CAPÍTULO 11 - CUIDADO COM SEUS PENSAMENTOS

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A noite não foi longa suficiente para que eu conseguisse ler o livro de Rituais para Criaturas. Além de ser um exemplar particularmente grosso, eu precisava reler cada frase duas vezes para entender o que estava escrito.

Era uma leitura estranha e pesada, mas minha curiosidade estava aguçada demais, quase como se tivesse sido esticada ao seu extremo. Eu tinha em mãos algo que uma pessoa como eu não deveria ter. Agora eu sabia de coisas que não deveria saber. E eu estava tremendamente feliz e satisfeita com isso.

Eu não era mais uma ignorante.

Enquanto lia, meus pensamentos disparavam em alucinações que eu sempre quisera reprimir. Minha mente estava descontrolada. Parecia que meus olhos antes estavam cegos e de repente eles enxergaram o sol pela primeira vez. Eu tinha certeza de muitas coisas absurdas agora.

Primeiro, eu já tinha certeza dessa, mas agora eu enxergava de forma diferente. Vladmir não era humano. E era por isso que ele se mantinha tão afastado de mim. Estava protegendo a mim e a seu mundo. Ele não me odiava, apenas estava sendo cauteloso.

Segundo, Millie também não era humana, mas ela não tentava me evitar, pelo contrário, sempre parecia feliz demais quando eu aparecia, como se eu fosse um presente de natal. Eu iria investigar o porquê disso.

Terceiro, a namorada de Vladmir sabia de tudo, mas não porque ele contou e sim porque ela também não era humana. Pensei por um momento e balancei a cabeça. Nenhum humano teria a capacidade de controlar Vladmir.

Quarto, magia existia de fato e eu não fazia ideia de como entender isso. Será que eles usavam varinhas mágicas como nos filmes de Harry Potter ou era mais algo do tipo "kamehameha" em que só se usavam as mãos?

Eu sentia o absurdo de tudo isso e cada célula do meu corpo protestava, como se estivessem tentando evitar que eu enlouquecesse, fazendo-me duvidar das coisas que estavam sendo esfregadas na minha cara.

Uma pessoa normal teria devolvido o livro, ou melhor, nem o pego teria. Mas, eu não podia ser classificada como uma pessoa normal, não mais. Eu era uma garota que estava apaixonada – agora eu sabia disso também – por um homem que nem humano era, que possivelmente possuía idade para ser meu avo ou, na melhor das hipóteses, meu pai.

Muitas palavras que estavam no livro eram desconhecidas para mim. Eu comecei a anotar essas palavras fazendo uma lista na última página do meu caderno, depois iria pesquisar na internet.

O buraco em meu peito agora parecia rugir. Como se estivesse zangado por eu não dar mais tanta atenção a ele, ele me feria e queimava mais forte do que nunca, mas eu o ignorei. Iria deixar para me desfragmentar na hora de dormir.

Eu estava um tanto confusa. Pelo que entendi se é que eu entendia alguma coisa, Vladmir e Millie eram bruxos. Mas, a minha percepção de bruxos era muito diferente e maculada por livros e filmes que eu assisti. Millie não era uma anciã curvada e nariguda, com uma verruga cabeluda na ponta do nariz. Nem ambos usavam mantos negros que escondiam seus rostos nas sombras.

Então com que tipo de bruxos eu estava lidando? Balancei a cabeça rindo ao olhar o teto com a pergunta absurda, mas os músculos das minhas bochechas protestaram com o movimento nunca mais usado.

E certo. Vamos supor que eles realmente eram bruxos. Eu deveria dizer a eles que sabia ou isso seria muito maluco? E também, será que eu realmente me importava com o que quer que eles fossem? Balancei a cabeça novamente. Eu não me importava, sabia disso. Eu só queria saber a verdade mesmo. E agora que eu sabia, ou acha que sabia, estava mais calma. Esta decisão já estava tomada há tempo.

A Maldição de SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora