Capítulo 2

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Segundo a mitologia grega Narciso era um Jovem de uma beleza extrema, filho do deus do rio Cephisus com a Ninfa Liriope. Apesar da extrema elegância, da magnífica aparência e gentileza de Narciso, mesmo que despertasse a paixão de todas as moças, Ninfas e donzelas por onde passasse, Narciso era só. Em sua opinião, não havia ninguém que merecesse seu amor.

    Naquela imensa solidão imposta por si próprio, vivia Narciso. Após um longo tempo de sua solidão alto imposta, a Ninfa Eco se apaixonou perdidamente e loucamente por Narciso, o qual a rejeitou voltando para o seu reino de Isolamento, sem nenhum arrependimento. A Ninfa coberta por ódio rogou uma maldição sobre o filho de Cephisus, em que quando se apaixonasse, que isso fosse a sua perdição.

    E assim se concretizou, mas ao contrário do amor não correspondido por uma mulher, Narciso se apaixonou por si mesmo, ao olhar-se refletido nas águas. Visto que nunca poderia alcançar a imagem no rio que ele tanto amava ao ver, Narciso entrou em depressão, se afundou na relva verde oliva da floresta e por lá ficou, e aos poucos desapareceu. Em seu lugar brotou a mais linda flor amarela, com suas pétalas no centro brancas, a Flor de Ciza. 

    Quando pequena acreditei ser Eco, a ninfa mal correspondida, e quando vovó contava ao lado Trudi nas manhãs de domingo a pequena lenda, gostava de correr pela floresta nos fundos da casa de veraneio até o pequeno riacho, lá ao redor haviam três flores de Narciso, e na minha mente de criança sentia um certo prazer pela vingança do homem egoísta, e embora nutrisse o suposto sentimento, sempre cuidei dos Cisos. Talvez se um dia Narciso aprendesse a amar alguém além de si mesmo, os meus pais também resolvessem voltar para casa, e quem sabe assim tirar a tristeza dos olhos de vovó.

     Inocente, fui uma criança ingênua, pois hoje sei que não sou a Eco ressentida, sou Narciza a inalcançável.

    Já faz dois dias desde a última vez que fiz a entrevista, e nada. É supernormal que eles demorem a ligar para opção óbvia deles, não é? 

    Ok, não estou ficando paranoica. Respiro profundamente, inflando meu pulmão até ficar estufada, só depois expirando. Meu coração se acalma, ao menos um pouco. 

    Mas é engraçado que a gente passa...

     Meu Deus! Tudo bem, estou bem puta da cara e não estou sabendo lidar numa boa com isso. Fecho os olhos, batendo a testa no volante. 

    Janjão geme no banco traseiro, enrolado em uma das camisetas de cirurgia para cães grandes que me obrigaram a comprar, assim como uma porção de brinquedos barulhentos dos quais adquiri sobre forte coerção dos vendedores.
   Ainda tremo ao lembrar da violência contra a minha inocente pessoa.

— Temos um enorme problema amigão, sabe o meu síndico? Ele só permite animais de porte pequeno, e você, Janjão, é de porte cavalar. — Comento casualmente, o encarando pelo espelho do carro.  

   O escuto ganir em resposta, como se entendesse o que falo. Tudo bem, estou falando com o meu cão, e isso é definitivamente super normal. 

— Eu sei grandão, também não ligo para a opinião dele, mas você não vai voltar para as ruas, não vou permitir isso. Se o Jorge do cento e treze pode ter um Dog Alemão, então tecnicamente também posso ter um vira lata lindo, que passa da minha cintura. 

     Concluo, estacionando em minha vaga, na terceiro nível do subsolo. O ronco da Barbie silencia. 

     Saio do carro já tirando a chave da ignição, fechando a porta atrás das minhas costas. Vou até a porta do passageiro, abrindo com cuidado. Janjão me olha curioso, levantando a sua cabeça do enorme pano que coloquei para forrar os bancos, acaricio seu focinho com uma coçadinha, recebendo um lambeijo de alegria. 

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