A semana de aula se passou sem nenhuma novidade. Alguns alunos tomaram coragem de vir falar comigo e descobri que muitos jovens ali não eram caipiras supersticiosos, mas mesmo assim, não conseguia gostar de ninguém mais do que o coleguismo mandava.
Uma garota chamada Aubrey Vernon fazia algumas disciplinas comigo e parecia ter encarnado em mim como se eu fosse sua irmã. Nas aulas de literatura, geografia, história e física ela sentava ao meu lado e não parava de falar até os professores chamarem a turma à ordem.
Seu falatório desenfreado, por um lado, me deixava mais calma. Era bom saber que alguém se importava em falar de qualquer assunto banal comigo.
A sexta-feira chegou e eu acordei antes do despertador tocar. Sentia que o objeto se tornava obsoleto no meu quarto, já que Salem estava arruinando meu relógio biológico, principalmente meu sono e minha fome.
Patrícia me levara à escola durante toda a semana, mas eu via nela o sacrifício de ter que desviar o caminho de seu trabalho tão amado. Quando desci para tomar café, vestindo jeans, tênis, uma blusa fina por baixo de um grosso casaco preto ela já tomava seu café da manhã.
Eu enrolei para tomar minha xícara de café enquanto pensava em como abordar o assunto com minha mãe.
- Mãe... – pigarreei e ela me olhou, perdi a coragem de tocar no assunto, mas Patrícia sempre era obstinada quando ficava curiosa.
- Diga Joanne.
- Mãe... eu bem... precisava que a senhora assinasse minha agenda escolar, o professor Abrasimov me deu uma detenção na segunda-feira. – Senti meu rosto corar.
Patrícia me olhou por um longo minuto, então ela soltou a colher. Mau sinal.
- Uma detenção por qual motivo?
- Bem... eu meio que fui rude com o professor. Ele queria que eu me apresentasse à turma e acabei me sentindo oprimida e disse que minha vida não era da conta dele...
Patrícia me olhou chocada e um tanto preocupada. Eu sabia o que se passava na mente dela, os olhos dela nunca conseguiam disfarçar o que ela estava sentindo. O medo que toda mãe sentia quando perdia o marido. Ela achava que eu ia surtar depois da morte de meu pai e eu não poderia contestá-la, talvez fosse exatamente isso.
Patrícia pegou minha agenda que eu colocara sobre a mesa e leu o bilhete do professor com certa descrença, então assinou sem falar nada e voltou a pegar a colher. Senti que o pior já tinha passado e suspirei aliviada.
A viagem até a escola foi silenciosa, eu não me atrevi a quebrar o silêncio incômodo, enquanto Patrícia dirigia com pensamento longe dali. Quando chegamos à escola eu desci e comecei a caminhar sem olhar para trás. Odiava decepcioná-la.
Uma chuva fina fazia meus cabelos ficarem cheios de orvalho, eu corri para dentro do prédio, de repente animada, pois enfim teria aula com a professora Brown. Ela era um mistério para mim e eu queria poder vê-la novamente e olhar aqueles olhos profundos e entender como aquela mulher poderia aceitar sua morte com tanta tranquilidade.
As primeiras aulas se passaram indistintas. Na hora do almoço eu seguia Aubrey até o refeitório que já estava cheio. Ela tagarelava sobre os meninos da escola, principalmente, como pude perceber, sobre Edward Jackson. Eu jamais daria minha sincera opinião por medo de ferir os sentimentos dela, mas achava que ela podia gostar de um garoto melhor.
Entramos na fila para comprar o lanche e enquanto esperávamos nossa vez uma sombra foi lançada sobre mim. Fechei os olhos sem me virar. Por algum motivo senti o cheiro conhecido do meu professor de biologia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Maldição de Salem
FantasyJoanne Adams é uma garota normal de 17 anos. Ela se muda de Nova Iorque para Salem em Massachusetts. Cheia de preconceitos pela superstição do povo de Salem quanto às bruxas, Joanne se vê presa numa história cheia de magia e perigos, muito mais mist...