CAPÍTULO 1 - RECÉM-CHEGADA

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Olhei com desanimo para o sobrado enorme e vazio que se erguia na minha frente. As nuvens no céu se juntavam de um modo opressor prometendo uma chuva pesada. Minha mãe descarregava as coisas do carro, enquanto homens da companhia de mudança descarregavam nossos móveis o mais rápido possível, antes que a água começasse a cair.

Algumas cortinas, das casas da frente, estavam puxadas para o lado e por onde eu olhava havia pares de olhos me avaliando. Suspirei olhando para o céu e me perguntando como diabos eu havia parado ali.

Meu nome é Joanne Adams, tenho 17 anos e acabo de me mudar de Nova Iorque para uma cidadezinha minúscula chamada Salem, no Estado de Massachusetts. Foi difícil deixar meus amigos e o agito da grande cidade para começar a viver numa cidade monótona e cheia de preconceitos.

- Filha, pode entrar e escolher seu quarto. – minha mãe disse enquanto tentava equilibrar três malas enormes nos braços.

Minha mãe se chama Patrícia e ela é uma mulher guerreira. Apesar de ser um pouco atrapalhada, sempre está fazendo alguma coisa para se ocupar. Também trabalha bastante e foi o trabalho dela que nos trouxe para Salem.

Eu olhei para ela e sorri, mas senti que era o sorriso errado, mal aparecia meus dentes. Minha mãe percebeu meu estado deprimente e suspirou.

- Você vai se acostumar. Sei que tem boas lembranças de Nova Iorque, mas pode criar boas lembranças aqui também. Só que isso requer um pouco de esforço da sua parte.

- Sei disso, mãe. – eu respondi e fui ajuda-la com as malas.

Enfim entrei na casa. Confesso que perto do nosso pequeno apartamento, a casa era enorme. Possuía três quartos, dois deles com banheiro próprio, sem falar numa sala muito grande e uma cozinha que parecia pertencer a um famoso de Hollywood.

Eu escolhi o quarto dos fundos, pois a vista da janela dava para uma densa floresta, cujas folhas começavam a avermelhar no outono e também, porque eu não queria ter uma janela de frente para os vizinhos que já se mostravam bisbilhoteiros.

Durante toda a tarde a movimentação dentro da casa foi grande. Eu e Patrícia esbarrávamos nas escadas o tempo todo, com caixas nos braços, bolsas, malas e objetos que não haviam sido embrulhados.

No fim do dia estávamos cansadas, suadas, vermelhas, mas com a sensação de dever cumprido. A casa começava a parecer um lar e eu tentei não deixar meu mau humor acabar com o espírito animado de minha mãe.

Agora que tinha meu próprio banheiro podia ter a privacidade que sempre desejei em Nova Iorque, ainda mais sendo apenas duas mulheres na casa no momento. Meu pai falecera há alguns meses, isso ainda me perturbava, pois ele se foi subitamente e eu ainda não entendia o que havia acontecido de fato.

Enquanto minha mãe abria uma garrafa de vinho e se sentava no sofá eu parti para o segundo andar dando a desculpa de que precisava urgente de um banho, mas na verdade eu queria ficar sozinha para poder chorar, fazer caretas e beicinhos e me lamentar, sem os olhos afiados de Patrícia em mim.

Enquanto a água quente corria pelo meu corpo eu tentei, desesperadamente, me convencer de que não era tão ruim. A casa era boa, a cidade tranquila, minha mãe estava se dando bem em seu emprego de gerente financeira, porém, eu me preocupava muito com a escola.

Em Nova Iorque os jovens eram bem diferentes dos de Salem. Eu sentia isso antes mesmo de conhecê-los, pois a vida em Salem era completamente diferente de Nova Iorque. Eu sabia que todos deviam se conhecer desde criança, assim como seus pais e avós. Eu seria a aberração, o novo freak show da cidade.

A Maldição de SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora