Me lembro de escutar pés arrastando pelo chão, de carros correndo em uma estrada movimentada e pessoas eufóricas que não paravam de falar algo que eu não compreendia.
Abri meus olhos e olhei para os lados, eu estava deitada em uma cama de hospital. O quarto todo era pintado por um tom de creme, havia três janelas com uma cor acinzentada, um guarda-roupa escuro que lembrava madeira, ao lado esquerdo da cama haviam duas poltronas vinho escuro e ao lado direito um criado-mudo branco, minha cama toda era branca, apenas os cobertores eram azulados, ao julgar pela aparência do lugar eu estava no hospital Health Care.
Mas o problema não era eu estar em um hospital era como eu tinha chegado lá! não me lembrava de nada a não ser quando sai da escola, era como se houvesse algo que separasse os dois fatos, mas eu não sabia o que, era estranho eu nunca tive problemas em relação à memória e agora estava tendo. Senti uma dor forte vindo da minha perna direita eu não sabia se havia machucado ela, mas estava doendo muito, talvez fosse a razão pela qual eu estivesse lá.
Uma enfermeira baixa, de olhos verdes, cabelo castanho claro e pele cor de chocolate que aparentava ter a idade dos meus pais, abriu a porta do quarto e se assustou ao perceber que estava acordada.
- Não esperava que acordasse tão cedo, você está bem? Ela se aproximou e colocou a prancheta que segurava com a mão esquerda perto do corpo no criado mudo ao lado da cama.
- A minha perna... Está doendo. Ela descobriu a minha perna direita sem que eu a disse-se qual perna doía. Ela estava totalmente enfaixada por um gesso branco, a enfermeira olhou como se procurasse por algo diferente, não encontrando nada, cobriu a perna com o cobertor de volta.
- Você perdeu muito sangue, tem sorte de estar aqui.
- Você pode me dizer como eu vim parar aqui? Ela pegou sua prancheta como se fosse sair do quarto e me deixar sem respostas, mas não saiu, apenas anotou algumas coisas e começou a falar.
- Blue Ivy, você sofreu um acidente de carro, a três dias atrás, à noite enquanto voltava para casa. Você devia estar acima do limite de velocidade, a rua estava molhada e havia acabado a energia facilitando com que não você enxergasse, assim que viu um animal cruzar a rua você brecou com muita força fazendo seu carro capotar, sua perna ficou presa nas ferragens do carro. Disse ela apontando para minha perna com o gesso. - Se não fosse seu amigo, você poderia ter morrido de tanto sangue que perdeu.
Aquela história não fazia sentido! Eu nunca correria em um dia chuvoso por qualquer motivo que fosse, ainda mais com um carro que eu tinha acabado de ganhar. Levei minha mão a testa. Droga! Como será que o carro ficou? Eu não queria pensar no assunto ou aquilo me faria me sentir pior do que eu já estava.
- Você sabe me dizer quem me salvou?
- O rapaz se identificou como Dylan. Dylan? Como justo ele havia me achado e me salvado? aquilo tudo era estranho, primeiro a história do meu acidente e agora Dylan havia me salvado?
- Você tem certeza? Como era a aparência dele?
- Ele era alto, pálido, de cabelos escuros e olhos verdes. Algum problema? Se quiser posso entrar em contato com a polícia imediatamente.
- Não precisa, está tudo bem. Ela me olhou como se desconfiasse de algo e eu acrescentei. – Ele é um velho amigo meu, mas estava na Europa por isso não acreditei assim que disse o nome dele. Ela sorriu e assentiu com a cabeça como se entendesse meu desespero. - Você sabe me dizer quando posso ir embora? Gostaria de rever meu amigo antes que ele viaje de novo. Eu era muita boa em esconder fatos e agir da maneira certa para cada ocasião.
- Em dois dias, seus ferimentos estão se cicatrizando impressionantemente rápido mas depois você terá que fazer repouso de uma semana em sua casa para garantir.
- Sem problemas. Você sabe me dizer se avisaram a minha família?
Ela ficou em silêncio por um tempo, como se pensasse na resposta para a minha pergunta.
- Sim. Ela sorriu. - Eles estão bem, seus pais já vieram aqui hoje visitá-la mas você estava dormindo, sua mãe pediu para que eu avisasse que seu irmão voltará de Paris em três semanas.
Meu irmão Christian havia viajado á um mês e meus pais John e Briana provavelmente estavam trabalhando sem parar para manter a empresa em pé. Eles trabalham em um ritmo exagerado saiam de casa 05:00 da manhã e voltavam a meia-noite, eu praticamente vivia sozinha, não os via á três dias, mas ao menos de domingo eu tinha a chance de tê-los o dia inteiro ao meu lado.
- Você sabe me dizer se mais alguém veio me visitar?
- Seu amigo Dylan está lá fora na recepção. Era estanho pensar que Dylan se preocupava tanto assim comigo, nós mal nos conhecíamos, bom, pelo menos eu não conhecia ele.
- Será que você pode pedir para ele entrar?
- Me desculpe, mas as visitas são apenas daqui três horas, porque você não dorme um pouco e depois eu trago Dylan e te acordo? Eu assenti com a cabeça.
- Eu gostaria muito de saber seu nome antes que eu dormisse.
- Rita. Ela sorriu de uma forma singela. - Agora acho melhor eu deixá-la para que você possa dormir. Ela deu um pequeno passo para trás e me olhou como se estivesse me examinando antes de ir, abriu um sorriso largo e saiu. Fechei meus olhos e consegui escutar o barulho da chuva vindo de fora, deixei-me levar por pensamentos de conforto e segurança.Estava escuro, não havia luzes ou sequer algum tipo de iluminação, olhei para os lados mas tudo o que eu conseguia enxergar era a cor preta, por um instante comecei a ouvir vozes em um tom baixo que depois foram se acentuando mas mesmo assim não conseguia compreender.
Uma luz se acendeu, eu corri para perto dela, mas nada adiantou quanto mais eu corria mais longe eu ficava.
Até que a minha memória foi invadida e eu comecei a ver flashbacks de algum fato que havia acontecido, era um homem carregando em seus braços uma moça adormecida, tentei entender o que significava, pisquei os olhos para ver se reconhecia o casal. Então eu vi, era Dylan e a moça em seus braços era eu, ele me carregava com firmeza como se me tratasse igual a uma porcelana. Por um instante achei que fosse imaginação, achei que estava ficando louca, mas a imagem parecia tão viva e real que eu era capaz de toca-la.
- Kenzy vai ficar tudo bem... Eu não vou deixá-la, nunca! Sua voz soava cada vez mais gentil, era como se ele me amasse, mas por que? Ele tinha me tratado com tanta indiferença.
A imagem começou a pegar fogo se deteriorando e sumindo no espaço, me deixando sozinha ali.Abri meus olhos, e aos poucos minha visão estava se acostumando com a luz, eu ainda estava no hospital olhei para à esquerda esperando que encontrasse alguém sentado em uma das poltronas e lá estava Dylan me olhando com seus olhos verdes que agora estavam claros e arregalados, ele se levantou e sua face mudou de expressão ficando mais aliviado, pude ver que ele estava vestido com uma blusa cor de vinho escura, uma calça preta e seu tênis adidas preto e branco.
- Oi. Ele sorriu e pela primeira vez pude notar como seu sorriso era lindo.
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Destiny
RomanceMeu nome é Blue Ivy, significado: pequena flor azul. Tenho 18 anos, moro em uma cidadezinha não muito populosa no Canadá. No meu ultimo ano do ensino médio coisas estranhas começaram a acontecer após eu me aproximar de um garoto que tinha acabado de...