Capítulo 10

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Havia ódio em mim, ódio o suficiente para dar três voltar ao redor do mundo.

Confesso a você, meu querido amigo e confidente, no início de toda essa merda foi tudo birra, isso mesmo, pura e sincera birra de uma criança mal humorada para com o novo chefe, ainda sem motivos plausíveis para tal desafeto, foco no ainda. Para defender o meu lado, o ranço não veio infundado. Uma grande parte de mim já estava calejada, uma parte feia e com cicatrizes grossas que gritavam por manter-me alerta, a qual já teve a sua cota de chefes abusivos por toda uma vida, ela simplesmente não poderia passar por isso novamente.

É claro que agora havia um atestado, junto com todas as provas para com o meu ódio. Podem tirar o infundado dessa frase.

Grito mais uma vez, socando com força o volante de Barbie. — Deveria mesmo era ter deixado esse pedaço de bosta lá, mijando por toda a empresa — pensei a contragosto. Reviro os olhos, imaginando as manchetes de jornais que sairiam na terça feira logo cedo.

"CEO da grande empresa mineradora Lion's Gold foi flagrado, nesta manhã de segunda feira do dia treze de março, completamente bêbado e urinando pelos corredores da sede." — Seguranças relatam que tentaram detê-lo, mas o pequeno homem fugia como um pequeno diabo de todas as suas tentativas.

Sorrio com a ideia que se forma em minha mente, já visualizo a foto de Félix algemado com o seu rosto amarrado. Subitamente a imagem muda, e posso vê-lo com os seus pulsos algemados nas pilastras da minha cabeceira, os seus olhos fechados com força quando ele me implora para que o deixe gozar. Eu sorriria, negando até o último minuto.

Rosno mais uma vez, dessa vez para a porra do meu cérebro. Tenho de lembrá-lo de que estamos com muita, muita raiva de Félix.

Estaciono em frente ao grande prédio branco ainda com os lábios estreitos, saindo do New Beetle rosa com fogo nos olhos. Em meu interior, rezo para que Regina George e todos os Deuses afastem todos os comentários idiotas da minha frente, para o bem do meu réu primário.

Travo o carro com o controle, caminhando até a recepção do hospital a passos duros. Tonico havia chamado para eu ir buscá-lo por mensagem a mais de meia hora atrás.

Estremeço, preparando-me mentalmente para encontrar um Come-Come muito mal humorado. Tonico nunca lidara bem com a espera, desde que éramos crianças e estávamos na terceira série do fundamental, já era uma criança impossível. Todas as crianças esperavam normalmente na fila do lanche por sua vez, claro que ele não, Tonico fazia amizade com as cozinheiras para furar a fila. O diabo nunca foi punido, nem uma única vez.

Sorrio ao dar meu nome na recepção. Dessa vez é um homem diferente, Lúcio Cruz, leio em seu crachá. Recebo uma etiqueta de visitante para subir ao seu quarto quando o homem moreno, com cabelos loiros pintados mesclando em meio as suas mechas escuras me orienta pelos corredores, ainda recordo o caminho da primeira vez, mas evito ser grosseira. Uma testemunha vai ser ótimo, caso haja alguma tentativa de homicídio para o meu lado, vinda de Tonico. A Narciza angelical concorda, balançando a cabeça em meu ombro.

Lúcio me abandona em frente a porta do seu quarto, voltando cedo demais para a recepção, como o bom Judas que é. Balanço minha cabeça, mostrando a língua para as suas costas.

— Um dia de caça e outro do caçador, traidor. — Rosno.

Entro sem bater. Na realidade, acho que nunca bato em portas.

O quarto está iluminado, mesmo que as paredes brancas cheirem a uma mistura de remédio e produtos de limpeza, fazendo-me torcer o nariz. Os meus olhos caem rapidamente na cabeleira enrolada e escura de Tonico, o seu corpo com a bunda em minha direção. Me aproximo lentamente, prendendo a respiração em um longo fôlego.

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⏰ Última atualização: Jun 05, 2020 ⏰

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