Vladmir Abrasimov
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Ótimo. Agora eu tinha mais esta preocupação para me ocupar. Às vezes tenho a impressão de que eu pago um preço muito alto pela imortalidade. Se já não bastasse ter que ver todas as pessoas que conheço morrendo, agora tinha uma mortal que queria ser um monstro.
Aquela menina tem um parafuso solto na cabeça.
Sentado na sala de estar de Millie eu tomava meu conhaque, enquanto mergulhava em pensamentos cada vez mais insuportáveis. A casa estava silenciosa desde a morte repentina de Alan.
Não que poder ter Joanne no meu mundo não fosse algo que me agradasse, pelo contrário, isso iria acabar com o nosso maior problema. Porém, novos problemas surgiriam se eu permitisse isso. Não que a decisão fosse minha.
Joanne estava convicta de que seria um ser sobrenatural. Ela pensava que isso era algo bom, legal, animador, quando na verdade ela estaria abrindo mão de algo muito importante, pelo menos para mim, sua vida.
Eu não poderia permitir isso.
Conseguia ouvir Millie no andar de cima contando para Joanne tudo o que se sabia sobre nosso mundo e nosso segredo. Eu pressentia que isso não ia prestar. A garota estava decidida a saber de tudo antes de decidir que tipo de criatura se tornaria.
Um sorriso grotesco apareceu em meus lábios. Tantos de nós odiávamos ser o que éramos e aquela ingrata estava escolhendo o monstro que seria como se escolhesse que roupa usar.
Joanne estava passando o final de semana na casa de Millie. É assustador como as mulheres conseguem mentir tão descaradamente. Muito me surpreendeu ver Millie mentindo com tanta naturalidade para a mãe de Adams, tanto que me senti desconfortável.
Agora eu tinha que aturar dois dias inteiros junto com Joanne. Ela estava me encurralando cada vez mais, intencionalmente ou não. Claro que eu poderia ir para minha casa, mas só de pensar em deixar aquelas duas sob o mesmo teto me dava palpitações.
Olhei para a escada ao ouvir passos arrastados vindos de lá. Já sabia que era Joanne, pois Millie tinha passos elegantes e suaves. Joanne parecia mais um mamute com dor nas pernas.
A garota desceu parecendo muito cansada e então se jogou no sofá ao meu lado suspirando. Automaticamente eu me encolhi para mais longe. A proximidade que Joanne tinha comigo, o quão a vontade ela parecia estar ao meu lado me intimidava. Em geral, os humanos não se sentiam confortáveis perto de mim.
Ela se espreguiçou e enrolou os cabelos com uma praticidade que me dava nos nervos, então me olhou e sorriu.
- Parece que viu um fantasma. – ela me disse.
- Não sei do que está falando. – eu respondi de forma grosseira e desviei os olhos, procurando por Millie para me ajudar.
Joanne seguiu meus olhos e se acomodou mais no sofá.
- Millie foi tomar um banho.
Meus olhos se encontraram com os dela. Ela sorria de uma forma afetada, mas parecia chateada com alguma coisa. Senti minhas sobrancelhas se unirem. Eu não sabia dizer se eu estava aborrecido mais com a garota do que comigo. Joanne me confundia com suas expressões e beicinhos e isso me irritava. Mas, eu ficava mais irritado ainda por me interessar em seja lá o que ela pudesse estar pensando. Resmunguei alguma coisa.
- O senhor devia falar com ela, sabe? – Joanne provocou.
- Do que está falando?
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A Maldição de Salem
FantasyJoanne Adams é uma garota normal de 17 anos. Ela se muda de Nova Iorque para Salem em Massachusetts. Cheia de preconceitos pela superstição do povo de Salem quanto às bruxas, Joanne se vê presa numa história cheia de magia e perigos, muito mais mist...