CAPÍTULO 10 - LUTO

41 1 0
                                    

Joanne Adams

------

Novembro...

Dezembro...

Janeiro...

Fevereiro...

Março...

Eu definitivamente tinha desistido de tudo. Não queria mais saber sobre maldições, bruxas, Millie, Vladmir, Patrícia, Martin, Colin, Aubrey, escola, faculdade, nada...

Deitada na minha cama eu parecia uma catatônica. Ainda não conseguia entender como eu pudera me colocar, tão perigosamente, naquela situação. Era humilhante pensar que eu me convenci de que poderia ter algum tipo de relacionamento com Vladmir. Eu não poderia culpa-lo. Ele dera todas as pistas de que não estava interessado, mas saber que ele possui uma namorada ainda dói. Ainda mais aquela namorada.

A namorada do meu professor de biologia era uma mulher linda e que parecia ter um controle impecável sobre Vladmir. Eu me lembrava dela. Ela estava na biblioteca no dia em que eu comecei minhas pesquisas. Senti vergonha ao imaginar que já dava a entender que sentia muito mais pelo ogro do que eu gostaria de admitir e demonstrar. Ela estava me seguindo.

Depois do que acontecera na festa de Halloween eu fui para casa. Colin, apesar de estar zangado comigo, insistiu em me acompanhar e depois voltara para sua casa andando, eu nem sabia onde morava.

A primeira semana foi insuportável e eu queria morrer. Consegui entender porque Millie não sentia medo da morte. Talvez, ela também achasse que o fim de tudo fosse bem-vindo. Eu não saía do quarto, nem para comer, levantava poucas vezes da cama. Patrícia entrou num pânico silencioso, tentava me empurrar algum alimento, mas eu não comia. Ao quinto dia já sentia meu corpo fraco e nem sentia mais fome.

Minha preocupada mãe ligou para a escola questionando o que havia acontecido para que meu comportamento mudasse tão repentinamente, mas a direção desconhecia o motivo.

Do quarto, eu ouvia Patrícia falando no telefone. Ela tentava sussurrar, mas às vezes não conseguia controlar o tom de voz. Meus amigos da escola ligavam para ter notícias minhas. Aubrey era a mais insistente e lá no fundo eu me sentia mal por deixa-la tão preocupada, até me lembrar de que eu não me importava mais.

Pode parecer ridícula a minha reação. Meu professor bem mais velho era comprometido. Grande bosta. Mas, eu não conseguia me livrar do peso no peito, da dor nos olhos, da depressão que me consumia como se eu estivesse em chamas por dentro.

E não era somente isso. Durante minha semana "em repouso" eu, deliberadamente, havia transgredido regras que nunca imaginei. Na segunda noite após meu coração ser arrancado do peito eu abri meu armário e puxei uma tábua da parede que era solta. Lá eu guardava alguns dos meus "tesouros". Puxei um pequeno cigarro de maconha, escapulindo de madrugada pela janela e me sentando no telhado dos fundos, olhando a floresta escura e o céu mais escuro ainda. Fumara naquela noite por rebeldia. Eu queria ser irresponsável e idiota.

Sabia que era muito arriscado com Patrícia dormindo no quarto da frente, entretanto, sabia também que ela nunca sentiria o cheiro e mesmo se sentisse ela não poderia imaginar que eu era a responsável. Eu sentia prazer em ser irresponsável, ainda mais com Patrícia colocando um cabresto em mim.

Foi naquela noite em que eu fiquei tão chapada e que a dor atenuou um pouco que eu tive meu momento de epifania. Lembrava muito bem da passagem no site que falava sobre a família de Millie, que eu lera parecia há séculos. "As pessoas tendem a ver apenas o que querem ver, muitas vezes deixando passar a verdade absoluta por sua completa ignorância".

A Maldição de SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora