

— Não existem exceções em um mundo como esse, meu xerife. — Segurei seu rosto, senti o sangue escorrer pela minha boca.

Carl não estava pensando bem, ele queria fazer de tudo para me ajudar, e até conseguiria se tivesse alguém, Michonne, Rick... suas lágrimas caíam em meu rosto.

— Ei, eu to aqui com você, desde o começo. — Segurei seu rosto, ao menos tinha forças para limpar suas lágrimas. — Vai ficar tudo bem, é assim que tem que ser...

Carl negou, ele atirou em outro morto, e negou até não poder mais, ele soluçava em choque.

— Eu vou virar. — Carl mostrou seu ombro mordido. Senti um aperto no peito por ele, por Rick, por todos.

— Michonne estava certa afinal, somos crianças apaixonadas, em um mundo onde pessoas ignorantes só se importam com elas mesmas. Eles não nos entendem. — Disse, ele concordou com cada palavra, Carl beijou minha mão.

— Vamos nos ver de novo. Me prometa isso.

— E-eu prometo Carl. — Sorri, lágrimas escorriam pelo meu rosto.

— O seu sorriso, mesmo agora, como consegue?

— É que, eu vou morrer nos braços da única pessoa que amei. Não poderia ser mais perfeito, está bem? — Concordava com cada palavra, enquanto ele se recusava a aceitar que estava mesmo acontecendo. — Carl... você precisa fazer, eu não quero virar uma daquelas coisas, precisa fazer isso por mim.

Ele negou, senti seu peito soluçar, ele negou cada palavra chorando o quanto podia. Com a mão trêmula segurou sua pistola, senti o cano frio da arma em baixo do meu queixo, já era difícil me manter acordada.

— Eu não consigo. D-desculpe, Trinity e-eu não... eu te amo. — Sua mão cedeu, segurei firme.

— Tudo bem... — Segurei sua mão, ele negou e deixou um beijo em meus lábios. Seguido de um tiro.

— E-eu te amo.

SOLITÁRIA V, The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora