Capítulo 4

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Ok, definitivamente não tenho Deus ditando o rumo da minha vida. Por isso que, agora, vou conversar apenas com você, força maior.

   Regina George, não fui eu que contei que você trai o Aaron Samuels toda quinta, na sala de projeção, em cima do auditório! Tudo bem, admito que talvez, só talvez eu tenha retuitado, mas a fofoca já estava ali, não tive culpa nenhuma.

    A verdade é que as vezes o meu bom senso da uma cochilada, aí quando o coitado acorda, a porra toda já está em chamas, ele nem se surpreende mais comigo. O Faustão da mente de vocês também grita "ERROOU", quando vocês dão aquela defecada bem básica pela boca?

   Encaro a loira anêmica mais uma vez, ajeitando minha saia de cintura alta feita de couro preta, quatro dedos acima de meu joelho, o tecido colado em minhas curvas, porque se tem uma coisa nessa vida que precisa ser ressaltada, é a minha bunda.

   Não gastei meus dois rins numa roupa que me deixa alguns anos mais velha, para acabar com isso.

   Mas é claro, que exteriormente sorrio assim como a Princesa Diana faria para a rainha Elizabeth, se a rainha fosse uma vadia muito rancorosa e cheia de silicone por todos os lados.

   Se eu ganhar a conta no primeiro dia, já tenho o meu papel garantido nas novelas da Globo.

— Como vê, a identidade não mente, então, se por gentileza, me deixar terminar de preencher a papelada... — Esclareço, usando-me de toda minha candura que mamãe deu.

— Srta. Leandro... — A loira me devolve a identidade, verificando a contragosto toda a minha documentação da qual assinei, vejo quando ela tira algumas cópias, autenticando e então guardando em uma pasta. — Esta é a sua via, os dias de pagamento serão todo terceiro dia útil do mês. A partir do dia quinze o seu plano de saúde estará em validade, assim como todos os seus direitos. Aqui está o seu crachá de funcionária, aguarde na recepção que a Sra. Marquêz a levará até a sua sala, e irá orientá-la no seu papel dentro da empresa. Seja muito bem vinda a Lion's Gold. 

      Minha nova (des)amiga parece espremer toda a sua boa vontade para responder, como um limão quase seco. De qualquer maneira, aceito sua oferta.

    É cavalo não se olha os dentes que se diz? Aceito lamber algumas caras de cu, se isso significar a minha carteira assinada. Claro que minha primeira opção era ser uma Kardashian perdida, mas ficamos com o que temos.

   Pego meu crachá, prendendo-o em minha blusa cigana cor de rosa envelhecido, porque ainda não fazem milagres nesse turno, eu e meu rosa não seremos separados tão cedo. Tomo bastante cuidado para que a blusa não caia de dentro de sua prisão na saia.

    Sigo ao toc toc de meus saltos até a sala de espera, no setor de RH. Sentei lindamente nas poltronas de couro novíssimas.

     O prédio todo parece ser uma demonstração de poder absurda, não há como não reparar. Cada quina tem detalhes extremamente finos em porcelanato, seguidos de entalhes em ouro trançados em formato de ramos. Provavelmente só o tapete dessa sala, com bordados indianos em tons frios, deve comprar todo o meu apartamento.

    E eu moro em um residencial de respeito no centro de Jardim das Américas.

    Encolho os ombros para alcançar o celular dentro da bolça, deslizando a tela para a direita, abro a câmera com um toque. Silenciosamente tiro uma foto do enorme aquário ocupando boa parte de uma das paredes, ao lado das cadeiras acolchoadas.

     Guardo novamente o telefone, resistindo a tentação de uma selfie.

     Estico o pescoço para cima, tentando encarar meu reflexo por trás de um peixe palhaço, nas águas do aquário. Abro a boca, limpando com o indicador as sombras de batom que escorreram com o calor.

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