Capítulo 3

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    É noite de sexta feira e, depois de um dia repleto de trabalho pesado e reuniões com os acionistas, tinha apenas três coisas que habitavam a minha cabeça.

Beber.

Comer.

Dormir.

Não necessariamente nessa ordem, mas é claro que não tenho controle no caralho da minha vida.

Bato o punho com força na mesa, jogando ao lixo outro relatório de finanças completamente inútil, que a minha nova secretária entregou. Bufo, vendo a quantidade de erros ortográficos absurdos, contas que não batem e furos de informação. Vejo vermelho novamente, e a amaldiçoo pela centésima vez ao dia, por estragar a minha maldita semana. Porquê se há algo concreto, é a eminente vontade do destino em me foder sempre uma quantia a mais.

A verdade era que de todas as outras quatro, ela fora a que durou mais tempo. De todo o lixo que me foi recomendado, esta em especifico, era para ser a salvação. Uma grande bola de merda, em minha opinião pessoal.

Pego o meu telefone fixo de cima da mesa, alcançando o aparelho preto de seu lugar, bem ao lado de um porta-retrato. Encaro a foto por alguns minutos a mais, anotando mentalmente a tarefa de trocá-la, amanhã. Temporariamente viro a moldura para baixo, escondendo temporariamente o olhar de Julieta dos meus olhos.

Suspiro pesadamente, as minhas mãos pousando com força sobre os relatórios.

Só então disco para o ramal do RH, apertando sobre o botão de chamada com pressa. Controlo a vontade de apertá-lo mais vezes do que o necessário. Uma voz feminina atende alguns toques depois.

— Sr. Gazzoni, em... em que posso ajudá-lo? — Olivia gagueja, secretária da diretora do RH, Galina Marquêz.

Ignoro o nervosismo implícito em cada palavra que soa de sua boca, não vou mais tolerar funcionários incompetentes.

— Preciso que a Sra. Marquêz venha até minha sala, de preferência em cinco minutos, Srta. Collor, se não quiser três demissões no lugar de apenas uma. — Meu pedido sai fluente como uma ordem, também não peço desculpas pelo tom de voz. Sou a porra do CEO nessa porcaria, por isso mantenho a voz firme.

Desligo o telefonema logo em seguida com um baque surdo, não preciso esperar pela reação da garota. O meu tempo custa dinheiro.

No lugar de voltar aos relatórios, todos amarrotados pelos meus punhos, fixo o olhar em um dos quadros na parede. A forma grande de Catuxa foi retratada em tons de verão, a tela quente brigando com todo o resto da decoração fria dos móveis.

A pintura da Yorkshire e seu pelo longo, feito um coque samurai no topo da diminuta cabeça, a sua língua longa jogada para fora enquanto fita o horizonte, é definitivamente um elefante branco no ambiente, não há absolutamente nada por aqui que possa justificar, e ou combinar com ao quadro de um micro cachorro de blogueiras, provavelmente criando somente para fotos de instagram. Mas de qualquer maneira, não sinto vontade de tirá-la do lugar. A verdade é que a mulher que me entregou o quadro de presente é muito mais importante do que a pintura em si.

Escuto quando batem em minha porta, três pancadas leves.

Minha secretária deveria estar aqui, e então ligar para o meu ramal anunciando a chegada da pessoa, mas é claro que nem isso a mulher é capaz.

Grunho alto, anunciando o meu descontento.

Vejo quando Galina entra pela porta, vestindo a sua melhor cara de Poker. Mantenho as minhas costas firmes, sem deixar meu rosto transparecer qualquer emoção.

Efeito CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora