Capítulo 5

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Eu o odeio, odeio muito esse filho da puta, na verdade, odeio mais ele do que já odiei Shonda ao matar o meu Derek Shepherd, e eu a odiei para um senhor caralho.

Piso no acelerador da Barbie com cautela, nunca ultrapassando a velocidade limite, por maior que seja a vontade de afundar o pé no pedal que ronda em meu coração. Ouço o motor rosnar, assim como o meu ódio.

Meu peito troveja no peito. Ainda com gotas de suor escorrendo ao longo do pescoço, álgidas como o gelo, viro o volante pela marginal para chegar na porcaria do restaurante que ele quer, porque a princesa da Disney não pode escolher um restaurante de pessoas normais, um restaurante que normalmente tem no catálogo do Ifood e não obriga secretárias a atravessarem a cidade. Xingo outra vez, mentalmente, o menino vingativo de dez anos que, aparentemente, é o meu novo chefe.

Sou como uma porcaria de um mestre pokemon, de um chefe velho e abusivo evolui para um chefe ranzinza e vingativo. Sinto-me ótima, muito obrigada.

Pego a rota da esquerda, quebrando alguns caminhos até chegar no estacionamento exclusivo da D'Angello. Aciono a marcha ré para colocar-me corretamente dentro do pequeno espaço, entrando na vaga com o auxílio do espelho retrovisor. Vadia sim, mas uma péssima motorista? Jamais.

Saio da Barbie sentindo o fogo soprando pelas ventas, as chamas ardentes do meu ódio, em sua forma mais pura, batendo contra a inocente porta do carro. Barbie é totalmente isenta de quaisquer crimes exercidos contra a minha pessoa, mas acontece que esse é o Brasil, e alguém sempre tem que pagar a conta. Depois disso, caminho pela grama fofa que enfeita a frente do D'Angello. Até a porra do gramado desses restaurantes grã-finos são chiques — penso, chutando uma tapinha de garrafa com o bico do salto.

Ah, mas se o meu amadíssimo CEO quer comer um Fettuccine, hoje ele vai comer a porcaria do melhor Fettuccine de toda a sua vida. Decidida, entro no restaurante grã-fino com a cabeça erguida, assim como Dona Aurélia faria. Nas manhãs que se seguiam a noite de baile, quando vovô ainda era vivo e dançava com todas as senhoras do salão em vez somente com ela — porque vovó era péssima em dividir o seu parceiro — naquelas manhãs, seu nariz estava sempre empinado e o café, coado em uma de suas cuecas. Claro que não foi surpresa nenhuma, meses depois e ainda de luto, que vovó conheceria Trudi e ambas se apaixonariam à primeira vista.

Mas Félix ainda não estava a esse nível, ainda não teria o seu café coado pela minha calcinha. Talvez eu usasse uma de Tonico, considero junto da pequena diaba verde.

Atravesso um longo corredor sobre um carpete finíssimo de lã indiana, em um escabroso verde musgo que mais parece o coco de bebê, o qual provavelmente deve custar uns três apartamentos meus, pagos todos avista. Franzo o nariz formando um bico com os lábios, tentando ignorar a escultura de um porco cuspindo água em uma fonte, ele todo forjado a ouro, bem ao lado do maitre da entrada. É aqui que o filho da puta compra seus lanchinhos para o almoço? Não esperaria menos do Rei Salomão.

Sou recebida por um senhor muito bem-disposto, provavelmente achando que sou uma das muitas riquinhas da alta sociedade, mas em sua defesa, hoje estou fantasiada igual essas ornitorrincas.

Engulo seco, sentindo o ranço do lugar descer rasgando a garganta.

Todos me atendem super bem quando descobrem que é um pedido do Rei Salomão e, enquanto a maioria parece estar a horas esperando por suas refeições, o meu chá de cadeira não dura nem vinte minutos. Não que isso ajude a diminuir com a minha fúria assassina.

Pago sua refeição junto com uma extra, que pedi para eu mesma, afinal de contas sou filha de Deus também, e não ouvi nenhuma virgula sobre não ganhar um almoço ou morrer de fome. Se não ouvi, não recebi uma negativa. É assim que funciona.

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