A felicidade está nas pequenas coisas, mesmo no meio do caos.

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Pingo sentiu medo mais uma vez e como fazia sempre, fechou os olhos, prendeu a respiração e tentou acalmar seu coração, não tinha nada mais a fazer, a não ser esperar.

Sentia-se dominado pela pressão da água, seguindo o caminho das tubulações, sentia que dava voltas, que passava por espaços amplos e depois nem tanto. Será que sua aventura tinha acabado naqueles encanamentos escuros? Onde será que iria parar? A espera era angustiante, mas Pingo não tinha pressa, tinha medo! Medo de ser sugado pela terra seca ou simplesmente deixar de existir. Continuou de olhos fechados, esperando o que o aguardava.

Percebeu que a pressão da água diminuiu, era uma subida, estava subindo devagar, ele abriu ou olhos e não conseguiu enxergar nada, continuava preso nos canos da tubulação.

De repente foi jogado com bastante impacto num grande reservatório. Era uma caixa d'água gigante. Era uma caixa de distribuição. Dali a água seria distribuída para toda aquela região.

Era tudo muito novo para Pingo, ele não conhecia aquela realidade. Ele teve medo de ficar preso ali para sempre. O lugar era grande, mas era tão escuro!

Ainda com muito medo, Pingo foi acostumando a pouca claridade e pode ver o céu, as nuvens... Seu passatempo era olhar o formato que as nuvens tomavam com o vento. Elas passavam, se transformavam, e Pingo pensou: " Deve ser muito legal ser nuvem. Você vai de um lugar para o outro sem se preocupar em ficar preso. A nuvem é livre para ir aonde quiser e ainda ver tudo de cima. É como se estivesse sempre em um camarote, assistindo o que se passa aqui embaixo de um lugar privilegiado."

Ele sentiu um vazio no peito e pela primeira vez sentiu inveja. Ele queria ser a nuvem. Estava triste e não conseguia pensar direito. Olhava o céu azul, as nuvens continuavam o seu caminhar, as vezes estavam enormes, pareciam montes e montanhas, ficam brancas como algodão, escureciam às vezes, iam embora, se desmanchavam, ficavam menores. Pingo passava a maior parte do tempo no escuro, não queria ver as nuvens se divertindo daquele jeito enquanto ele estava ali preso!

Escutou algumas vozes. Ele conhecia o ser humano. os havia visto na nascente onde tinha nascido. Mas o que o ser humano fazia ali? Ele não entendia. Curioso prestou atenção e chegou a conclusão óbvia, aquela prisão, a caixa d'água, era uma invenção do ser humano, para facilitar o seu dia a dia. Então Pingo lembrou que o ser humano vivia interferindo na natureza para o seu puro conforto: mudava a correnteza do rio, represava a água, para usar quando e como quisesse... Derrubava as árvores para usar a madeira nas construções de suas casas...

Foi então que mais uma vez houve uma turbulência, uma agitação, um movimento brusco e Pingo se viu mais uma vez em movimento. Dessa vez não sentiu medo mais sim uma ansiedade, onde será que ele iria parar agora?

De volta às tubulações, escuro, escuro, escuro... Barulho de gente, depois de muito tempo! Eram crianças brincando! Pingo deu um pulo e ficou todo animado, lembrava das crianças brincando, sorrindo, pulando nas poças de água na nascente. Esperou um pouco e tchimbum!!!! Que alegria!

Nó em Pingo d'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora