CAPÍTULO 7 - TRABALHO, TRABALHO, TRABALHO...

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Camii Lisboa

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Com um pequeno estalido eu aparecera num beco escuro e sujo de Nova Iorque. A noite já havia caído e a rua estava quase silenciosa. Eu estava positiva. Acabara de advertir um problemático e ele parecia ter sido receptivo ao meu aviso.

Ajeitei meu vestido e comecei a caminhar pelo beco nos saltos altos que usava. Quando me livrei dos prédios altos que me tapavam a visão, olhei o céu. A lua estava escondida entre as nuvens lançando um brilho sobrenatural. Eu suspirei. Mais um dia chegava ao fim.

Atravessei a rua deserta, a não ser por alguns mendigos que procuravam comida nas latas de lixo dos luxuosos prédios comerciais que se estendiam como um mar pontiagudo desafiando o céu. Alguns me olharam curiosos outros envergonhados. Um deles se aproximou com um sorriso sem dentes e malicioso no rosto.

- Oi docinho. Tem uma moeda para um pobre religioso? – a voz dele era animada, mas seu hálito de álcool fez com que eu me afastasse.

- Não, eu não tenho, saia de perto de mim. – eu disse com certa ferocidade.

O homem se limitou a rir e cambalear me seguindo. Essa era a visão noturna de Nova Iorque que seus habitantes ignoravam. O centro devia estar cheio de jovens bem vestidos e bêbados, que se divertiam, alheios à pobreza que circundava suas vidas.

- Qual é docinho? Eu estou sendo honesto, vou comprar pinga. Está frio, tenha dó. – ele disse rapidamente quando lhe lancei um olhar severo – O álcool ajuda a esquentar o corpo, só jornais não vai me salvar de morrer congelado.

Suspirei e parei na calçada, olhando a pilha de sujeira que me olhava esperançoso. Puxei algumas moedas do bolso e estendi para ele que colocou a mão sob a minha, sem me tocar, para receber o dinheiro.

- Deus te abençoe, moça. – ele disse alegre com o tanto de moedas que recebera – A senhorita é realmente muito bondosa.

- Compre comida também, só pinga não vai te salvar da morte. – eu disse friamente.

Ele sorriu e assentiu, depois saiu apressado com medo que eu pedisse as moedas de volta. Continuei minha caminhada até um prédio, todo espelhado. A porta giratória nunca era travada, independente da hora do dia ou da noite. Olhei o relógio em meu pulso que marcava onze e quarenta da noite.

Passei pela porta giratória, indo em direção a uma recepção moderna e luxuosa. Um guarda com uniforme azul-escuro estava sentado atrás de um balcão de mogno, com as pernas apoiadas nele, as mãos cruzadas na barriga e o quepe caído sobre o rosto. Ele ressonava confortavelmente.

Aproximei-me dele e parei em sua frente, minha aproximação não o fez acordar, ele ainda deu um pequeno ronco. Revirei os olhos e bati com a mão na madeira fazendo eco na sala.

- Não lhe pagamos para dormir, Steve!

Steve acordou num pulo assustado, seus olhos se arregalaram a me ver em sua frente. Rapidamente ele tirou os pés do balcão e se levantou, passando a mão no rosto inchado.

- Srta. Lisboa, desculpe, desculpe. Acabei caindo no sono. Douglas não tem me deixado dormir.

- Não me importo se seu filho não respeita o horário de sono dos pais, faça seu trabalho direito.

O homem empalideceu e assentiu várias vezes. Eu me dirigi ao elevador, quando me virei encarei o homem de forma severa, enquanto as portas se fechavam. Apertei o botão que me levaria ao trigésimo sexto andar.

A Maldição de SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora