Capítulo 1

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Narciza Leandro


Nunca sofri do complexo de Rapunzel.

Deus me livre de achar que preciso de um príncipe para me salvar da bruxa e, finalmente encontrar a felicidade plena.

Não sei se já te contaram isso hoje, e pode até parecer mentira o que vou te dizer, é sério mesmo, mas não vai vir nenhum príncipe encantado matar os seus dragões, e quer saber por quê? Príncipes encantados não existem, a vários e vários séculos todos foram substituídos por sapos, e não simples anfíbios, mas sapos nojentos que não sabem abaixar a porcaria da tampa do vaso, nem se suas vidas dependessem disso.

Tenho o meu irmão como uma prova viva disso, que após vinte e oito anos ininterruptos de "abaixa a porra da tampa do vaso, Bernardo ", ele absorveu alguma parte do que lhe foi dito ao longo dos anos?  Fiquem surpresos, isso mesmo meus caros, se apostaram na porcentagem de mundiais que o Palmeiras tem, acertaram! A resposta é zero, Nando não lembraria de abaixar, nem com uma arma apontada em sua cabeça.

Hoje em dia, quando você decide esperar sentada para ver se a montanha vem até Maomé, vai ganhar no máximo uma dor na bunda, podem confiar, porque essa informação veio de experiência própria, não minha, claramente foi uma amiga de uma prima que mandou contar a vocês.

E é só por isso que estou me arrumando para essa entrevista besta, em uma empresa multi bilionária que provavelmente não vai entender o meu ótimo bom gosto para a moda. Fecho o meu estojo de maquiagem com a delicadeza de uma blogueira, finalizando com um batom sem graça de cor nude, em um tom mais escuro, super sério e elegante, adequado para uma mulher de negócios empregada.

— Uau, essa sua carteira de trabalho assinada é tão sexy, Narciza. — Respiro ofegante, abrindo a boca em um "o" para a garota de longos cabelos rosa.

— Vai, diz mais uma vez " Passa para o ramal dezoito" — gemo alto. — Como você é safada, Jujuba!

Pisco para meu reflexo com uma risada. Hoje tem que ser meu dia, até mesmo prendi os fios do meu cabelo, que batem em minha cintura, em um coque banana do qual super me faz parecer ter a idade, que realmente tenho.

Aliso o macacão que comprei especificamente para o dia de hoje, de cor branca e com cortes super sensuais que fazem o meu corpo de menina de dezoito anos, com um metro e setenta e cinco de altura, quase parecer como de uma mulher de negócios bem sucedida, com exatos um metro e oitenta, e Deus seja louvado pelo salto alto preto, meia pata da Gucci. Com apenas cinco centímetros de salto.

Nunca se sabe o quanto vai precisar andar em uma entrevista. O erro de ir de salto quinze para uma entrevista, é algo que só se comete uma vez na vida. 

Peguei a bolsa de mão, prata e com brilhos, que obviamente nunca usaria em dias normais sem que me coagissem, mas no momento, a coerção era um salário gordo no fim do mês para sustentar meu bebê, no caso, eu sou o bebê. 

Saio de meu apartamento sem pressa, depois de olhar o horário em meu celular e constatar que, sim, estou uma hora adiantada do horário estipulado. Graças a minha boa pontualidade e eficiência (que a minha mãe não escute para contestar), desço o elevador dos inquilinos até a garagem no subsolo, para entrar em meu New Beetle 2010 2.0 rosa, o qual sei o nome completo apenas por ler o contrato de venda milhões de vezes e, que guardei cada centavo, já que o veículo viria o símbolo da Barbie. Você tem um carro da Barbie? Não? Pois eu tenho, pode morrer de inveja.

Entro no carro, sentada no estofado de couro branco, a minha cabeça encosta em um símbolo rosa da Barbie com um rabo de cavalo. Viro a chave na ignição, verificando se coloquei na ré antes de acelerar. Abençoo a santa pessoa que inventou o carro automático, antes de dar a partida no meu possante.

Efeito CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora