Odeio esse lugar. Odeio esse lugar quase tanto quando odeio incompetência, e eu odeio para um senhor caralho incompetência.
Mas preciso vir a esse lugar, é uma das coisas idiotas que Helena, minha terapeuta recomendou, porque de acordo com ela, vir aqui é uma forma agradável de me libertar do passado para ajudar a seguir em frente. Se me concede a palavra, tão agradável quanto dar o cu.
Rosno, ainda sentindo o peito oprimido quando me apresso para ficar o mais distante possível do hospital. Posso sentir o cheiro forte de medicamentos pregado nas minhas roupas, se eu fechar os olhos ainda posso vê-las, com os seus olhos grandes e brilhantes olhando para mim.
Já faz três anos que visito a ala oncológica infantil do hospital, todos os domingos, é um ritual sagrado do qual eu jamais quebrei. Me destrói entrar naquele lugar, uma vez e outra, porque por mais que eu tente e lute, não fica mais fácil e tudo se mistura entre a dor e a agonia. Enquanto de um lado o cheiro peculiar dos remédios, as paredes opacas e sem graça, até o espírito do ambiente me destrói por completo, me esmaga assim como um inseto, até que eu seja apenas uma pilha de cinzas no chão, do outro á a estranha satisfação de ser útil, de entrar na sala cheia de crianças pequenas e carecas para encontra-las eufóricas por minha presença, ver seus largos sorrisos ao me verem. Seus corpos inquietos nas macas, como se não estivessem mesmo doentes, como se me ver fosse a melhor parte do seu dia.
Faço parte de um grupo que realiza as visitas para as crianças, normalmente apareço fantasiado de Mario Bross, porque os homens do grupo são uns babacas do caralho, aparentemente nenhum deles tem mais o que fazer do que foder comigo, mas esqueço todas as ofensas com a minha altura uma vez que entro na sala, faz valer a pena. Além de tudo, aprecio um homem com bolas o suficiente para me enfrentar. Por um mísero momento, não sou apenas um monte de peças de um quebra cabeças incompleto, cheio de falhas, eu sou o Mario Bross e isso parece ser o bastante. Mas nunca dura.
Balanço a cabeça, abrindo o portão de casa com o controle.
E então eu volto a me quebrar, e a quebrar e quebrar. Porque nada do que aconteceu pode me preparar para o vazio que me espera ao entrar pelas grandes hastes de metal, retorcidas em arcos que guardam a entrada da minha prisão, diretamente aos corredores vazios e escuros que nada fazem para me receber, silenciosos como um tumulo, e tudo me esmaga. Não ter mais Julieta me esmaga. Visitar o hospital é uma faca de dois gumes, e de repente odeio a terapeuta, odeio o grupo e, principalmente, eu me odeio.
Me odeio porque sou fraco, porque não sou suficiente e nunca fui.
Suspiro alto, estacionando o carro na garagem. Saio do veículo sem trancá-lo, apenas apresso o movimento dos pés contra a entrada principal, entrando rapidamente em casa.
Meus passos são programados e andam sozinhos, sem precisar de uma ordem explicita. Porque é tudo que posso fazer, além de olhar fixamente para a frente. Não sou melhor que isso, não mais.
Sigo em direção ao meu quarto, ignorando a visão da cozinha limpa e livre de funcionários. Não paro na fruteira ou para tomar um gole de água, com a cabeça pesada entro no quarto, tirando o casaco rapidamente. Puxo as mangas, me livrando da roupa como quem se livra de hera venenosa, com a respiração acelerada chuto para longe a camiseta de linho preta, seguido das calças justas do maldito terno Armani. Não vejo onde todos repousam, apenas ouço o baque silencioso todas fazem ao chegarem no chão gelado.
Não vejo nada que não seja a cama em minha frente.
Fecho os olhos antes mesmo que o meu corpo atinja o colchão, tentando obrigar os meus músculos a relaxarem. Deixo a inconsciência me abraçar como uma velha amiga.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Efeito CEO
RomanceNarciza nunca se preocupou com estereótipos, afinal, porquê seria do esquadrão do loiro quando se pode ser do rosa? Enquanto o sonho da maioria das garotas é entrar em um trinta e seis, ela só queria poder terminar uma temporada de Grey's Anatomy s...